Uma Bíblia Sefardita
da Galiza
O Leão de Judah
guardando a menorah do Santuário,
fólio 120
A famosa Bíblia Kennicott é um
códice medieval escrito em estilo sefardita, profusamente iluminado, que combina
motivos da religião hebraica, arte abstracta de influência islâmica e popular.
Compreende os livros da Bíblia Hebraica (Tanach)
– a Torah, Profetas e Escritos -, a massorah (exame crítico do texto da
Bíblia, com notas sobre a escrita, vocabulário, pronúncia e outros comentários)
e um tratado gramatical do Tanach (Sefer Mikhol), do século XII, do rabino da
Provença, David Kimchi (RaDaK).
Iluminura em estilo
islâmico
Página do tratado gramatical (Sefer Mikhol) de RaDaK, fólio 7b
Este manuscrito hebraico é conhecido por
Bíblia Kennicott, por ter sido adquirido por Benjamin Kennicott (1718-1783), um
destacado membro do clero anglicano e prestigiado especialista na Bíblia
Hebraica, que dedicou a sua vida a estudar e a comparar variantes de texto em
centenas de manuscritos hebraicos, vindo a publicar o resultado das suas
investigações na obra Dissertatio
Generalis.
Primeira página do
Livro de Génesis, fólio 9
A Bíblia Kennicott possuiu cólofon
detalhado do escriba, Moisés Ibn Zabara, bem como do iluminador, Joseph Ibn
Hayyim.
Cólofon do
escriba, fólio 438
O escriba Moisés Ibn Zabara
escreve no seu cólofon que o manuscrito foi encomendado por Isaac, filho de Dom
Salomão de Braga, tendo terminado a obra na cidade da Corunha, província da
Galiza, numa 4ª feira, no terceiro dia do mês de Av, no ano da criação de 5236
(24 de Julho de 1476). Declara ainda, que foi o responsável pelo texto de todos
os vinte e dois livros da Bíblia, notas massoréticas e respectiva correcção.
Exemplos de
elementos decorativos das Parashiot
O Profeta Bilam, Números 22
A ilustração acima pertence à Parashat Balak, do Livro de Bamidbar (Números 22-24). Representa Bilam,
o profeta gentio ao serviço do rei Balak de Moav, que tentou amaldiçoar o Povo
de Israel. Joseph Ibn Hayyim apresenta-o segurando um astrolábio, o mais simbólico
dos instrumentos astronómicos medievais. Na Idade Média, o astrolábio estava
associado ao poder e ao luxo das cortes muçulmanas e cristãs, onde os
astrólogos (frequentemente judeus) o usavam para prever o futuro do rei e do
reino.
A Bíblia
Kennicott, painel
Desconhece-se o percurso desta
obra notável, entre 1492, data da expulsão dos judeus de Espanha, e o século
XVIII. Poder-se-á especular que Isaac de Braga, que devia ter família e
relações comerciais com Portugal, terá primeiro fugido para Portugal antes de
partir para outra parte da Europa. Certamente não se desfez da sua preciosa Bíblia,
pois de outra forma ela não teria sobrevivido ao édito do rei D. Manuel I, que
ordenou a destruição de todos os livros hebraicos do seu reino. Não se sabe
para onde fugiu Isaac de Braga, nem se os seus herdeiros foram obrigados a
vender a Bíblia para sobreviverem. Esta parte da história permanece um
mistério. Sabe-se, apenas, que em 1771 foi parar às mãos de Benjamin Kennicott,
fazendo actualmente parte do acervo da Bodleian Library, em Oxford.
A mais requintada de todas as bíblias hebraicas, escrita e iluminada na Espanha medieval, apenas 16 anos antes da Expulsão.
Este belíssimo artigo
foi elaborado e oferecido pela minha amiga
Sónia
Craveiro
Muito obrigada
Beijinhos
Fontes:
Gostei muito e publiquei no meu facebook.
ResponderEliminarBeijinhos à Sónia
Muito obrigada, serão entregues. Desejo-lhe uma excelente semana. :)
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