BRUNO
BETTELHEIM
(1903-1990)
Um judeu americano de origem austríaca que foi
psicanalista. A sua obra sobre as psicoses infantis é uma das mais importantes
da psiquiatria contemporânea. Com a ocupação da Áustria pela Alemanha Nazi, foi
internado em campos de concentração, entre 1938-39. Após a sua libertação
emigrou para os EUA, onde dirigiu, entre 1944 e 1973, a Escola Ortogénica da
Universidade de Chicago, uma comunidade para crianças com graves perturbações
mentais. Da sua bibliografia, destaca-se o popular título:
SEGUNDO BRUNO
BETTELHEIM
Se esperarmos viver não somente de momento a
momento, mas na plena consciência da existência, então a nossa maior
necessidade e a nossa mais difícil realização é encontrarmos um sentido para as
nossas vidas. (…) De forma a não estarmos à mercê dos caprichos da vida, é
preciso desenvolvermos os nossos recursos interiores, para que as nossas
emoções, imaginação e intelecto se apoiem e se enriqueçam mutuamente. Os nossos
sentimentos positivos dão-nos a força para desenvolver a nossa racionalidade;
só a esperança no futuro nos pode sustentar nas adversidades que
inevitavelmente encontraremos. (…)
Todos
temos tendência para avaliar os futuros méritos de uma atividade com base
naquilo que ela nos oferece agora. E isto é especialmente verdade para a
criança, que, muito mais do que o adulto, vive no presente e, embora sinta
angústia em relação ao futuro, tem a noção do que ele exigirá ou virá a ser. A
ideia de que aprender a ler nos pode habilitar a enriquecer posteriormente a
nossa vida futura é sentida como uma promessa vazia quando as histórias que as
crianças estão a ouvir ou a ler são estúpidas. (…)
Para
que uma história possa prender verdadeiramente a atenção de uma criança, é
preciso que ela a distraia e desperte a sua curiosidade. Mas, para enriquecer a
sua vida, ela tem de estimular a sua imaginação; tem de ajudá-la a desenvolver
o seu intelecto e a esclarecer as suas emoções; tem de estar sintonizada com as
suas angústias e as suas aspirações; tem de reconhecer plenamente as suas
dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que as
perturbam. (…)
Neste e noutros aspetos, em toda a «literatura infantil» - com raras
exceções – nada é mais enriquecedor e satisfatório, quer para a criança quer
para o adulto, do que o popular conto de fadas. (…)
Nos
contos de fadas, como na vida, o castigo (ou o medo dele) é somente uma
dissuasão limitada para o crime. A convicção de que o crime não compensa é uma
dissuasão muito mais eficaz, e é por isso que nos contos de fadas os maus perdem
sempre. Não é o facto de a virtude ganhar no fim que promove a moralidade, mas
sim o facto de que o herói é extremamente simpático para a criança, a qual se
identifica com ele em todas as suas lutas. Por causa desta identificação, a
criança imagina que sofre com o herói todas as suas provações e tribulações,
triunfando com ele quando a virtude triunfa também. A criança faz tais
identificações por si própria, e as lutas interiores e exteriores do herói
gravam nela a moralidade. (…)
Com os
agradecimentos habituais à minha amiga
Sónia
Craveiro
Beijinhos
Fonte:
"in
Psicanálise dos Contos de Fadas, Livraria Bertrand."
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