LAMEGO
Antiquíssima cidade portuguesa
situada na sub-região do Douro fazendo parte da tradicional província de
Trás-os-Montes e Alto Douro.
De origem romana, esteve sob domínio
mouro, sendo "reconquistada" em 1057. A sua importância é atestada já
em 1139 por aqui terem decorrido as famosas Cortes de Lamego, reunidas na
igreja de S. Maria Almacave, onde D. Afonso Henriques foi aclamado como rei de
Portugal e se estabeleceram as "Regras de Sucessão ao Trono". A
própria diocese da cidade é mesmo anterior pois existe desde o ano 570 (S.
Martinho de Dume) e trata-se da única diocese portuguesa que não corresponde a
uma capital de distrito.
Vista da cidade
A presença judaica parece também ter
sido bastante forte e importante em Lamego, mesmo desde o período árabe.
As menções mais antigas à presença
judaica em Lamego remontam aos finais do século XIV e referem duas judiarias: a
mais remota, a judiaria velha e a judiaria nova.
Rua da Cruz
A “Judiaria Velha” ou “Do Fundo da
Cidade” localizava-se junto da Porta do Sol (na atual rua da Cruz) e sendo a
mais antiga, poderia já ser o “habitat” da comunidade judaica durante o domínio
árabe.
Porta do Sol
Desde 1388 os judeus assentaram-se para
o Campo do Tavolado e junto do adro da igreja de Santa Maria Almacave, dando
origem a outra judiaria, chamada “Judiaria Nova” ou "Judiaria
Grande". Nesta Judiaria Nova, situada junto da Porta dos Figos, o comércio
era animado na Rua Nova e continha a Rua da Cruz de Pedra e a Rua da Esnoga ou
Sinagoga, o que permite identificar também a própria localização do templo
judaico.
Rua junto ao adro da igreja de
Santa Maria Almacave
Desde o séc. XIV que os judeus da então
importante cidade de Lamego ocupavam a área entre o castelo e a igreja de Stª.
Maria de Almacave. No séc. seguinte os bairros judeus eram já dois; o mais
antigo (judiaria da velha), localizava-se junto à Porta do Sol, o que
correspondia à judiaria nova ou do fundo junto do adro da igreja citada.
A cidade de Lamego também é uma das
povoações da Beira onde impera o maior número de profissionais artesãos, tais
como tecelões e alfaiates, e mesmo gibiteiros. Intercalando depois com estas
profissões temos os mercadores demonstrando que também aqui é muito importante
a área das transacções comerciais. Encontramos ainda profissões ligadas à
saúde, como físicos e cirurgiões, aqui com um sublinhado na especialidade de
oftalmologia. No sector da religião chegou a haver três rabis. Também nos
deparamos com muitas profissões administrativas; assim encontram-se um
procurador, um tabelião, um servidor do rei, um recebedor de pedidos, ou mesmo
um almotacé ou um vereador e ouvidor. No que diz respeito às questões agrícolas
só se tem conhecimento de um rendeiro.
Destarte, no séc. XV os bairros judeus
eram já dois; o mais antigo: a Judiaria Velha e a Judiaria Nova. Em 1436, eram
mais de 400 os habitantes judeus nas duas zonas, vivendo em judiarias
completamente abertas e desfrutando do permanente contacto social com a
comunidade cristã. Apesar da importância religiosa católica de Lamego, a
percentagem deste número é de extremo significado.
A partir do reinado de D. Duarte
decretou-se que os dois bairros fossem encerrados à noite através de portas
colocadas para esse efeito. Estas localizavam-se respetivamente na rua que
abria para a Praça (do Comércio) e na que abria para o adro da igreja de
Almacave.
A atual Rua Nova correspondia ao
primeiro caso (mais a Rua Travessa da Fonte Velha, Rua da Seara e Rua da Cruz)
e inclusivamente chegavam a ocupar a Rua do Almacave. Na Rua Nova (antiga
judiaria nova) pode ver-se um característico portal ogival, granítico (agora com
inscrição cristã). Pode ter sido aqui a antiga Sinagoga.
José de Lamego, sapateiro judeu, foi
quem recebeu de Pêro da Covilhã na cidade do Cairo as informações que de
seguida permitiram a D. João II conhecer todos os dados referentes às costas
leste africana, arábica e índia que lançou a viagem de Vasco da Gama.
Pêro da Covilhã
Ao lado da cidade existe a povoação
de Penajóia, cuja designação arcaica era Peñajuía, o que significaria Penha Judia,
indiciando também aí a presença de uma comunidade judaica.
Brasão de Penajóia
Fontes:
(Rede de Judiarias de Portugal)
(com foto de Rafael Baptista)
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