GUARDA
UMA JUDIARIA MEDIEVAL
Olha a Judiaria com as ruas empedradas,
estreitas, e as casas de granito que guardam memórias e histórias que só elas
sabem…Abrigam crenças e mesteres, costumes, vidas que atraem curiosidades
porque marcadas pela Diferença.
Em cidade tão fria, de invernias longas,
os judeus, arruados juntos, ali
trabalham, vivem os seus amores, têm filhos, seguem a Lei de Moisés, celebrando
o calendário litúrgico, sagrando o Tempo. (…) Na Sinagoga praticavam a sua
religião; nas ruas soavam mil cânticos em língua sagrada.
Tempo de tolerância, não eram
obrigados a abraçar o cristianismo. D. João I manda mesmo publicar a bula do
papa Bonifácio IX (1389-1404) que, entre outras coisas, dispõe: “…nenhum cristão nom constranja os ditos
Judeus per força ou contra sua vontade ou talante a receber o sacramento do
Santo Bautismo.”
A
HISTÓRIA DE AMOR DE INÊS, A FILHA DO BARBADÃO, E O MESTRE DE AVIZ
“Muitos anos antes do édito de Fernando V que, como disse, atirou para
Portugal com milhares de famílias de judeus, já no nosso país se encontravam centenas
delas, apesar dos sacrifícios, das sujeições e dos vexames a que, como nos
outros países em que eram toleradas as obrigavam, havendo algumas na Guarda. Vai
até à Idade Média a época de mais relativo bem-estar para essa gente, tanto em
Itália como entre nós; e a prova é que, com quanto fosse tratada com desprezo,
tendo de usar fatos de certa cor, de residir em determinados bairros, de se
humilhar servilmente ante os cristãos, de sofrer apupos e extorsões de toda a
ordem, adoradores de Jeová, inimigos da divindade de Cristo.
Esta casou com o conde de Arundel e dela
procedem muitos membros da alta aristocracia da Inglaterra; e D. Afonso veio a
casar com D. Beatriz, filha do condestável D. Nuno Álvares Pereira e sua única
herdeira e foi o 1º duque de Bragança e o 9º conde de Barcelos.
Estes
factos têm contestadores, embora algo nebulosos, diga-se de passagem; todavia,
existe na Biblioteca Real d’Ajuda, segundo afirma Pinho Leal, um manuscrito que
é atribuído por autores circunspectos a Damião de Góis, os quais, sobretudo por
esse facto, consideram de todo o ponto verdadeiras as informações nele dadas, e
que comprovam a história do sapateiro judeu, deixando ver que ela não é uma
lenda.”
Mais uma preciosidade enviada por
Sónia Craveiro,
à qual desde já deixo o meu sincero agradecimento.
Fonte:
in GUARDA HISTÓRIA E CULTURA JUDAICA MUSEU, Edição Comemorativa do
VIII Centenário da Cidade da Guarda
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