Salomão
Nunes de Carvalho
Os Nunes
Carvalho - daguerreotipias sefarditas
A 22 de Agosto de 1853, o
americano Salomão Nunes Carvalho (1815-1897), judeu sefardita de origem
portuguesa, pintor e fotógrafo, com atelier
inaugurado a 1 de Junho de 1849 em Baltimore, encontrou-se com o coronel
John Charles Frémont (1813-1890), astrónomo, geógrafo e expedicionário de
prestígio, que fora incumbido de organizar uma expedição que fizesse o
levantamento orográfico para a execução do futuro traçado da primeira linha de
caminho-de-ferro transcontinental que atravessaria o Kansas, as montanhas
rochosas do Colorado, Utah até Los Angeles, entre o rio Mississípi e a Costa do
Pacífico. Frémont procurava um desenhador e fotógrafo para acompanhá-lo na
expedição. Salomão Nunes Carvalho aceitou de imediato o convite e assim
juntou-se à expedição como desenhador e fotógrafo oficial. Teve apenas dez dias
para preparar todo o material fotográfico necessário para esta viagem arrojada,
que lhe apresentava problemas acrescidos pela necessidade de cumprir com as
orações da religião que professava e com regras muito especificas quanto aos
alimentos kosher, e ainda, as
adversidades climatéricas de um Inverno impiedoso, que se imporia no cume das
montanhas com temperaturas que chegariam a rondar os 30 graus negativos e que
previa fizessem alterar todo o processo comum das aplicações correntes para a
preparação, revelação e posterior conservação de todas as chapas de
daguerreótipos.
As suspeitas de S. N. Carvalho
quanto à morosidade do processo fotográfico naquelas circunstâncias
climatéricas viriam a concretizar-se. O fotógrafo fez-se valer dos seus
conhecimentos em química e estudos sobre a incidência da luz, dedicando-se
diariamente à preparação de todo o material fotográfico e obrigando à paragem
da expedição por um período de 12 horas em cada local, onde eram efetuadas as
tomadas de vista, para que efetivamente se tivesse a certeza que as imagens
haviam sido bem captadas e resistiriam às vicissitudes das intempéries. Isto
contribuiu para uma sucessão de atrasos na expedição, o que veio a revelar-se
desastroso pois para além de ter trazido um maior desgaste físico ao grupo fez
com que este chegasse às Montanhas Rochosas do Colorado numa altura em que o
clima era mais severo.
A Expedição viria a revelar-se
um desastre. Salomão Nunes Carvalho, depois de ter suportado o frio e a neve, a
fome e a doença, enfrentado índios e animais selvagens, ter quebrado as regras
rígidas da alimentação da religião judia (Kashrut),
numa aventura em que nem todos chegaram ao fim e que para muitos o preço foi a
morte; em Utha, o fotógrafo sefardita viu-se obrigado a abandonar a expedição
por motivos de saúde.
Salomão Nunes Carvalho regressa
desta aventura com 300 daguerreótipos tornando-se o primeiro daguerreotipia a
fotografar o Kansas. Segundo Robert Faft “...As mais antigas fotografias feitas
no Kansas que eu tenha conhecimento e que sejam mencionadas são atribuídas a
Salomão Nunes Carvalho – durante a expedição Frémont em 1853/54” in A Photographic Históry of Early
Kansas. Antes da expedição ao Far Weste,
Salomão Nunes de Carvalho trabalhou na Broadway em New York City para Mathew Brady (1823-1896) e também para o atelier fotográfico de Jeremiah Gurney
(1812-1886), provavelmente, na mesma altura em que aí se encontrava o fotógrafo
português Joaquim José Pacheco (Joaquim Insley Pacheco), ver Registo Daguerreian de Craig (Pesquisa sobre os
fotógrafos americanos entre 1839-1860), John S. Craig atualização de 2003.
Acrescento agora, ao que aqui tenho vindo a escrever, o comentário de Carlos
Miguel Fernandes do blog No Mundo
http://no-mundo.weblog.com.pt/, e ao qual aproveito para agradecer:
"There was another young
newcomer to Broadway's photography row within the next few months. Brady
undoubtedly saw him, S.N. Carvalho, a brisk young man with a short black beard,
probably the first American to penetrate America's Wild West with a camera. “
In Mathew Brady - Historian with a Camera, Bonanza Books, New York,
1955.
Em 1856, Salomão Nunes Carvalho
descreve as suas experiências durante a expedição, num livro intitulado “Incidents of Travel and Adventure in the Far
West”, publicado por Derby e Jackson, Nova Iorque 1859.
http://www.jewish-history.com/WildWest/Carvalho/index.html.
Nestes testemunhos,
é mencionado que as primeiras vistas foram captadas perto de Westport a 17 ou 18 de Setembro de 1853.
Desta expedição que ficou para a
história norte americana como um feito para a época, onde Salomão Nunes
Carvalho viu reconhecida a sua habilidade e mestria profissional e John Charles
Frémont alicerçou condições para se lançar na corrida ao Senado, não foi feito
relatório escrito e a memória da expedição registada por S. N. Carvalho, assim
como as cópias feitas pelo conhecido fotógrafo norte-americano Mathew B. Brady,
perdeu-se para sempre aquando de um incêndio em Nova Iorque em 1881, num armazém
onde estavam guardados os daguerreótipos desta epopeia e grande parte das
cópias de Brady. Ao que se sabe, de 300 daguerreótipos restaram apenas 3 que
estão conservados e preservados pela Biblioteca do Congresso, em Washington.
Conhece-se ainda 34 gravuras que haviam sido abertas a partir dos
daguerreótipos feitos durante a expedição.
Fonte:
Blogue
Grand Monde
Sem comentários:
Enviar um comentário