FREIXO DE
ESPADA-À-CINTA
Vila portuguesa com cerca de
2.100 habitantes, situada na região de Trás-os-Montes.
Supõe-se que a vila seja bastante
anterior à fundação do reino de Portugal, pelo menos ao tempo dos árabes ou
ainda à época de ocupação romana. É uma terra que se desenvolve desde o início
da nacionalidade. Tem foral entre 1155/57 outorgado por D. Afonso Henriques
onde se fazia referência ao castelo. D. Sancho II, em 1240, elevou Freixo à
categoria de Vila, como recompensa de os seus habitantes se terem defendido
heroicamente das invasões do rei de Leão, ao contrário dos de Alva (anterior
concelho), que se renderam sem resistência.
No início do século XVI era uma poderosa
praça de guerra cercada de muros e dotada de três torres mestras, das quais
actualmente só resta uma, de granito, facetada e heptagonal exemplar único na
Península Ibérica: a denominada Torre do Galo ou do Relógio. Em 1512 D. Manuel
concedeu ao concelho um novo foral.
Fólio do foral manuelino da vila
de Freixo de Espada à Cinta, datado de 1512.
O nome da vila é de origem desconhecida,
sendo objecto de diversas interpretações. Segundo a lenda, o rei D. Dinis,
aquando fundou a povoação, descansou neste local e colocou o seu cinto com a
espada no tronco dum freixo, adormecendo à sua sombra. Seja como for, a povoação
do Freixo está dominada pela torre que este rei-poeta ordenou construir no
século XIV para a defesa do reino.
Freixo de Espada à Cinta albergou uma importante comunidade
judaica, reforçada logo a seguir com a chegada dos Judeus expulsos dos reinos
de Espanha em 1492, encontrando como primeira porta de entrada a fronteira
terrestre isolada de Freixo de Espada à Cinta.
Um possível Aron Kodesh, numa
casa de Freixo.
Anos mais tarde, durante o século XVI, o
Freixo será a porta de saída para uma parte destes judeus/cristãos-novos para
as Índias e as Américas. Assim sendo, encontram-se naturais desta vila entre os
navegadores do mar índico e dos missionários da China e do Japão, entre os
mercadores ou entre os conquistadores da Nova Espanha e descobridores de minas
no Brasil, no México ou Peru.
Brasão de Freixo Espada-à-Cinta
Estes movimentos migratórios de judeus contribuíram para o
grande progresso e engrandecimento de Freixo de Espada à Cinta nos séculos
XV-XVI.
E será das remessas de capitais desses
emigrantes, redes de contactos e investimentos feitos nos descobrimentos
Além-Mar que veio o dinheiro para a construção daquelas impressionantes obras
públicas e luxuosas moradias de Freixo de Espada à Cinta.
Na cidade velha há cerca de 150 portais
ogivais e janelas de estilo manuelino. Para além da decoração típica deste
estilo, nas moradias quinhentistas existentes, todas com portadas de granito
(material nobre e caro), uma porta larga, em arco, comercial para o piso térreo
e outra mais estreita de serventia para o piso habitacional, profusão
decorativa..., existe uma quantidade imensa de simbologia judaica, mormente
cruciformes.
Com um tecido económico, dominado pela
burguesia de raiz judaica, sem descender directamente das grandes famílias
aristocráticas, não é de estranhar que não abundem os exemplos heráldicos, que
para além dos referentes à vila restam seis exemplares espalhados por edifícios
particulares ou religiosos.
Dentre essas moradias da Judiaria de
Freixo de Espada-à-Cinta destaca a chamada Casa dos Carrascos, cujo nome
procede da família proprietária, com a simbologia heráldica fixada no arco de
granito da porta comercial: três ramos daquela árvore, truncados, cada um com
quatro galhos, num total de doze, em alusão às doze tribos de Israel. Este
feitio decorativo repete-se noutras moradias da vila.
Casa dos Carrascos em Freixo de
Espada à Cinta
A janela do segundo andar desta casa
está decorada com uma rosácea de seis pontas (como o hexagrama judaico) em meio
da data de 1557 e da palavra Zuzarte indicando o nome original da família
construtora, elementos simbólicos que indiscutivelmente mostram ter sido casa
mandada construir por gente de nação hebraica.
Fontes:
(Por Caeiro)
(Fotos de Vitor Oliveira)
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