quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Continuamos por Terras de Sefarad - Galiza



A  Judiaria de Tui



Tui é um município raiano da Espanha na comarca do Baixo Minho, província de Pontevedra, comunidade autónoma da Galiza, de área 68,3 km² com população de 16948 habitantes (2007) e densidade populacional de 236,69 hab/km². Situada à beira do rio Minho, é a principal fronteira – por autoestrada e caminho-de-ferro – entre a Galiza e Portugal (Valença do Minho).


Tui teve desde da Idade Média uma grande importância. O seu papel na história galega foi determinante pelo seu carácter fronteiriço com Minho, o que lhe deu uma grande importância militar. Além disso, durante da Idade Média Tui foi uma rota comercial muito importante ligada ao porto fluvial.



A cidade de Tui coroada pela catedral-fortaleza


A sua actual localização deve-se á trasladação da cidade depois da carta foral de 1170, levada a cabo pelo Rei Fernando II no século XII, encerrando-a em muralhas (acabadas no século XIII) e das que ainda se conserva a Porta da Pia.

A catedral-fortaleza, iniciada no século XII, está situada no local mais alto da cidade e está circundada pela cidade velha. No claustro gótico da Catedral pode-se observar uma inscrição, ainda clara, dum candelabro judaico de sete braços (menorah) em frente à entrada da sala capitular, do século XII. Pelo seu tamanho e significado, a gravura desta menorah não pode de forma alguma, ser confundida com a marca do pedreiro.




A presença de Judeus em Tui está documentada desde os séculos XIV e XV, com uma Judiaria de certa importância, existindo nela duas sinagogas, cemitério e açougue. Porém, pouco se sabe da comunidade hebraica de Tui, embora se ache que foi bastante importante, dando-lhe uma grande mobilidade geográfica ao estar próxima de outras cidades e portos importantes como Vigo, Baiona ou Salvaterra do Minho, onde houve assentadas e prósperas colónias judias.

Existem duas teorias sobre a localização da Judiaria de Tui: por um lado, que esta estaria localizada fora da cidade, num bairro denominado de Saraiva e, por outro lado, que estaria intramuros. A hipótese da localização extramuros não se corresponderia com qualquer modelo de distribuição geográfica da população judaica e, melhor, poderia fazer referência aos campos pertencentes à comunidade hebraica ou, mesmo, ao seu cemitério.

A documentação existente situa os Judeus a morar dentro da muralha, não num bairro judeu como tal, mas espalhados dentro do perímetro murado da cidade, ao abrigo da catedral-fortaleza e sob a proteção do bispado.



Porta Bergám na actual rua Tilve


No mapa de outras cidades, a Judiaria de Tui achar-se-ia no entorno da Rua da Oliveira, muito próxima da Porta Bergám, e que muda o seu nome para o de Porta Nova, dando passagem à Rua Nova, nome habitual que receberam as ruas habitadas por Judeus após a segregação habitacional.



Planta medieval de Tui com indicação das ruas com presença judaica



A Judiaria de Tui abrangeria mais concretamente as Ruas Fornos, Entre-fornos (atual Rua do Prazer), Ruela da Soidade, e Rua e Ruela do Ouro. Também é possível que os negócios hebraicos mais prósperos de Tui estivessem localizados nas arcadas da Rua Corredoura.

R. da Soidade na Judiaria de Tui.




R. do Prazer e R. do Ouro na Judiaria de Tui



Ruela do Ouro (à esquerda) e escadas na Rua do Ouro na Judiaria de Tui


A Sinagoga de Tui estava localizada próxima da Porta da Pia da muralha medieval, cujo nome “Pia” provém do banho ritual judaico ou micvé que estava na sua proximidade, com a dimensão de 25m2, estava escavado na rocha e provavelmente nascia no seu fundo um manancial, consoante as prescrições religiosas. Na muralha de Tui a existência de uma torre chamada “do Judeu” evidência a presença judaica. De resto na Rua Entre-fornos (antiga Triparia) achava-se o açougue judaico, o único documentado na Galiza.

Nas ruas do bairro judeu de Tui ainda existem casas manuelinas do seculo XV, algumas com falsos arcos conopiales, nalguns casos coroados com uma cruz nas portas ou janelas, como na casa situada no nº 9 da Rua de S. Telmo.



Casa do séc. XV com lintel manuelino com cruz




No número 46 da Rua Carpentaria uma casa de nova construção conserva sobre a porta de entrada o antigo lintel de uma habitação medieval que está decorado também com um falso arco conopial coroado por uma cruz.

Lintel manuelino do séc. XV com cruz numa casa de Tui



Algumas destas casas do século XV têm cruzes gravadas nas suas fachadas, como a do nº 82 da Rua Lorenço Cuenca.




Antes da expulsão dos Judeus de 1492, na altura no ano de 1464, estima-se que por volta de 7 por cento da população de Tui fosse judaica, tornando-se, destarte, na percentagem mais elevada da Galiza. A documentação conservada refere que os Judeus de Tui trabalhavam no artesanato, em tarefas relacionadas diretamente com a catedral e o cabido, registando-se a existência de pedreiros e de ourives.

Após a expulsão dos Judeus de Portugal (1496), Tui começou a receber inúmeras quantidades de cristãos-novos refugiados de Portugal quando o édito de expulsão dos Reis Católicos. Com a passagem dos anos quase todos se converteram ao catolicismo, ingressando grande parte na igreja e até ascender na hierarquia eclesiástica. De facto, a sé episcopal de Tui solicitou o estabelecimento do Estatuto de limpeza de sangue em 1609 para travar a ascensão na hierarquia dos cristãos-novos. O pedido, reiterado em 1616, foi desaprovado pela Câmara de Castela da que dependia a igreja galega.


Porém a actividade da Inquisição testemunha-se na coleção de “sambenitos” existente no Museu Diocesano, os únicos que se conservam não apenas na Galiza, mas no Estado espanhol.



Hoje, e graças ao crescente interesse pelo passado hebraico da Galiza, a vila de Tui aderiu à rede espanhola de judiarias dentro do programa Caminhos de Sefarad.



Fontes:
Google Maps
E. Fonseca Moretón

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