Abraham bar Samuel Abraham Zacut
Judeu sefárdico, rabino, astrónomo, matemático e historiador que serviu na corte do Rei João II de Portugal. Foi em Leiria que Samuel e Abraão d'Ortas publicaram as suas famosas tabelas numéricas, o Almanach perpetuum.
O Almanach perpetuum foi um dos quatro primeiros livros impressos em Portugal e o primeiro no que respeita às Matemáticas. É um livro raro, e por isso Joaquim Bensaúde fêz reproduzir em 1915 pela fotogravura um exemplar que existe na Biblioteca de Augsburg, na Alemanha, e a tradução em castelhano dos Cânones (Regras para o seu uso), que existe na Biblioteca Pública de Évora.
Biografia
Zacuto nasceu em Salamanca, em cerca de 1450. Estudou astrologia e astronomia e tornou-se professor destas disciplinas na Universidade de Salamanca, e mais tarde nas de Saragoça e Cartagena. Também se formou em lei judaica e tornou-se rabino.
Quando da expulsão dos judeus de Espanha em 1492, Zacuto refugiou-se em Lisboa, Portugal. Foi chamado à corte portuguesa e nomeado Astrónomo e Historiador Real por João II, cargo que exerceu até ao reinado de Manuel I.
Foi consultado por este monarca acerca da possibilidade de uma viagem por mar até à Índia, que apoiou e encorajou.
As tabelas de 1496
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O astrolábio planisférico era um instrumento muito sofisticado, um autêntico computador analógico que exigia um grande rigor e cálculos complexos para a sua construção. Julga-se que nunca foram construídos tais instrumentos no nosso país, mas o astrolábio simplificado que os cosmógrafos e navegadores das Descobertas terão inventado, tornou-se num instrumento de grande utilidade para a navegação.
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Abraão Zacuto foi o autor de um novo e melhorado astrolábio, que ensinou os navegantes portugueses a utilizar, e também de melhoradas tábuas astronómicas que ajudaram a orientação das caravelas portuguesas no alto-mar, através de cálculos a partir de observações com o astrolábio.
As suas contribuições salvaram sem dúvida a vida de muitos marinheiros portugueses e permitiriam as descobertas do Brasil e da Índia. Ainda em Espanha, escreveu e publicou em 1491 um tratado de astronomia em hebreu, com o título Ha- Hibbur ha-Gadol.
O célebre Almanach Perpetuum foi escrito entre os anos de 1473 e 1478, data que é referida pelo seu autor na sua introdução. O livro foi reeditado e impresso tipograficamente em Leiria em 1496, tendo sido traduzido do hebreu para o latim e do latim para o castelhano por Mestre José Vizinho, médico da corte de D. João II e astrónomo, que foi discípulo do autor.
Em Leiria trabalhava Samuel D'Ortas e os seus três filhos. Tinham imprimido nessa cidade dois livros em hebraico, Provérbios com comentários, em 1492, e os Primeiros Profetas, com comentário, em 1495.
Foi na tipografia de Leiria de Abraão d'Ortas que Zacuto publicou em 1496 a obra Biur Luchot (Explicações das Tábuas), Tabula tabulay celestius motuuz astronomi zacuti necnon stelay firay longitudinez ac latitudinez. , que foi traduzida do hebraico para o latim pelo seu discípulo José Vizinho.
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Clique na imagem para ampliar. Primeira página das tabelas do Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto, exemplar existente na Biblioteca Nacional. As tabelas prolongavam-se por mais 300 páginas. Foi impresso em Leiria em 1496 pelo judeu Abraão d'Ortas.
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Neste livro publicou as tábuas astronómicas para os anos de 1497 a 1500, que foram utilizadas, juntamente com o seu astrolábio melhorado de metal, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral nas suas viagens.
O método para a determinação das latitudes foi aplicado na náutica lusitana pela primeira vez por José Vizinho, cosmógrafo e médico de João II, em uma viagem que, para o experimentar, fêz à Guiné em 1485.
Entre as aplicações que depois se fizeram dele, ficaram especialmente assinaladas a que fêz Vasco da Gama na ilha de Santa Helena, quando aí abordou na sua primeira viagem a Índia, e a que fêz Mestre João, médico-astrólogo da armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, na ocasião de esta armada aportar a terras de Santa Cruz.
Escreve Fernado Reis:
"Com base nas primeiras quatro tábuas solares do Almanach era possível determinar com rigor o lugar do sol na eclíptica. Com este valor, recorrendo a uma quinta tábua, era possível obter o valor da declinação do Sol, parâmetro astronómico necessário ao cálculo da latitude do lugar de observação quando utilizada a medida da altura meridiana desse astro.
Estas tábuas eram utilizáveis directamente para os anos 1473 a 1476. Para os anos posteriores, era necessário fazer alguns cálculos, por sua vez facilitados por uma outra que Zacuto incluiu na obra. O grau de precisão oferecido por estas tábuas era tal que elas foram utilizadas como base de diversas outras tábuas destinadas aos marinheiros, onde se indicavam os resultados dos cálculos requeridos pelas tábuas de Zacuto.
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Os regulamentos das antigas navegações portuguesas foram reunidos num livro intitulado Regimento do astrolábio, do qual se conhecem dois exemplares, pertencentes a duas edições diferentes: um, mais antigo, encontrado por Joaquim Bensaúde na Biblioteca Nacional de Munique, e outro, mais completo e mais perfeito, encontrado por Luciano Cordeiro na Biblioteca Pública de Évora.
"De nada lhe valeram os serviços que fizera às nossas navegações com as suas tábuas e com o seu ensino. Expulso primeiramente da Espanha, onde nascera, e depois de Portugal, a nova pátria que adoptara, lá foi seguindo na sua peregrinação até Tunis e depois até à Síria, onde foi procurar nos islamitas de Damasco a tolerância religiosa que não encontrara entre os cristãos da Ibéria." (Francisco Gomes Teixeira).
A expulsão e o exôdo
Zacuto viveu em Portugal apenas 6 anos, porque em 1496 Manuel I seguiu o exemplo dos Reis Católicos de Espanha e decretou a expulsão do país de todos os judeus que recusassem a conversão ao catolicismo através dos baptismo. Zacuto foi um dos poucos a conseguir fugir de Portugal após as conversões à força e as proibições de emigração que Manuel I impôs aos judeus portugueses.
Zacuto refugiou-se em Tunes, no Norte de África, tendo depois passado para a Turquia, vindo a morrer na cidade de Damasco (Império Otomano) em ano posterior a 1522.
Em 1504, em Tunes, Zacuto escreveu uma História dos Judeus, Sefer ha-Yuasin, desde a Criação do Mundo até 1500, e ainda vários tratados astronómicos. Esta História foi muito respeitada e republicada em Cracóvia em 1581, em Amsterdão em 1717, e em Königsberg em 1857. Em Londres foi publicada uma edição também 1857.
Temas relacionados
Além do Almanach de Zacuto outras obras tiveram uso na navegação marinha da época — por exemplo o Repertório dos Tempos, publicado por Valentim Fernandes.
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