O dia em que
Hitler matou um craque
Matthias Sindelar.
Um nome simples para aqueles nomes confusos austríacos, mas no futebol, não era
simples. Longe disso. Era um monstro.
Poucos sabem, mas a seleção austríaca era a
grande potência do mundo todo nos anos 1930; era chamada de Wonderteam. Havia
alguns grandes jogadores, como o artilheiro Bican, a muralha Raftl, e o
zagueiro Schmaus, mas nenhum chegava aos pés do cerebral meio-atacante
Sindelar.
Rápido, habilidoso, chutava bem com as duas
pernas, e era disputado já por alguns clubes europeus, mas não. Preferiu ficar
no seu clube de coração, o Áustria Viena, pelo qual defendeu por treze anos da
sua vida, de 1926 a 1939.
O “homem de papel”, como era conhecido devido à
sua elasticidade, ganhou duas Copas Mitropa, a precursora da Liga dos Campeões,
e também um campeonato austríaco. Mas foi na seleção austríaca que ganhou
renome internacional. De 1930 a 1933, a selecção austríaca disputou 16 partidas,
e atingiu a bagatela de 13 vitórias, 2 empates e 1 derrota, para Inglaterra,
saindo aplaudida por quase ter vencido o jogo. Além disso, marcara 52 golos,
uma média de mais de 3 golos por partida.
Na Copa de 1934, Sindelar jogou a primeira
partida contra a França, e logo marcou o seu golo. Depois, nas quartas de
finais, fez de tudo, dando diversos passes que poderiam ser golo. Não anotou o
seu, mas foi o melhor em campo contra a Hungria. Mas a Áustria acabou eliminada
quando enfrentou a anfitriã Itália (isso mesmo, a que jogava, e se perdesse,
morreria). Isso, aliado à marcação desleal de Monti sobre Sindelar, eliminou as
chances austríacas no mundial. Sindelar nem jogou na disputa de terceiro lugar,
porque se lesionou e teve que sair.
Sindelar continuou jogando o seu futebol alegre
e vistoso, pela sua equipa Áustria Viena. Até que chegaram as eliminatórias
para o mundial de 1938, a ser disputado na França. Sindelar participou das
eliminatórias pelo Wonderteam, e como era de se esperar, logo a Áustria esteve
classificada.
Mas é aí que começa tudo. Se alguns sabem de
história, já devem saber o que aconteceu no dia 13 de Março de 1938; para os
que não sabem, um breve resumo: a Alemanha, vizinha da Áustria, vivia sob um
regime ditatorial de Adolf Hitler. O führer convidou o líder do partido nazi
austríaco, Arthur Seyss-Inquart, para um jantar na casa dele. Então os dois
trocaram algumas ideias, se tornaram amigos, até que no dia 13 de Março de
1938, Seyss-Inquart anunciou a unificação da Áustria com a Alemanha. Então, a
economia alemã melhorou, a vida melhorou, e um país a menos no mundo…
No entanto, este acontecimento também trouxe
mudanças no futebol. Se tudo fosse simples, os craques austríacos jogariam sem
problemas na seleção alemã. E isso até que aconteceu em parte, porque Raftl,
Pesser, Mock, Hahnemann e Mock, antigos integrantes do Wonderteam, foram para a
seleção alemã, a Nationaelf. Mas e Matthias Sindelar?
Sindelar era um homem de ouro. Não aceitava o
regime ridículo, o preconceito obrigatório contra os negros, homossexuais, e,
principalmente, judeus – até porque Sindelar era judeu. Como se não bastasse
ser judeu, ainda era social-democrata. Oh, os nazis ouviram isso. Matar? Trabalhos forçados? Depende. Se ele aceitasse defender a sua nova
pátria, isso logo se esqueceria, e ele se tornaria um alemão legítimo. Mas
Sindelar não era nazi! Odiava isso, e se recusou a defender essa selecção
ridícula.
Hitler ficou louco; como pode, um jogador de
futebol, profissão tão ridícula, não aceitar seu poder? Irado, acionou a
Gestapo. Começaram a investigá-lo, e descobriram, também, uma partida entre
Alemanha x Áustria, para comemorar a unificação, em Abril de 1938, na qual
Sindelar jogou por todos, foi o melhor em campo, e ao fazer um golo se dirigiu
às tribunas onde estavam Adolf Hitler e seus comparsas. Começou a dançar,
desrespeitando o ditador no meio dos alemães.
Comemorando com
dança na direcção de Hitler
Sindelar também não aceitava as convocações,
como foi dito antes. Com isso, a Gestapo, depois de muita investigação, decidiu
dar um fim à sua vida, com a justificativa de mau-exemplo para o povo austríaco
– afinal, ele era um ídolo. Para ninguém desconfiar, esperariam 6 meses depois
do fim da Copa do Mundo.
Sindelar
(esq.) jogando com as cores da Áustria
contra a Alemanha
E Sindelar e sua namorada, foram mortos a
pedido de Hitler. Intoxicados por monóxido de carbono, em seu próprio
apartamento. E o homem que desafiou o nazismo estava morto. Perdera uma
batalha, como se tivesse perdido para um adversário mais forte que ele. Como
jogador, não bastava só um para se marcar. Eram precisos vários para tentar ter
alguma chance com ele. O nazismo era exatamente o que podia vencê-lo. Vários
jogadores, fortes, que usavam armas desleais dentro de jogo. E, abatido em seu
quarto, enquanto estava dormindo, não teve tempo de usar sua agilidade, e sair
correndo. Ou mesmo driblar os generais nazis – nada disso foi possível.
E o maior jogador dos anos 30 acabara de
morrer. Mas a memória dele, suas jogadas, quem o viu, nunca irá esquecê-lo. O
maior austríaco de todos os tempos. Matthias Sindelar.
“Nesta casa, morreu no dia de 23 de Janeiro de
1939, em circunstâncias pouco claras, o Rei do futebol de Viena, Matthias
Sindelar, apelidado de “O homem de papel”. Sindelar, nascido em 10 de Fevereiro
de 1903, em Kozlau (hoje Kozlov, na República Checa), foi durante anos o
coração e a cabeça do Áustria Viena e do legendário Wonderteam austríaco.
O Wunderteam:
Sindelar é o
5º, em pé, da esquerda para a direita
Fontes:
Conteúdo retirado
do blog: Fichas de futebol – http://fichasfutebol.blogspot.com
e
http://chicomiranda.wordpress.com/2010/07/24/o-dia-em-que-o-nazismo-matou-um-craque/
http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=21011&epoca_id=0
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