Judiaria da
Vila de Alenquer
Vila portuguesa pertencente à região da Estremadura,
com cerca de 10.800 habitantes.
Em 1212
Alenquer é entregue a D. Sancha, filha d'el-rei D. Sancho, que no mesmo ano lhe
atribui foral. D. Dinis concederá novo foral em 1302, reformado em 1510 por D.
Manuel.
Durante a
Idade Média viu assentar a primeira comunidade judaica. Esta enraizou-se numa
zona do centro histórico que ainda hoje preserva os nomes de Rua, Travessa e
Beco da Judiaria.
O topónimo
Alenquer poderá derivar do árabe Al Ain Kair, já a tradição popular aponta este
termo para um tipo de cão alano, conhecido pela sua agressividade, e que na
época da reconquista, os mouros teriam com eles para dar o alerta em caso de
ataque, (D. Afonso Henriques deparou-se com uma cidade fortemente defendida
pelos mouros e decidiu conquista-la. Diz-se que na manhã em que o rei decidiu
tomar o castelo, indo ele com o seu séquito tomar banho no rio e fazer as suas
correrias, viram que um cão grande e pardo, que vigiava as muralhas do castelo
e se chamava Alão, calou-se e que lhe fez muitas festas. El rei, tomando isso
por bom presságio, decidiu começar o ataque ao castelo dizendo o "Alão
Quer". Estas palavras teriam servido para o futuro apelido da vila).
Lenda ou
não, esta localidade sob controlo muçulmano acabou por cair às mãos de D.
Afonso Henriques, recebeu foral em 1212 da infanta D.Sancha, filha do rei
D.Sancho I, cognominado o Povoador.
Pouco se
sabe desde quando os judeus começaram a viver em Alenquer, sabe-se sim, que a
Judiaria se manteve até aos nossos dias como espaço físico, e é perfeitamente
possível que esta comuna seja bem antiga, remontando aos alvores da
independência nacional.
Rua da Judiaria de Alenquer
Travessa da Judiaria de Alenquer
Beco da Judiaria de Alenquer
Segundo um
historiador local, Guilherme Henriques, este refere-se sobre a questão da
seguinte forma:
"...No
fim da rua dos muros, próximo da Porta da Senhora da Conceição, existem alguns
quintais /casas arruinadas, denominadas de Judiaria".
Terá sido
nesta área que a gente laboriosa da "Nação" fez a sua vida e
desenvolveu os seus negócios, ali criaram os seus filhos e seguiram as suas
ancestrais tradições.
Porém, eram
um grupo proscrito, e por isso viviam acantonados nestes reduzidos quintais,
aliás, o próprio Guilherme Henriques foca o facto de os cristãos de Alenquer
sentirem uma profunda aversão em relação aos filhos de Israel.
Judiaria
Tem-se
conhecimento que no ano de 1442, 54 anos antes do famigerado édito de expulsão,
haveria 18 judeus na vila, número ligado aos chefes de família.
João Pedro
Ferro, autor de "Alenquer Medieval", escreve que o real número de
judeus neste século XV rondaria aproximadamente as 70 a 90 almas,
identificando-os como mesteirais, ferreiros, sapateiros e alfaiates.
De referir
que durante a Idade Média, Alenquer era cabeça administrativa de um território
que hoje abrange os concelhos de Loures e Sintra, e talvez por isso mesmo, este
estudioso defende que esta comuna era bastante abastada, isto porque a
documentação que chegou aos nossos dias, revela-nos que os judeus de Alenquer,
pagavam mais impostos que os seus irmãos de Santarém, Leiria, Torres Novas,
Abrantes, Lamego, Porto, Ponte de Lima, Tomar, Setúbal e Coimbra, sendo apenas
suplantados pelas comunas de Lisboa, Beja, Guarda e Moncorvo, o que nos diz
muito sobre a importância desta comunidade no tecido económico desta região.
