sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Le Kulam!


Shabat Shalom!



לכי תספרי לכולם
(Vai e diz para todo o mundo)

Pinturas de Pinkhas

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Cartas de Lisboa | Pekudei



Pekudei



Com a parsha da Torá desta semana concluímos a leitura 
do livro de Êxodo/Shemot.


Depois de lermos instruções detalhadas de como construir o "Mishcan" – o Tabernáculo, o verso refere a conclusão dos trabalhos.

"A glória do Senhor encheu o Mishcan."
(Shemot 40:34)

O Midrash diz-nos que no contexto da narrativa da construção do Mishcan se podem encontrar muitos paralelos com a história de "Bereishit," a criação do mundo. As luzes da Menorá e a separação feita pelas cortinas espelham as luzes e a separação das águas ocorrida durante a criação.


Tal como a criação foi um processo que durou seis dias culminando no Shabat, também a inauguração do Mishcan durou uma semana inteira.




Dom Abarbanel, ao discutir esta ideia retira outra ilação destas semelhanças. Tal como a história da criação não deixa duvidas sobre o envolvimento Divino, desde as orbitas celestiais aos movimentos de toda a criação, o mesmo acontece com o Mishcan.



Ainda que o Mishcan tenha sido construído por pessoas de extraordinários talentos, o Mishcan e os seus construtores sentiram-se sempre ligados a D-us, reconhecendo a Sua presença entre eles.


O verso diz,

“Quando a nuvem se levantava … os Filhos de Israel partiam nas suas viagens, mas se a nuvem não levantava, eles não partiam …”
(Shemot 40:36-37).

O Povo Judaico apenas viajava quando D-us dizia que a hora tinha chegado. 


O que na realidade tornou o Mishcan completo foi a dedicação e o reconhecimento do seu propósito, ou seja, fazer D-us parte integrante da nossa vida e das nossas constantes viagens.



Ainda que não tenhamos hoje em dia um Mishkan ou um Beit Hamicdah (Templo) na sua dimensão física, ainda assim sempre devemos esforçarmos para garantir que cada uma das nossas viagens corresponde ao que D-us quer que nós levemos a cabo.

Ao tal fazer, garantimos que Ele estará connosco em cada passo do nosso caminho.



Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld

chabadportugal.com
Shabat Shalom!


Imagens:

1ª imagem -  Pintura de Bracha Lavee -“Tabernacle”
2ª imagem - Retirada da Chabad
3ª imagem - Pintura de D’Anastasio Michel – “Séparation des eaux sur terre”
4ª imagem - Pintura de  Julie Wohl
5ª imagem - Não consegui apurar o autor
6ª imagem - 6ª imagem - Barkai Yeshivah drawing – Enviado pelo meu amigo Dan Okon

O Artista Aristide Brodeschi.





(Foto de Aristide a receber o titulo de cidadão honorário)


O Artista Plástico desenvolve trabalhos em diversas técnicas como pintura (óleo e acrílico), gravura em metal, litografia, xilogravura, desenho, aquarela e tapeçaria.




Pintor, desenhador, gravador, tapeceiro e arquitecto. Após sua graduação como arquitecto, na Faculdade de Arquitectura de Bucareste/ Roménia, em 1970, desenvolve projectos para complexos industriais na área de electrónica e electrotécnica. Entre 1976 e 1978 reside em Israel, onde trabalha com projectos arquitectónicos e paisagísticos para a cidade de Jerusalém.

Na década de 1980 abandona a arquitectura, dedicando-se às pesquisas nas áreas de tapeçaria, gravura e pintura.



Nas suas primeiras experiências em arte-têxtil, embora presas aos processos tradicionais, já denotam sua ligação com a natureza. Sem abandonar a preocupação ecológica, a partir de pesquisas feitas com tear de pente evolui para a tapeçaria-objecto ou tapeçaria-escultura – servindo-se das cores naturais dos materiais. Começam, assim, a surgir objectos tridimensionais, que sugerem entrelaçamento de raízes e troncos, vegetais e animais. Abandonando a visão europeia, procura criar com “olhos novos” a tecelagem indígena e o habitat de sua terra de adopção. 





