segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NA JUDIARIA MEDIEVAL


GUARDA
 
UMA JUDIARIA MEDIEVAL
 


     Olha a Judiaria com as ruas empedradas, estreitas, e as casas de granito que guardam memórias e histórias que só elas sabem…Abrigam crenças e mesteres, costumes, vidas que atraem curiosidades porque marcadas pela Diferença.
 
     Em cidade tão fria, de invernias longas, os judeus, arruados juntos, ali trabalham, vivem os seus amores, têm filhos, seguem a Lei de Moisés, celebrando o calendário litúrgico, sagrando o Tempo. (…) Na Sinagoga praticavam a sua religião; nas ruas soavam mil cânticos em língua sagrada.





Tempo de tolerância, não eram obrigados a abraçar o cristianismo. D. João I manda mesmo publicar a bula do papa Bonifácio IX (1389-1404) que, entre outras coisas, dispõe: “…nenhum cristão nom constranja os ditos Judeus per força ou contra sua vontade ou talante a receber o sacramento do Santo Bautismo.”


A HISTÓRIA DE AMOR DE INÊS, A FILHA DO BARBADÃO, E O MESTRE DE AVIZ

        
         E não é na Guarda que é vivida a história de amor de Inês, a filha do Barbadão, e o Mestre de Aviz? A falta de documentação desenhou para o acontecimento contornos que se desejam e que o imaginário da cidade vai (re) criando e guardando ciosamente.

 
Carlos Oliveira conta-a assim:

 

Muitos anos antes do édito de Fernando V que, como disse, atirou para Portugal com milhares de famílias de judeus, já no nosso país se encontravam centenas delas, apesar dos sacrifícios, das sujeições e dos vexames a que, como nos outros países em que eram toleradas as obrigavam, havendo algumas na Guarda. Vai até à Idade Média a época de mais relativo bem-estar para essa gente, tanto em Itália como entre nós; e a prova é que, com quanto fosse tratada com desprezo, tendo de usar fatos de certa cor, de residir em determinados bairros, de se humilhar servilmente ante os cristãos, de sofrer apupos e extorsões de toda a ordem, adoradores de Jeová, inimigos da divindade de Cristo.
 
Foi então, quando Henrique II de Castela coagiu numerosas famílias de judeus a saírem daquele reino, expulsando-as pela primeira vez que vieram a refugiar-se nesta cidade, como muitos nobiliários afirmam, um sapateiro de nome Mem ou Mendo, o qual se estabeleceu aqui, convertendo-se em seguida à religião cristã. Em 1360 nasce-lhe uma filha, a célebre Inês, cujos dotes de beleza ninguém contesta, e o Mestre de Aviz, depois D. João I, teve amores com ela, resultando destas ligações de íntimo afecto um varão que se chamou D. Afonso e uma menina que teve o nome de Beatriz.
 
     Esta casou com o conde de Arundel e dela procedem muitos membros da alta aristocracia da Inglaterra; e D. Afonso veio a casar com D. Beatriz, filha do condestável D. Nuno Álvares Pereira e sua única herdeira e foi o 1º duque de Bragança e o 9º conde de Barcelos.

Estes factos têm contestadores, embora algo nebulosos, diga-se de passagem; todavia, existe na Biblioteca Real d’Ajuda, segundo afirma Pinho Leal, um manuscrito que é atribuído por autores circunspectos a Damião de Góis, os quais, sobretudo por esse facto, consideram de todo o ponto verdadeiras as informações nele dadas, e que comprovam a história do sapateiro judeu, deixando ver que ela não é uma lenda.



Mais uma preciosidade enviada por
Sónia Craveiro,
à qual desde já deixo o meu sincero agradecimento.



Fonte:
in GUARDA HISTÓRIA E CULTURA JUDAICA MUSEU, Edição Comemorativa do VIII Centenário da Cidade da Guarda

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