Castelo de
Vide
Vista de
Castelo de Vide
Numa encosta virada para a nascente e adossada
ao velho casco medieval desenvolve-se a Judiaria de Castelo de Vide. Num
acentuado declive serpenteiam as estreitas calçadas que se desenvolvem desde a
Porta da Vila, no castelo, até à Fonte da Vila, em tudo semelhantes às que
formam o restante núcleo medieval de Castelo de Vide. Torna-se interessante
verificar que a comunidade judaica de Castelo de Vide evoluiu entre dois
espaços fundamentais - o velho Largo do Mercado e a vetusta Fonte da Vila. O
Judeu, pela sua vivência em diáspora, ligou-se fundamentalmente, às actividades
mercantis, justificando-se, mutuamente mercado e judiaria, no mesmo espaço -
encosta nascente do Castelo.
Largo do
Mercado
A amplitude do bairro judeu de Castelo de Vide,
como se vê nesta imagem lateral, pode compreender-se devido à proximidade com a
fronteira castelhana. Assim sendo, o édito de 1492, promulgado polos reis
católicos provocou uma deslocação maciça de famílias judias que procuravam
abrigo em Portugal. Datará dessa altura o desenvolvimento comercial e
manufatureiro que veio a caracterizar, posteriormente, Castelo de Vide. Depois
da expulsão dos Judeus de Portugal de 1496, permaneceram em Castelo de Vide
muitas famílias de Judeus convertidos ao cristianismo.
Ainda que de difícil delimitação urbana, a
Judiaria de Castelo de Vide desenvolveu-se, fundamentalmente, pelas ruas da
Fonte, do Mercado, do Arçário, do Mestre Jorge, da Judiaria, da Ruinha da
Judiaria, da actual Rua dos Serralheiros e da Rua Nova. A amplitude deste
espaço pode compreender-se devido à proximidade de Castelo de Vide com a
fronteira castelhana.
Arruamentos
da Judiaria
O Édito de 1492, promulgado pelos Reis
Católicos, Fernando e Isabel, provocou uma deslocação maciça de famílias judias
que procuravam, do lado de cá da fronteira, a paz que as profecias lhes negavam
em terra estranha. Datará dessa altura o desenvolvimento comercial e
manufactureiro que veio a caracterizar, posteriormente, Castelo de Vide. Não só
nas artes e ofícios se notabilizou a comunidade judaica de Castelo de Vide,
tendo brilhado também os seus filhos na botânica e medicina, como nos provam os
nomes de Garcia de Orta e Mestre Jorge o Físico.
A despeito da renovação que, por via da sua
contínua ocupação, foi sofrendo, a judiaria de Castelo de Vide apresenta ainda
alguns elementos característicos: as portas ogivais de habitação e de oficina
ou comércio (algumas decoradas com símbolos profissionais), as velhas calçadas
e o edifício que se julga ser a antiga Sinagoga. O edifício identificado como
Sinagoga Medieval localiza-se na confluência da Rua da Judiaria com a Rua da
Fonte. Compõe-se de dois pisos, abrindo-se numa das divisões do piso superior o
que se julga ser o Tabernáculo.
Sinagoga
de Castelo de Vide
Neste compartimento reuniam-se os homens da
comunidade, enquanto na divisão à sua direita, daquela separada, originalmente
por um pequeno postigo, congregavam-se os membros do sexo feminino, enquanto
decorriam as sessões de estudo dos Textos Sagrados. As Sinagogas, enquanto
espaço polifacetado, funcionavam, paralelamente, como Escola. Também na
Sinagoga de Castelo de Vide existe um espaço, que diz a tradição popular, ter
sido dedicado ao ensino dos mais jovens. A Escola situava-se à esquerda da sala
do Tabernáculo.
Os trabalhos de restauro, consolidação e
valorização do edifício da Sinagoga obrigaram à realização de várias sondagens
arqueológicas no piso inferior deste espaço. Nesses trabalhos, além da
identificação de vários testemunhos das diferentes ocupações ao longo dos
tempos, foi possível manter três silos escavados no granito de base,
apresentando um deles vestígios de ter sido forrado com placas de cortiça.