Na pintura, evolui de uma visão pós-impressionista para o pós-fauvismo. Sem abrir mão da figuração lírica, a sua temática concentra-se na lúdica infantil. Inspirando-se no quotidiano de seus filhos, as suas personagens principais são crianças correndo, andando de bicicleta, dançando ou em múltiplas brincadeiras em parques de diversão. 



Inicialmente a sua obra caracteriza-se pelo toque solto e a densidade da pincelada tipicamente impressionista.


Em 1987, em individual na Galeria do Inter, passa a tratar a tela mediante massas vibrantes de cores e luzes. No mesmo ano, na Mostra Parcerias, já se observa uma profunda modificação no seu trabalho, que se aproxima de um pós-fauvismo que nada tem a ver com os Nouveaux Fauves alemães, americanos e franceses dos anos 1980.



A escolha das obras foi feita por mim, que escolhi as que mais gosto e que não segue com rigor o percurso deste artista. J


Retoma o grafismo – instrumento essencial do arquitecto – mas fá-lo com uma liberdade extrema. A linha negra, na realidade, acentua a vibração das cores.
Na exposição Jogos de Espelhos, promovida pela PUCPR em 1991, adoptando a temática crianças que brincam em parques de diversões e selecciona a Série de Carrosséis. 







 Embora se perceba por trás da planificação segura do espaço a mão do arquitecto, sente-se também o poeta que, por meio das cores e da maneira sui generis de compor este mesmo espaço, é capaz de transformá-lo em magia. Além da forma circular predominante, percebe-se nessas composições, uma nítida tendência ao triangular. As cores e os toques vibrantes materializam os sons dos parques de diversões e os estímulos visuais que as crianças recebem pela TV. 

Esta vibração é acentuada mediante o jogo feérico dos espelhos no centro dos carrosséis. Em seus reflexos mágicos estão presentes não só a dinâmica das próprias brincadeiras, a sucessão rápida das imagens que constantemente se metamorfoseiam, mas também o símbolo da alegria solar da infância, capaz de triunfar não só contra a cega sociedade de consumo como também contra a ameaça de destruição que paira sobre a humanidade na era pós-nuclear. 




 


Na área da pintura mural, uma de suas experiências mais significativas é o mural alusivo ao Centenário da Imigração Judaica, instalado no salão nobre do Centro Israelita do Paraná,em 1990. Nele, o artista inspira-se na Série de Navios Imigrantes de Lasar Segall, para narrar a saga dos judeus vindos ao Brasil. Em sua leitura da travessia, incorpora elementos do paranismo, transformando a imagem dos candelabros judaicos em pinheirais. 


No conjunto da sua obra, Aristide Brodeschi é um artista que tem um amplo domínio do vocabulário pictórico, capaz de criar um clima ao mesmo tempo dinâmico e poético.






Aristide Brodeschi
deseja-vos:

Shabat Shalom! 

Fonte:
Aristide Brodeschi

Ver mais:




O homem tira e D'us dá de novo!




Aristide Brodeschi


Nasceu em Bucareste, Roménia e em 1978 parte para o Brasil, mais propriamente para Curitiba onde reside até hoje.


Este artigo foi feito com a autorização e o apoio total do próprio artista a quem eu pedi que me permitisse partilhar não só a sua arte, mas também a sua história. E o Aristide teve a gentileza de partilhar comigo as suas raízes…Mas para mim, foi uma daquelas vezes em que a resposta nos deixa com um enorme nó na garganta e um aperto no peito. E aqui quem respondeu, foi o homem que eu via apenas como um artista:



O meu pai nasceu em Cetatea Albă (1907), Bessarábia, hoje Belgorod-Dnestrovski, Ucrânia. A minha mãe nasceu em Brăila (1914) Roménia. Eles foram viver na cidade natal do meu pai onde nasceu a minha irmã (1941).


