quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O homem tira e D'us dá de novo!




Aristide Brodeschi


Nasceu em Bucareste, Roménia e em 1978 parte para o Brasil, mais propriamente para Curitiba onde reside até hoje.


Este artigo foi feito com a autorização e o apoio total do próprio artista a quem eu pedi que me permitisse partilhar não só a sua arte, mas também a sua história. E o Aristide teve a gentileza de partilhar comigo as suas raízes…Mas para mim, foi uma daquelas vezes em que a resposta nos deixa com um enorme nó na garganta e um aperto no peito. E aqui quem respondeu, foi o homem que eu via apenas como um artista:



O meu pai nasceu em Cetatea Albă (1907), Bessarábia, hoje Belgorod-Dnestrovski, Ucrânia. A minha mãe nasceu em Brăila (1914) Roménia. Eles foram viver na cidade natal do meu pai onde nasceu a minha irmã (1941).


Foi na Bessarábia que os três foram surpreendidos pelo avanço das tropas alemãs que vieram acompanhadas das unidades especiais para o extermínio dos judeus nas áreas conquistadas -"einsatzgruppen".



Esta é a minha irmã, a Mariana, uma pequena heroína que sobreviveu à perseguição nazi perpetrada por "Einsatzgruppen" na Transnístria. Hoje, o seu filho é um excelente engenheiro israelita.


Mas vou agora relatar-lhe dois episódios de horror de 1942 que tanto impactaram a minha família:

O meu avô foi enforcado num poste de iluminação pública nas ruas de Odessa e logo depois foi encontrado pelo meu pai. A minha avó foi fuzilada e jogada numa vala comum nos arredores da mesma cidade em lugar ignorado.

Fui testemunha durante a infância e a juventude de que meu pai nunca se recuperou do trauma sofrido. Lembro-me de quando era garotinho e passeava tranquilamente, de mãos dadas com meu pai; de repente ele saía em disparada, com uma expressão de raiva, ainda me segurando firme, quase arrancando meu braço, algo inexplicável então para minha tenra idade. 



O nosso sobrenome era originalmente Brodsky, mas ele foi "maquiado" para o romeno.


E por fim, envio-lhe as fichas extraídas dos arquivos do YAD VASHEM referentes aos meus avós.”


Muito obrigada Aristide por esta partilha, acredito que não tenha sido fácil falar sobre a tragédia que se abateu sobre a sua família. Na verdade, fiquei sem palavras. 
Que Hashem permita que descansem em Paz!

Era minha intenção fazer um trabalho com as obras do Aristide intercaladas com a história do seu percurso artístico. Mas decidi dividir este artigo em dois, um dá-nos a conhecer o Homem e o outro, o Artista, obviamente que este 1+1 é igual a um, mas aqui neste espaço, eu vou separa-lo para percebermos melhor.

Adianto-vos apenas que como artista, ele é multifacetado e extremamente talentoso em todos os tipos de trabalho que cria. Aristide transmite-me a inocência, a luz, e uma infância que ele nunca teve, mas que retrata com uma alegria e movimento extraordinários. Mas isso fica para o seguinte artigo.

Resta-me aqui explicar-vos o motivo que me leva a partilhar esta história com todos vós. 

Não é apenas para que seja mais um dentre todos os relatos terríveis relacionados com o holocausto.

Não, faço-o para percebermos que temos a capacidade de mudar a nossa vida e transforma-la em algo belo, temos todos a responsabilidade de pelo menos tentar e de lutar pelo que amamos e acreditamos ser um mundo melhor.


Faço-o para todos aqueles que continuam a usar passado como desculpa de um hoje menos feliz e que choram antecipadamente por um futuro que acreditam à partida que se avizinhará cheio de nada.

Faço-o para que se lembrem que a vida continuou para esta família e acredito (isto são palavras minhas), que também pelos que partiram, o Aristide continuou e lutou por esta paixão da sua vida! E ainda bem que o fez...por ele, pelos seus, e…por nós, que nos alegra a alma com as suas obras.


Pai, mãe, a  irmã Mariana, o  irmão Emanuel e o bebé  é o  Aristide.


Quanto à partilha das suas obras, do percurso e do presente que irei fazer já de seguida, faço-o apenas porque admiro imenso o seu trabalho. J

Deixo agora o meu sincero e sentido agradecimento:
Muito obrigada Aristide pela sua coragem e pelo seu carinho. ZD

Pintura de Aristide Brodeschi 
“O Muro”

4 comentários:

  1. Sou admirador do meu amigo Aristide Brodeschi. Aqui em Curitiba um jornal intitulado Visão Judaica costuma colocar seus quadros na primeira página. A coletividade judaica curte muito os trabalhos do Aristide. Outras comunidades não sei. Recentemente lancei um livro e lá estava o Aristide me prestigiando.

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  2. Shalom Juca, fico muito feliz por saber, estou certa que ele merece esse carinho por parte da vossa comunidade e de qualquer outra. Da minha parte merece toda a minha admiração. :)
    Muito obrigada pelo seu comentário.

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  3. Relato triste,mas é muito bom, que ele repasse a sua história para as gerações vindouras.
    O avô de meu marido veio fugido da Lituânia,e constituiu família aqui,alguns filhos e muitos netos.
    Antigamente os cartórios(registro civil)
    no Brasil eram formados por pessoas sem qualquer formação acadêmica e erravam demais os sobrenomes estrangeiros.
    O sobrenome do avô de meu esposo Visostky e mudaram adicionando algumas vogais,absurdo!!!
    Falei com o marido para corrigir,mas diz que vai custar muito trabalho,aqui no Brasil tudo é muito burocrático.
    Ziva,o Brasil é um país muito bom de se morar,mas sinceramente a violência está assolando o país,é desanimador!
    Ah,Ziva esqueci de lhe dizer um detalhe,sobre meu avô português,ele e meu bisavô eram conhecidos na aldeia como Sr.Loureiro e meu avô herdou o Loureiro tbém.
    Abraços,post muito bacana,ando realmente cansada que o Senhor me ajude ufa!!!
    Shalom

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  4. Muito triste mesmo, mas sim é de enorme importância dar a conhecer para que nunca esqueçamos, mas com o cuidado de não pararmos de viver...afinal, é uma forma de honrar os que já partiram e sem dúvida seria esse o seu desejo.

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