"O Hazan e a musica na sinagoga"
Em sua aceção moderna, o
termo hebraico de hazan designa o cantor que conduz o serviço das orações na
Sinagoga. Nos tempos talmúdicos, ele era a pessoa que a comunidade designava
para, entre outras coisas, preparar os rolos da Torá para serem lidos e tocava
o shofar para anunciar o início do Shabat e os festivais do calendário judaico.
É preciso não confundir o
hazan com o sheliah tzibur, literalmente um enviado da congregação e citado na
Mishná. O sheliah tzibur, originalmente, era escolhido por sua maestria de
lidar com os temas litúrgicos próprios ao Shabat e aos dias de festa e à sua
capacidade de improvisar melodias durante o ofício. Ele recitava o Baruch, o
Shemá e a Amidá. A partir do século XVIII o Hazan, que era quase sempre músico
e cantor profissional, passou a substituí-lo nas mais importantes Sinagogas
urbanas das grandes cidades.
Nem todos os hazanim
cumpriam a função de rabinos, como ocorreu, por exemplo, durante a Idade Média,
em certos países da Europa. O Hazan deveria ter as seguintes características:
uma voz agradável, boa aparência, ser casado, usar barba, conhecer muito bem a
liturgia. Além disso, deveria ter um comportamento irreprochável de forma a
ganhar o respeito de sua comunidade. Estes atributos eram levados tão a sério
que no século XVI o Código da Lei Judaica proibia os cantores de usarem a voz
para se exibirem, como se estivessem numa casa de espetáculos. No decorrer do
tempo, o canto na sinagoga asquenaze exercia a função musical, vocal e
litúrgica. Na tradição sefardi o canto manteve-se fiel às melodias tradicionais
e a proeza vocal ficou em segundo plano.
Há um comentário no
Shulhan Aruch (a obra de Joseph Caro que já foi abordada num de nossos
editoriais) segundo o qual o cantor deve ser, de preferência, jovem, com boa
voz, capaz de compreender as orações que está recitando. Para Caro, isto era
mais importante do que contratar um homem mais velho, de voz possante que não
tivesse o domínio do hebraico e, portanto, incapaz de compreender as orações,
isto é, o sentido das palavras que estaria pronunciando.
O estilo e a evolução da
música litúrgica foram muito afetados pelas condições sociais nos quais viviam
os judeus da Europa. No início do século passado muitos cantores adquiriram uma
educação musical formal e passaram a transcrever as melodias tradicionais em
arranjos mais modernos nas quais se podiam utilizar o coro. Daí nasceu a
expressão Hazanut, caracterizada por uma linha melódica simples e clara, sem
enfeites e adaptada aos serviços formais que se realizaram em Sinagogas
maiores.
A dispersão dos judeus
pelos quatro cantos do mundo e o seu contacto com culturas diversas também
influenciaram o canto na sinagoga. Os judeus que viveram sob o império otomano,
numa sociedade dominada pelo islamismo, introduziram em seus cantos muitas
nuances das melodias árabes. Isto se nota, de forma mais acentuada nas canções
em ladino. Os próprios poetas da Idade de Ouro, na Península Ibérica, produziam
as suas obras utilizando o sistema de estrofes dos poetas muçulmanos. Nas
canções hassídicas encontram-se componentes da música eslava, que está presente
nas próprias danças. Nos Estados Unidos, sobretudo nos Yamim Noraim, criou-se o
hábito de entregar a Hazanut a tenores e baixos originários da ópera.
Existem hoje discos
gravados com cantores famosos dos palcos da Broadway e do Carnegie Hall. Em
Israel Yoram Gaon, um cantor popular gravou inúmeros discos em Hebraico e em
Ladino que recordam as melodias da Idade Média. Muitas delas são cantadas
durante as nossas festividades, porque conservam o seu sabor original. Qual
festa de casamento pode prescindir do Oyra e do Ava Naguila para induzir todo
mundo a cantar e dançar?
Sem a presença de um bom
Hazan, a Sinagoga perde grande parte de seu brilho. Com ele, a Sinagoga ganha
uma alegria que se estende às próprias orações.
Fonte:
Or Torá Beth-El
Enviado por Leon M. Mayer
Presidente da Loja Albert Einstein da B'nai B'rith do RJ
Enviado por Leon M. Mayer
Presidente da Loja Albert Einstein da B'nai B'rith do RJ
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