Aristide Brodeschi
Nasceu em Bucareste, Roménia e em 1978 parte para o
Brasil, mais propriamente para Curitiba onde reside até hoje.
Este artigo foi feito com a autorização e o apoio total do
próprio artista a quem eu pedi que me permitisse partilhar não só a sua arte,
mas também a sua história. E o Aristide teve a gentileza de partilhar comigo as
suas raízes…Mas para mim, foi uma daquelas vezes em que a resposta nos deixa
com um enorme nó na garganta e um aperto no peito. E aqui quem respondeu, foi o
homem que eu via apenas como um artista:
“O meu pai nasceu em
Cetatea Albă (1907), Bessarábia, hoje Belgorod-Dnestrovski, Ucrânia. A minha
mãe nasceu em Brăila (1914) Roménia. Eles foram viver na cidade natal do meu
pai onde nasceu a minha irmã (1941).
Foi na Bessarábia que
os três foram surpreendidos pelo avanço das tropas alemãs que vieram
acompanhadas das unidades especiais para o extermínio dos judeus nas áreas
conquistadas -"einsatzgruppen".
Esta é a minha irmã, a Mariana,
uma pequena heroína que sobreviveu à perseguição nazi perpetrada por
"Einsatzgruppen" na Transnístria. Hoje, o seu filho é um excelente
engenheiro israelita.
Mas vou agora relatar-lhe dois
episódios de horror de 1942 que tanto impactaram a minha família:
O meu avô foi enforcado
num poste de iluminação pública nas ruas de Odessa e logo depois foi encontrado
pelo meu pai. A minha avó foi fuzilada e jogada numa vala comum nos arredores
da mesma cidade em lugar ignorado.
Fui testemunha durante
a infância e a juventude de que meu pai nunca se recuperou do trauma sofrido.
Lembro-me de quando era garotinho e passeava tranquilamente, de mãos dadas com
meu pai; de repente ele saía em disparada, com uma expressão de raiva, ainda me
segurando firme, quase arrancando meu braço, algo inexplicável então para minha
tenra idade.
O nosso sobrenome era
originalmente Brodsky, mas ele foi "maquiado" para o romeno.
E por fim, envio-lhe as
fichas extraídas dos arquivos do YAD VASHEM referentes aos meus avós.”
Muito obrigada Aristide por esta partilha, acredito que
não tenha sido fácil falar sobre a tragédia que se abateu sobre a sua
família. Na verdade, fiquei sem palavras.
Que Hashem permita que descansem em Paz!
Era minha intenção fazer um trabalho
com as obras do Aristide intercaladas com a história do seu percurso artístico.
Mas decidi dividir este artigo em dois, um dá-nos a conhecer o Homem e o outro,
o Artista, obviamente que este 1+1 é igual a um, mas aqui neste espaço, eu vou separa-lo para percebermos melhor.
Adianto-vos apenas que como artista,
ele é multifacetado e extremamente talentoso em todos os tipos de trabalho que
cria. Aristide transmite-me a inocência, a luz, e uma infância que ele nunca
teve, mas que retrata com uma alegria e movimento extraordinários. Mas isso
fica para o seguinte artigo.
Resta-me aqui explicar-vos o motivo que
me leva a partilhar esta história com todos vós.
Não é apenas para que seja
mais um dentre todos os relatos terríveis relacionados com o holocausto.
Não, faço-o para percebermos que temos a
capacidade de mudar a nossa vida e transforma-la em algo belo, temos todos a
responsabilidade de pelo menos tentar e de lutar pelo que amamos e acreditamos
ser um mundo melhor.
Faço-o para todos aqueles que continuam
a usar passado como desculpa de um hoje menos feliz e que choram
antecipadamente por um futuro que acreditam à partida que se avizinhará cheio
de nada.
Faço-o para que se lembrem que a vida
continuou para esta família e acredito (isto são palavras minhas), que também
pelos que partiram, o Aristide continuou e lutou por esta paixão da sua vida! E
ainda bem que o fez...por ele, pelos seus, e…por nós, que nos alegra a alma com
as suas obras.
Pai, mãe, a irmã Mariana, o irmão Emanuel e o bebé é o Aristide.
Quanto à partilha das suas obras, do
percurso e do presente que irei fazer já de seguida, faço-o apenas porque admiro
imenso o seu trabalho. J
Deixo agora o meu sincero e sentido agradecimento:
Muito obrigada Aristide pela sua coragem e pelo seu
carinho. ZD
Pintura de Aristide Brodeschi
“O Muro”
Sou admirador do meu amigo Aristide Brodeschi. Aqui em Curitiba um jornal intitulado Visão Judaica costuma colocar seus quadros na primeira página. A coletividade judaica curte muito os trabalhos do Aristide. Outras comunidades não sei. Recentemente lancei um livro e lá estava o Aristide me prestigiando.
ResponderEliminarShalom Juca, fico muito feliz por saber, estou certa que ele merece esse carinho por parte da vossa comunidade e de qualquer outra. Da minha parte merece toda a minha admiração. :)
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu comentário.
Relato triste,mas é muito bom, que ele repasse a sua história para as gerações vindouras.
ResponderEliminarO avô de meu marido veio fugido da Lituânia,e constituiu família aqui,alguns filhos e muitos netos.
Antigamente os cartórios(registro civil)
no Brasil eram formados por pessoas sem qualquer formação acadêmica e erravam demais os sobrenomes estrangeiros.
O sobrenome do avô de meu esposo Visostky e mudaram adicionando algumas vogais,absurdo!!!
Falei com o marido para corrigir,mas diz que vai custar muito trabalho,aqui no Brasil tudo é muito burocrático.
Ziva,o Brasil é um país muito bom de se morar,mas sinceramente a violência está assolando o país,é desanimador!
Ah,Ziva esqueci de lhe dizer um detalhe,sobre meu avô português,ele e meu bisavô eram conhecidos na aldeia como Sr.Loureiro e meu avô herdou o Loureiro tbém.
Abraços,post muito bacana,ando realmente cansada que o Senhor me ajude ufa!!!
Shalom
Muito triste mesmo, mas sim é de enorme importância dar a conhecer para que nunca esqueçamos, mas com o cuidado de não pararmos de viver...afinal, é uma forma de honrar os que já partiram e sem dúvida seria esse o seu desejo.
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