Foi na Bessarábia que os três foram surpreendidos pelo avanço das tropas alemãs que vieram acompanhadas das unidades especiais para o extermínio dos judeus nas áreas conquistadas -"einsatzgruppen".



Esta é a minha irmã, a Mariana, uma pequena heroína que sobreviveu à perseguição nazi perpetrada por "Einsatzgruppen" na Transnístria. Hoje, o seu filho é um excelente engenheiro israelita.


Mas vou agora relatar-lhe dois episódios de horror de 1942 que tanto impactaram a minha família:

O meu avô foi enforcado num poste de iluminação pública nas ruas de Odessa e logo depois foi encontrado pelo meu pai. A minha avó foi fuzilada e jogada numa vala comum nos arredores da mesma cidade em lugar ignorado.

Fui testemunha durante a infância e a juventude de que meu pai nunca se recuperou do trauma sofrido. Lembro-me de quando era garotinho e passeava tranquilamente, de mãos dadas com meu pai; de repente ele saía em disparada, com uma expressão de raiva, ainda me segurando firme, quase arrancando meu braço, algo inexplicável então para minha tenra idade. 



O nosso sobrenome era originalmente Brodsky, mas ele foi "maquiado" para o romeno.


E por fim, envio-lhe as fichas extraídas dos arquivos do YAD VASHEM referentes aos meus avós.”


Muito obrigada Aristide por esta partilha, acredito que não tenha sido fácil falar sobre a tragédia que se abateu sobre a sua família. Na verdade, fiquei sem palavras. 
Que Hashem permita que descansem em Paz!

Era minha intenção fazer um trabalho com as obras do Aristide intercaladas com a história do seu percurso artístico. Mas decidi dividir este artigo em dois, um dá-nos a conhecer o Homem e o outro, o Artista, obviamente que este 1+1 é igual a um, mas aqui neste espaço, eu vou separa-lo para percebermos melhor.

Adianto-vos apenas que como artista, ele é multifacetado e extremamente talentoso em todos os tipos de trabalho que cria. Aristide transmite-me a inocência, a luz, e uma infância que ele nunca teve, mas que retrata com uma alegria e movimento extraordinários. Mas isso fica para o seguinte artigo.

Resta-me aqui explicar-vos o motivo que me leva a partilhar esta história com todos vós. 

Não é apenas para que seja mais um dentre todos os relatos terríveis relacionados com o holocausto.

Não, faço-o para percebermos que temos a capacidade de mudar a nossa vida e transforma-la em algo belo, temos todos a responsabilidade de pelo menos tentar e de lutar pelo que amamos e acreditamos ser um mundo melhor.


Faço-o para todos aqueles que continuam a usar passado como desculpa de um hoje menos feliz e que choram antecipadamente por um futuro que acreditam à partida que se avizinhará cheio de nada.

Faço-o para que se lembrem que a vida continuou para esta família e acredito (isto são palavras minhas), que também pelos que partiram, o Aristide continuou e lutou por esta paixão da sua vida! E ainda bem que o fez...por ele, pelos seus, e…por nós, que nos alegra a alma com as suas obras.


Pai, mãe, a  irmã Mariana, o  irmão Emanuel e o bebé  é o  Aristide.


Quanto à partilha das suas obras, do percurso e do presente que irei fazer já de seguida, faço-o apenas porque admiro imenso o seu trabalho. J

Deixo agora o meu sincero e sentido agradecimento:
Muito obrigada Aristide pela sua coragem e pelo seu carinho. ZD

Pintura de Aristide Brodeschi 
“O Muro”

Mais uma vila com "Gente da Nação".




FREIXO DE ESPADA-À-CINTA



Vila portuguesa com cerca de 2.100 habitantes, situada na região de Trás-os-Montes.



