terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A psicanálise dos contos de fadas



BRUNO BETTELHEIM

(1903-1990)


Um judeu americano de origem austríaca que foi psicanalista. A sua obra sobre as psicoses infantis é uma das mais importantes da psiquiatria contemporânea. Com a ocupação da Áustria pela Alemanha Nazi, foi internado em campos de concentração, entre 1938-39. Após a sua libertação emigrou para os EUA, onde dirigiu, entre 1944 e 1973, a Escola Ortogénica da Universidade de Chicago, uma comunidade para crianças com graves perturbações mentais. Da sua bibliografia, destaca-se o popular título:





PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS


(The Uses of Enchantment 1976).


   A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS
SEGUNDO BRUNO BETTELHEIM

Se esperarmos viver não somente de momento a momento, mas na plena consciência da existência, então a nossa maior necessidade e a nossa mais difícil realização é encontrarmos um sentido para as nossas vidas. (…) De forma a não estarmos à mercê dos caprichos da vida, é preciso desenvolvermos os nossos recursos interiores, para que as nossas emoções, imaginação e intelecto se apoiem e se enriqueçam mutuamente. Os nossos sentimentos positivos dão-nos a força para desenvolver a nossa racionalidade; só a esperança no futuro nos pode sustentar nas adversidades que inevitavelmente encontraremos. (…)

Todos temos tendência para avaliar os futuros méritos de uma atividade com base naquilo que ela nos oferece agora. E isto é especialmente verdade para a criança, que, muito mais do que o adulto, vive no presente e, embora sinta angústia em relação ao futuro, tem a noção do que ele exigirá ou virá a ser. A ideia de que aprender a ler nos pode habilitar a enriquecer posteriormente a nossa vida futura é sentida como uma promessa vazia quando as histórias que as crianças estão a ouvir ou a ler são estúpidas. (…)

Para que uma história possa prender verdadeiramente a atenção de uma criança, é preciso que ela a distraia e desperte a sua curiosidade. Mas, para enriquecer a sua vida, ela tem de estimular a sua imaginação; tem de ajudá-la a desenvolver o seu intelecto e a esclarecer as suas emoções; tem de estar sintonizada com as suas angústias e as suas aspirações; tem de reconhecer plenamente as suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que as perturbam. (…)

     Neste e noutros aspetos, em toda a «literatura infantil» - com raras exceções – nada é mais enriquecedor e satisfatório, quer para a criança quer para o adulto, do que o popular conto de fadas. (…)

Nos contos de fadas, como na vida, o castigo (ou o medo dele) é somente uma dissuasão limitada para o crime. A convicção de que o crime não compensa é uma dissuasão muito mais eficaz, e é por isso que nos contos de fadas os maus perdem sempre. Não é o facto de a virtude ganhar no fim que promove a moralidade, mas sim o facto de que o herói é extremamente simpático para a criança, a qual se identifica com ele em todas as suas lutas. Por causa desta identificação, a criança imagina que sofre com o herói todas as suas provações e tribulações, triunfando com ele quando a virtude triunfa também. A criança faz tais identificações por si própria, e as lutas interiores e exteriores do herói gravam nela a moralidade. (…)


Com os agradecimentos habituais à minha amiga

Sónia Craveiro

 Beijinhos

Fonte:

 "in Psicanálise dos Contos de Fadas, Livraria Bertrand."



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