A Judiaria de Tui
Tui é um município raiano da Espanha na comarca do Baixo
Minho, província de Pontevedra, comunidade autónoma da Galiza, de área 68,3 km²
com população de 16948 habitantes (2007) e densidade populacional de 236,69
hab/km². Situada à beira do rio Minho, é a principal fronteira – por
autoestrada e caminho-de-ferro – entre a Galiza e Portugal (Valença do Minho).
Tui teve desde da Idade Média uma grande importância. O seu
papel na história galega foi determinante pelo seu carácter fronteiriço com
Minho, o que lhe deu uma grande importância militar. Além disso, durante da
Idade Média Tui foi uma rota comercial muito importante ligada ao porto
fluvial.
A cidade de Tui coroada pela
catedral-fortaleza
A sua actual localização deve-se á trasladação da cidade depois
da carta foral de 1170, levada a cabo pelo Rei Fernando II no século XII,
encerrando-a em muralhas (acabadas no século XIII) e das que ainda se conserva
a Porta da Pia.
A catedral-fortaleza, iniciada no século XII, está situada
no local mais alto da cidade e está circundada pela cidade velha. No claustro
gótico da Catedral pode-se observar uma inscrição, ainda clara, dum candelabro
judaico de sete braços (menorah) em frente à entrada da sala capitular, do
século XII. Pelo seu tamanho e significado, a gravura desta menorah não pode de
forma alguma, ser confundida com a marca do pedreiro.
A presença de Judeus em Tui está documentada desde os
séculos XIV e XV, com uma Judiaria de certa importância, existindo nela duas
sinagogas, cemitério e açougue. Porém, pouco se sabe da comunidade hebraica de
Tui, embora se ache que foi bastante importante, dando-lhe uma grande
mobilidade geográfica ao estar próxima de outras cidades e portos importantes
como Vigo, Baiona ou Salvaterra do Minho, onde houve assentadas e prósperas
colónias judias.
Existem duas teorias sobre a localização da Judiaria de
Tui: por um lado, que esta estaria localizada fora da cidade, num bairro
denominado de Saraiva e, por outro lado, que estaria intramuros. A hipótese da
localização extramuros não se corresponderia com qualquer modelo de distribuição
geográfica da população judaica e, melhor, poderia fazer referência aos campos
pertencentes à comunidade hebraica ou, mesmo, ao seu cemitério.
A documentação existente situa os Judeus a morar dentro da
muralha, não num bairro judeu como tal, mas espalhados dentro do perímetro
murado da cidade, ao abrigo da catedral-fortaleza e sob a proteção do bispado.
Porta Bergám na actual rua Tilve
No mapa de outras cidades, a Judiaria de Tui achar-se-ia no
entorno da Rua da Oliveira, muito próxima da Porta Bergám, e que muda o seu
nome para o de Porta Nova, dando passagem à Rua Nova, nome habitual que
receberam as ruas habitadas por Judeus após a segregação habitacional.
Planta medieval de Tui com
indicação das ruas com presença judaica
A Judiaria de Tui abrangeria mais concretamente as Ruas
Fornos, Entre-fornos (atual Rua do Prazer), Ruela da Soidade, e Rua e Ruela do
Ouro. Também é possível que os negócios hebraicos mais prósperos de Tui
estivessem localizados nas arcadas da Rua Corredoura.
R. da Soidade na Judiaria de Tui.
R. do Prazer e R. do Ouro na
Judiaria de Tui
Ruela do Ouro (à esquerda) e
escadas na Rua do Ouro na Judiaria de Tui
A Sinagoga de Tui estava localizada próxima da Porta da Pia
da muralha medieval, cujo nome “Pia” provém do banho ritual judaico ou micvé
que estava na sua proximidade, com a dimensão de 25m2, estava escavado na rocha
e provavelmente nascia no seu fundo um manancial, consoante as prescrições
religiosas. Na muralha de Tui a existência de uma torre chamada “do Judeu” evidência
a presença judaica. De resto na Rua Entre-fornos (antiga Triparia) achava-se o
açougue judaico, o único documentado na Galiza.
Nas ruas do bairro judeu de Tui ainda existem casas
manuelinas do seculo XV, algumas com falsos arcos conopiales, nalguns casos
coroados com uma cruz nas portas ou janelas, como na casa situada no nº 9 da
Rua de S. Telmo.
Casa do séc. XV com lintel
manuelino com cruz
No número 46 da Rua Carpentaria uma casa de nova construção
conserva sobre a porta de entrada o antigo lintel de uma habitação medieval que
está decorado também com um falso arco conopial coroado por uma cruz.
Lintel manuelino do séc. XV com
cruz numa casa de Tui
Algumas destas casas do século
XV têm cruzes gravadas nas suas fachadas, como a do nº 82 da Rua Lorenço
Cuenca.
Antes da expulsão dos Judeus de 1492, na altura no ano de
1464, estima-se que por volta de 7 por cento da população de Tui fosse judaica,
tornando-se, destarte, na percentagem mais elevada da Galiza. A documentação
conservada refere que os Judeus de Tui trabalhavam no artesanato, em tarefas
relacionadas diretamente com a catedral e o cabido, registando-se a existência
de pedreiros e de ourives.
Após a expulsão dos Judeus de Portugal (1496), Tui começou
a receber inúmeras quantidades de cristãos-novos refugiados de Portugal quando
o édito de expulsão dos Reis Católicos. Com a passagem dos anos quase todos se
converteram ao catolicismo, ingressando grande parte na igreja e até ascender
na hierarquia eclesiástica. De facto, a sé episcopal de Tui solicitou o
estabelecimento do Estatuto de limpeza de sangue em 1609 para travar a ascensão
na hierarquia dos cristãos-novos. O pedido, reiterado em 1616, foi desaprovado
pela Câmara de Castela da que dependia a igreja galega.
Porém a actividade da Inquisição testemunha-se na coleção
de “sambenitos” existente no Museu Diocesano, os únicos que se conservam não
apenas na Galiza, mas no Estado espanhol.
Hoje, e graças ao crescente
interesse pelo passado hebraico da Galiza, a vila de Tui aderiu à rede
espanhola de judiarias dentro do programa Caminhos de Sefarad.
Fontes:
Google Maps
E. Fonseca Moretón
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