Supõe-se que a vila seja bastante anterior à fundação do reino de Portugal, pelo menos ao tempo dos árabes ou ainda à época de ocupação romana. É uma terra que se desenvolve desde o início da nacionalidade. Tem foral entre 1155/57 outorgado por D. Afonso Henriques onde se fazia referência ao castelo. D. Sancho II, em 1240, elevou Freixo à categoria de Vila, como recompensa de os seus habitantes se terem defendido heroicamente das invasões do rei de Leão, ao contrário dos de Alva (anterior concelho), que se renderam sem resistência.



No início do século XVI era uma poderosa praça de guerra cercada de muros e dotada de três torres mestras, das quais actualmente só resta uma, de granito, facetada e heptagonal exemplar único na Península Ibérica: a denominada Torre do Galo ou do Relógio. Em 1512 D. Manuel concedeu ao concelho um novo foral.

Fólio do foral manuelino da vila de Freixo de Espada à Cinta, datado de 1512.




O nome da vila é de origem desconhecida, sendo objecto de diversas interpretações. Segundo a lenda, o rei D. Dinis, aquando fundou a povoação, descansou neste local e colocou o seu cinto com a espada no tronco dum freixo, adormecendo à sua sombra. Seja como for, a povoação do Freixo está dominada pela torre que este rei-poeta ordenou construir no século XIV para a defesa do reino.


Freixo de Espada à Cinta albergou uma importante comunidade judaica, reforçada logo a seguir com a chegada dos Judeus expulsos dos reinos de Espanha em 1492, encontrando como primeira porta de entrada a fronteira terrestre isolada de Freixo de Espada à Cinta.



Um possível Aron Kodesh, numa casa de Freixo.



Anos mais tarde, durante o século XVI, o Freixo será a porta de saída para uma parte destes judeus/cristãos-novos para as Índias e as Américas. Assim sendo, encontram-se naturais desta vila entre os navegadores do mar índico e dos missionários da China e do Japão, entre os mercadores ou entre os conquistadores da Nova Espanha e descobridores de minas no Brasil, no México ou Peru.



Brasão de Freixo Espada-à-Cinta



Estes movimentos migratórios de judeus contribuíram para o grande progresso e engrandecimento de Freixo de Espada à Cinta nos séculos XV-XVI.

E será das remessas de capitais desses emigrantes, redes de contactos e investimentos feitos nos descobrimentos Além-Mar que veio o dinheiro para a construção daquelas impressionantes obras públicas e luxuosas moradias de Freixo de Espada à Cinta.


Na cidade velha há cerca de 150 portais ogivais e janelas de estilo manuelino. Para além da decoração típica deste estilo, nas moradias quinhentistas existentes, todas com portadas de granito (material nobre e caro), uma porta larga, em arco, comercial para o piso térreo e outra mais estreita de serventia para o piso habitacional, profusão decorativa..., existe uma quantidade imensa de simbologia judaica, mormente cruciformes.





Com um tecido económico, dominado pela burguesia de raiz judaica, sem descender directamente das grandes famílias aristocráticas, não é de estranhar que não abundem os exemplos heráldicos, que para além dos referentes à vila restam seis exemplares espalhados por edifícios particulares ou religiosos.




Dentre essas moradias da Judiaria de Freixo de Espada-à-Cinta destaca a chamada Casa dos Carrascos, cujo nome procede da família proprietária, com a simbologia heráldica fixada no arco de granito da porta comercial: três ramos daquela árvore, truncados, cada um com quatro galhos, num total de doze, em alusão às doze tribos de Israel. Este feitio decorativo repete-se noutras moradias da vila.



Casa dos Carrascos em Freixo de Espada à Cinta


A janela do segundo andar desta casa está decorada com uma rosácea de seis pontas (como o hexagrama judaico) em meio da data de 1557 e da palavra Zuzarte indicando o nome original da família construtora, elementos simbólicos que indiscutivelmente mostram ter sido casa mandada construir por gente de nação hebraica.



Fontes:
(Por Caeiro)
(Fotos de Vitor Oliveira)