Nas
investigações levadas a efeito pela historiadora Maria José Pimenta Ferro
Tavares, já em finais do século XIV e em pleno séc. XV, existiam os seguintes
judeus em Alenquer:
1383 - Abraão – rendeiro
1383 - Fraire Nambram – rendeiro
1383 - Fraire Guedelha
1383 – Judas
1387 - David de Beja – ferreiro
1441 - David Natan – tosador
1442 - Abraão Cavaleiro – ferreiro
1442 - Abraão Cohen – alfaiate
1442 – Cinfa
1442 - Elias Sofer – alfaiate
1442 - Guedelha Cohen – ferreiro
1442 - Jacob Mardoqueu – ferreiro
1442 - José Ambram – alfaiate
1442 - Judas Carminato
1442 - Judas Mancharra – ferreiro
1442 - Judas Recas (ou Rocas) – alfaiate
1442 - Moisés Abibe – alfaiate
1442 - Moisése – sapateiro
1442 - Salomão Vivaz
1442 - Samuel Franco
1481 -
Salomão Trigo (ou Torigo) – sapateiro
Considerados
como os responsáveis do incêndio da igreja da Várzea, os judeus foram expulsos
da vila no final do século XV, sem contudo antes terem sido condenados a
reedificar o templo cristão.
Igreja da Várzea foto Ziva David tirada por Carlos Baptista
Alenquer
possuía cemitério hebraico, hoje, a sua localização está sob a antiga Real
Fábrica de Papel, às portas da vila.
João Pedro
Ferro também em "Alenquer Medieval" refere-se ao "Adro dos
Judeus" como o local de enterramento dos mortos da comuna judaica.
Antigo cemitério – actual edifício da Fábrica de Papel em Alenquer - Adro dos Judeus
Foto
tirada por Rafael Baptista
Por este
passado de comunidades judaicas na zona histórica da vila, o município de
Alenquer aderiu à Rede de Judiarias de Portugal – Rota Sefarad, com o objetivo
de reabilitar o património relacionado com a herança judaica e de estabelecer
políticas de promoção turística e cultural entre as entidades aderentes.
Fontes:
http://questomjudaica.blogspot.pt/2013/11/alenquer.html
http://arquivomuseualenquer.blogspot.pt/2011/10/judiaria-de-alenquer.html
http://www.panoramio.com/photo/1082045
A maioria das fotos: Google maps
Outras fotos de Ziva David - Tiradas por Rafael e Carlos Baptista
Cara Ziva:
ResponderEliminarAlenquer quererá dizer Alani+Ker, ou pedras/templo dos Alanos e o nome será do séc. V dC/EA. Quanto à tradição dos cães alãos, vulgares no Portugal medievo, eram cães pastores-guardas dos Arianos das estepes. Daí a sua presença no local, onde estacionaram estes nómadas. Há mais casos em outros locais da Europa ocidental.
Cara Inês:
ResponderEliminarGostei muito do seu esclarecimento e acrescento a este artigo. Os vossos comentários enriquecem-nos a todos. Muito obrigada. :) Ziva David
Cara Ziva: agradeço-lhe por este site. Tenho aprendido muito. A história dos judeus em Portugal interessa-me: por ser parte do país; e porque 'todos' somos mais ou menos descendentes dos «escondidos».
ResponderEliminarJá agora sabe algo sobre a aldeia de mineiros judeus que existiu entre Arganil e Côja? (Coimbra). Para além de umas menções medievais vagas, na zona não há memória, mas na zona foi moda deitar-se fora a história.
Obrigada
Olá Inês, Obrigada pelas suas amaveis palavras. Andei à procura antes de lhe responder, mas ainda não encontrei nada, vou continuar a pesquisar, entretanto fica aqui publicada a sua questão, pode ser que alguém conheça e nos mande um link com alguma informação. Também tenho uma amiga em Coimbra muito querida (Dora Caeiro) e vou perguntar-lhe, se ela souber vai de certeza ajudar-nos. :)
ResponderEliminarA terra onde nasci.
ResponderEliminarE que é uma bela terra Luisa. :)
ResponderEliminarA casa onde nasci parece-me que ainda pertencia ao bairro da judiaria. Tenho antepassados Silva, Oliveira, Soares, Ferreira, mas não sei se têm origem judia.
EliminarÉ bem provável que tenha Luísa, mas isso requer um extenso estudo. Por vezes o nome inicialmente diz-nos que sim, mas nem sempre é uma realidade. Muitos dos nomes eram dados ou adquiridos por motivos diferentes, por este motivo, sem o estudo nunca saberemos ao certo. O mesmo acontece com os meus apelidos. Existem famílias judias com os meus dois apelidos, ou seja tanto o materno como o paterno, mas não sei se é o meu caso, só o poderei afirmar se um dia conseguir reunir todas as provas, o que é muito complicado, no meu caso pelo menos. :)
ResponderEliminarQuando entenderem vir a Alenquer proponho-vos um Roteiro por toda esta zona judaica, bastando para isso deslocarem-se ao Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição e falarem comigo.
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