Os diferentes níveis estratigráficos observados
indicam a existência de, pelo menos, três fases distintas de utilização do piso
inferior. A mais antiga, contemporânea da abertura dos silos, remonta aos
finais do século XIV. Os dois silos do primeiro compartimento estiveram em uso
até meados do século XVI, enquanto os materiais exumados no silo do segundo
compartimento apontam para um abandono algo mais tardio. Quer pelos materiais arqueológicos recolhidos
no interior dos silos, quer pelo espólio identificado na sondagem efectuada no
quintal da Sinagoga, outrora espaço coberto, pode-se afirmar que o século XVI
foi época de profundas alterações deste edifício, coincidindo com o fim da
liberdade de culto dos judeus em Portugal. Posteriores utilizações foram dadas
a este imóvel. O espaço interno e externo foi sendo alterado e adaptado ao
longo dos séculos. O Tabernáculo só foi redescoberto nos anos setenta do presente
século, quando se procedia ao arranjo das paredes do edifício.
De
quando a data da sua fundação, não se sabe ao certo, no entanto, já no séc. XIV
existia uma judiaria em Castelo de Vide, que era constituída por um conjunto de
casas construídas junto à porta principal do castelo. A Sinagoga está situada
na Rua da Judiaria / Rua da Fonte, o edifício orienta-se no sentido Este /
Oeste.
Todo o conjunto é constituído por um só volume, com dois pisos.
Vulgarmente chamada "Sinagoga", mas com o nome apropriado de
"BEIT-HA - MIDRASCH-SEFARDIN".
No compartimento destinado ao culto, no seu
interior, tem instalado o tabernáculo, com as respectivas cavidades destinadas
às lamparinas dos "Santos Óleos" e ao lado direito desta peça, uma
apoiaria as sagradas escrituras, em que na base estão implantadas sete bolas
indicadoras dos seis dias em que Deus criou o mundo e do último dia, o sétimo,
descanso da obra.
Aron
Kodesh
No séc. XVIII sofreu obras de adaptação para residência. Foi
reconstruída respeitando a traça primitiva em 1972. Uma porta de acesso ao
primeiro piso apresenta uma pequena concavidade que se chama a marca da
MEZUZAH, palavra hebraica que significa "ombreira da porta".
Esta concavidade destinava-se a guardar um
estojo que continha um pequeno pergaminho em que se escreviam algumas das
palavras do SHEMA, oração fundamental do culto judaico. Todos a as portas são
em ogiva que arranca de impostas com arestas vivas, toros e caneluras. Leis
decretadas por alguns monarcas lusitanos no sentido de se criarem guetos
próprios, onde só vivessem judeus, levaram ao aparecimento de bairros,
igualmente conhecidos pelo nome de "Judiarias".
Foi no séc. XIV, que D. Pedro I aforava a
Mestre Lourenço seu físico, provavelmente judeu, uma terra em Castelo de Vide,
sendo vários os documentos datados do século XV que testemunham a existência da
comunidade judaica da vila. Em Castelo de Vide a Judiaria desenvolveu-se na
encosta da vila virada a nascente. Ainda que estabelecido numa das zonas mais
acidentadas, o bairro era atravessado por um eixo fundamental de comunicação do
castelo com o exterior e vice-versa. Da presença judaica em Castelo de Vide
restam alguns testemunhos materiais em que assume especial relevância o
edifício onde se julga ter funcionado a Sinagoga Medieval. Outros edifícios da
Rua da Judiaria, da Rua da Fonte ou da Ruinha da Judiaria mostram ainda o que
resta da tradição milenar judaica de marcar a sua fé nas ombreiras das portas.
O estabelecimento da Inquisição e a publicação
do Édito de Expulsão dos judeus dos reinos de Espanha por Fernando e Isabel, os
reis católicos, contribuíram para o crescimento da judiaria de Castelo de Vide
que mantém na toponímia das suas ruas o testemunho da presença judaica, mas
também o da perseguição do Santo Ofício aos cristãos-novos.
Memorial a
Judeus mortos pola Inquisição
no Museu da Sinagoga
Fonte do
Texto:
Fontes das
Fotos:
Google Maps
Já visitei a Judiaria em Castelo de vide e, claro, a sinagoga/museu.
ResponderEliminarEste texto, ou este contexto geográfico, sociológico e histórico, revela-se um óptimo contributo para reforçar o que se viu. É ainda aconselhável aos que ainda não tenham visitado e o poderão fazer de forma mais esclarecida. Obrigada, Ziva David.
Muito obrigada eu pelo seu comentário Conceição Coelho.
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