CASTELO MENDO
Freguesia portuguesa do concelho
de Almeida, na região da Beira, com cerca de 90 habitantes. Foi extinta em 2013
no quadro de uma reforma administrativa.
A vila de Castelo Mendo, com os seus dois recintos
muralhados medievais, constitui um interessante conjunto patrimonial.
Localizada na margem esquerda do rio Côa, a existência de dois sistemas
muralhados erguidos confirma a importância que a coroa portuguesa reservou à
linha fronteiriça que separava Portugal do reino de Galiza, nos séculos
XII-XIII, e depois de Castela.
Dentro da muralha mais antiga achava-se o castelo, hoje
reduzido a ruínas, mas ainda destaca a muralha que o isolava do resto do
povoado civil, no qual se rasga uma porta com arco de volta perfeita. A torre
de (O) Menagem que se erguia desapareceu quase por completo.
Castelo Mendo recebeu carta de foral das mãos do rei D.
Sancho II em 1229. Entre as medidas tomadas pelo rei para incentivar o
povoamento do burgo regista-se a instituição de um mercado semanal no interior
do castelo e a realização de feira três vezes por ano com uma duração de oito
dias.
Planta de Castelo Mendo
Devido ao crescimento demográfico da vila, nos finais do
séc. XIII ou inícios do XIV Castelo Mendo foi dotada de uma segunda linha de
muralhas mais ampla. Esta nova muralha, obra do tempo de D. Dinis, contava com
quatro portas: Porta da Vila, Porta da Guarda, voltada a NO, Porta do Sol e
outra para o Sul.
Porta da Vila
D. Dinis confirmou o foral em 1291 e concedeu-lhe uma nova
carta de feira. Porém, a incorporação das terras de Ribacôa no reino de
Portugal abalou a importância estratégica de Castelo Mendo, fazendo com que
entrasse em decadência.
Na obra "Os Judeus em Portugal no século XV, vol.
II", Maria José Pimenta Ferro Tavares detectou a presença de vários Judeus
a morar em Castelo Mendo, garantindo a existência nesta vila de uma comunidade
judaica.
Segundo os documentos sobre os Judeus que a habitaram apenas
se conhece a profissão de duas pessoas, e ao contrário do que vem sendo
habitual nas judiarias da Beira, estas duas pessoas são físicos, pertencendo à
área da saúde e não das profissões artesanais.
Localização da judiaria de
Castelo Mendo
A judiaria de Castelo Mendo situava-se junto da Porta da
Guarda e encostada à muralha do burgo, ocupando um lugar periférico dentro da
trama urbana da vila.
Porta da Guarda de Castelo Mendo
A implantação da Judiaria de Castelo Mendo, igual ao que aconteceu
com as Judiarias de Ponte de Lima, Porto, Aveiro, Guarda ou Silves responde à localização
de uma parte significativa das judiarias medievais portuguesas: na periferia e acossando-se
muitas vezes a panos de muralha.
Junto da Porta da Guarda encontra-se um edifício
popularmente conhecido de "antigo Hospital da Misericórdia". O
prédio, talvez datado da segunda metade do século XVI, trata-se de uma construção
pétrea, de dois andares e com cantaria de qualidade. A sua fachada principal
apresenta no andar térreo uma porta rectangular ampla, com ombreiras de moldura
simples e lintel reto. Neste incluiu-se, ao centro, uma carteia renascentista
com motivos fitomórficos. Sobre esta porta, ao nível do primeiro andar, abre-se
uma janela com outra carteia esculpida no respetivo lintel onde se pode ler a
lenda religiosa SPES MEA DEUS. A diferença de outras construções judaicas, a
porta, a janela e a cruz que remata o edifício possuem um alinhamento comum. À
direita da porta original abriu-se uma segunda porta sem qualquer ornamento
rasgada numa fase mais tardia.
Esta construção, que hoje é uma casa de habitação
particular, é tradicionalmente identificada como sendo o "antigo Hospital
da Misericórdia". No entanto, não existe qualquer documento que permita
confirmar essa suposição popular. Dentro deste edifício, subindo ao primeiro
andar, depara-se com um compartimento retangular que é iluminado pela janela
renascentista referida da fachada. Embutido na parede leste encontra-se um
armário de granito dividido em duas partes por uma prateleira.
Os pesquisadores julgam que este armário pétreo de Castelo
Mendo (datado em meados ou na segunda metade do séc. XVI) seja um helaj ou
aron, isto é, um armário sagrado dos Judeus.
O Helaj era o armário sagrado onde os Judeus guardavam a
Torá, rolos manuscritos contendo a transcrição do Antigo Testamento, daí que
fosse também designado Armário da Lei ou simplesmente Arca. O seu espaço era
dividido em duas partes porque, para além do Livro da Lei, nele era igualmente
guardada a lâmpada. Não apresenta portas porque tradicionalmente era coberto
por uma cortina. Ao seu lado era normalmente exposto o Menorah, o candelabro
sagrado de sete braços, colocado sobre mísula.
São vários os aspectos que permitem confirmar a origem
judaica deste armário:
1- Tanto o seu feitio requintado, em pedra, quanto o cuidado da
sua ornamentação adequam-se a mais um fim sagrado do que um uso quotidiano.
2- Carece de encaixes para dobradiças o que permite pensar que
se trata de uma peça
3- Está estruturado em dois espaços autónomos e ladeado por uma
mísula.
4- Abre-se numa parede voltada para o Leste, obedecendo à orientação
cultural para Jerusalém dos Judeus.
5- Apresenta um estreito paralelismo tipológico com o helaj da
Sinagoga de Castelo de Vide (séc. XV) com similar organização, mesmo material,
dividido em dois grandes espaços separados por prateleira de pedra e com mísula
para o Menorah.
A cronologia serôdia desta peça, mais de meio século depois
do édito de expulsão dos Judeus de Portugal, testemunha a resistência que
certas comunidades sefarditas ofereceram à perseguição, não abandonando o
reino, mas também não abdicando das suas convicções. Isto significa que os
cristãos-novos de Castelo Mendo preservaram o culto privado e clandestino.
Destarte, o conteúdo da inscrição da fachada pode adaptar-se a qualquer das
religiões, não constituindo, por isso, entrave para a sua exposição pública. O
seu texto terá sido, portanto, intencionalmente escolhido para figurar na fachada
do edifício (lembremos: A minha esperança é D-us).
Fontes:
(Por Caeiro) - Documento escrito
a partir do artigo "O Aron de Castelo Mendo" de Mário Jorge Barroca.
Google Maps
Ziva,feliz quem habita nessa residência.lugar lindo arquitetura maravilhosa e que tem história!
ResponderEliminarFalei a minha tia,que tenho desejo depois que os filhos casarem ir embora definitivamente para Portugal pois, foi lá que minha história começou através dos antepassados e qdo lá estive,me senti em casa apesar do frio,mas acho que conseguiria me adaptar.
Abraços Ziva ótima semana!
Claro que se irá adaptar, cá a aguardaremos. será muito bem vinda. :) Abraços Rô.
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