domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eliezer Burlá


"O Hazan e a musica na sinagoga"


Em sua aceção moderna, o termo hebraico de hazan designa o cantor que conduz o serviço das orações na Sinagoga. Nos tempos talmúdicos, ele era a pessoa que a comunidade designava para, entre outras coisas, preparar os rolos da Torá para serem lidos e tocava o shofar para anunciar o início do Shabat e os festivais do calendário judaico.
É preciso não confundir o hazan com o sheliah tzibur, literalmente um enviado da congregação e citado na Mishná. O sheliah tzibur, originalmente, era escolhido por sua maestria de lidar com os temas litúrgicos próprios ao Shabat e aos dias de festa e à sua capacidade de improvisar melodias durante o ofício. Ele recitava o Baruch, o Shemá e a Amidá. A partir do século XVIII o Hazan, que era quase sempre músico e cantor profissional, passou a substituí-lo nas mais importantes Sinagogas urbanas das grandes cidades.

Nem todos os hazanim cumpriam a função de rabinos, como ocorreu, por exemplo, durante a Idade Média, em certos países da Europa. O Hazan deveria ter as seguintes características: uma voz agradável, boa aparência, ser casado, usar barba, conhecer muito bem a liturgia. Além disso, deveria ter um comportamento irreprochável de forma a ganhar o respeito de sua comunidade. Estes atributos eram levados tão a sério que no século XVI o Código da Lei Judaica proibia os cantores de usarem a voz para se exibirem, como se estivessem numa casa de espetáculos. No decorrer do tempo, o canto na sinagoga asquenaze exercia a função musical, vocal e litúrgica. Na tradição sefardi o canto manteve-se fiel às melodias tradicionais e a proeza vocal ficou em segundo plano.
Há um comentário no Shulhan Aruch (a obra de Joseph Caro que já foi abordada num de nossos editoriais) segundo o qual o cantor deve ser, de preferência, jovem, com boa voz, capaz de compreender as orações que está recitando. Para Caro, isto era mais importante do que contratar um homem mais velho, de voz possante que não tivesse o domínio do hebraico e, portanto, incapaz de compreender as orações, isto é, o sentido das palavras que estaria pronunciando.
O estilo e a evolução da música litúrgica foram muito afetados pelas condições sociais nos quais viviam os judeus da Europa. No início do século passado muitos cantores adquiriram uma educação musical formal e passaram a transcrever as melodias tradicionais em arranjos mais modernos nas quais se podiam utilizar o coro. Daí nasceu a expressão Hazanut, caracterizada por uma linha melódica simples e clara, sem enfeites e adaptada aos serviços formais que se realizaram em Sinagogas maiores.
 

A dispersão dos judeus pelos quatro cantos do mundo e o seu contacto com culturas diversas também influenciaram o canto na sinagoga. Os judeus que viveram sob o império otomano, numa sociedade dominada pelo islamismo, introduziram em seus cantos muitas nuances das melodias árabes. Isto se nota, de forma mais acentuada nas canções em ladino. Os próprios poetas da Idade de Ouro, na Península Ibérica, produziam as suas obras utilizando o sistema de estrofes dos poetas muçulmanos. Nas canções hassídicas encontram-se componentes da música eslava, que está presente nas próprias danças. Nos Estados Unidos, sobretudo nos Yamim Noraim, criou-se o hábito de entregar a Hazanut a tenores e baixos originários da ópera.
 
Existem hoje discos gravados com cantores famosos dos palcos da Broadway e do Carnegie Hall. Em Israel Yoram Gaon, um cantor popular gravou inúmeros discos em Hebraico e em Ladino que recordam as melodias da Idade Média. Muitas delas são cantadas durante as nossas festividades, porque conservam o seu sabor original. Qual festa de casamento pode prescindir do Oyra e do Ava Naguila para induzir todo mundo a cantar e dançar?
 
Sem a presença de um bom Hazan, a Sinagoga perde grande parte de seu brilho. Com ele, a Sinagoga ganha uma alegria que se estende às próprias orações.
 

Fonte:
 
Or Torá Beth-El
Enviado por Leon M. Mayer
Presidente da Loja Albert Einstein da
B'nai B'rith do RJ

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