Os Judeus de
Monsaraz
Monsaraz evoluiu do Monte Xarez
ou Xaraz, do árabe saris ou sharish, designado a vegetação de estevas (xaras),
na altura muito abundante nas margens do rio Guadiana.
Em Monsaraz, uma das vilas
medievais portuguesas mais bem preservadas, existiu uma judiaria dentro das
muralhas nas imediações da Rua Direita. Este centro histórico, que no passado
acolheu muitos judeus e "marranos" vindos de Espanha, apresenta hoje
um conjunto muito uniforme de ruas e edifícios da época.
Rua Direita
Foi durante o reinado de D.
Dinis, que se edificou o núcleo primitivo do Castelo, este com quatro entradas: a Porta Velha, a Porta de
Évora, a Porta de el rei D. Dinis ou do Buraco, e finalmente, a Porta da
Traição, esta última permitia a entrada directa para a Judiaria e Mouraria
desta vila alentejana.
A economia de Monsaraz, no
século XIII, seguia o modelo da época nas terras do sul de Portugal acabadas de
reconquistar aos mouros e era, fundamentalmente, agrícola e pastoril.
Ao lado desta economia
agro-pastoril de base e na continuidade das tradições romana e muçulmana temos
como certo um apreciável desenvolvimento das pequenas indústrias da olaria
tosca – ainda hoje persistente e florescente em Aldeia do Mato – dos cobres
martelados e dos chocalhos ao artesanato grosseiro dos tecidos de lã e linho –
saragoças, estamenhas, buréis e mantas regionais.
O núcleo demográfico inicial
era constituído por cristãos, moçárabes, mouros e judeus.
A comunidade hebraica, quase
sempre segregada para a periferia arrabaldina das povoações, instalou aqui em
Monsaraz, excepcionalmente a sua judiaria intramuros da vila.
Na base da tolerância religiosa
pelos judeus e pelos mouros encontrava-se, fundamentalmente, o problema do
repovoamento das terras acabadas de reconquistar pelos cristãos, tantas vezes sujeitas
a um regime de penúria demográfica incompatíveis com o seu ulterior progresso
económico e social.
Nesta política de repovoamento,
como tão lucidamente opinou Vallecillo Ávila num belo estudo publicado a
propósito dos judeus de Castela:
“Os cristãos, poucos em número e pobres de
recursos, aceitavam a colaboração de quantos a isso se prestavam”.
Os judeus de Monsaraz,
principalmente devotados às operações da banca e aos complicados e equívocos
tratos da mercadoria, não devem, contudo, ter sido apenas financeiros e
mercadores. Foram, também, com certeza, lavradores e coureleiros, dado que a
toponímia montesarense do século XIII regista parcelas agrárias que pertenceram
ao famoso bispo eborense da Reconquista D. Durando Pais e que se encontravam,
precisamente, localizadas em sítio já conhecido, nessa época, pelo Vale do
Judeu.
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