Apesar do estereótipo dos
judeus como mercadores e intelectuais, muitos de eles levaram uma vida de
intrépidos aventureiros. Depois de tudo, os judeus têm sido perseguidos por
escuras razões em todas as sociedades durante milhares de anos. Consequentemente,
alguns deles ter-se-iam tornado agressivos como resposta.
O grande atrativo do livro de Edward Kritzler, “Piratas judeus do Caribe”(2008) não é o tratamento dos piratas judeus, senão a saga da sua perseguição, especialmente em Espanha, e os seus contactos com o próprio Cristóvão Colombo.
Centrado nos séculos XVI, XVII
e XVIII, o livro ilustra numerosas anedotas desconhecidas, provavelmente, tanto
para os não-judeus como para os próprios judeus. A odisseia intelectual de
Kritzler plasmado no livro começou muito tempo atrás: em 1967, trás
trasladar-se de Nova Iorque a Jamaica.
Mentres estudava a história da ilha na biblioteca nacional, achou uma entrada num diário de piratas britânicos de 1642. William Jackson escrevia como achara a capital deserta agás por “uma série de portugueses de ascendência hebraica que se aproximaram a nós na procura de asilo, e que prometeram nos revelar o paradeiro onde os espanhóis escondiam os seus tesouros”.
Kritzler sabia que os primeiros
exploradores do Novo Mundo procediam de Espanha e Portugal, mas dava por
suposto que eram “devotos católicos portadores da Cruz”. Assim que se
perguntou: “Que estavam a fazer os judeus portugueses numa ilha espanhola,
solicitando asilo dum pirata britânico?”.
Continuando a sua investigação,
Kritzler descobriu que antes que o Império Britânico conquistar Jamaica em
1655, a ilha tinha sido propriedade de descendentes de Cristóvão Colombo, e que
esses descendentes “proporcionaram um refúgio aos judeus, que estavam
proscritos também no Novo Mundo”.
Alguns dos judeus jamaicanos
que Kritzler estudou durante a sua investigação trataram de persuadi-lo de que
o próprio Colon fora judeu. Isto teria permanecido oculto, determina Kritzler,
devido a que os judeus que navegaram com Colon, e outros, tinham que esconder a
sua identidade religiosa para poder fugir da persecução europeia durante a
época da Inquisição.
Os que governavam longe de
Europa – em América do Sul, do Norte e nas ilhas do Caribe- não queriam ter
judeus arredores. Mas muitos de eles deixaram a um lado os seus prejuízos
religiosos na medida em que os judeus resultavam muito úteis, estabelecendo
linhas de comércio para além dos oceanos com produtos como o açúcar, café, tê,
cereais, e metais como o oiro e a prata. Uma vez que estas rotas de comércio
ficaram estabelecidas, porém, os governantes às vezes volviam-se contra os
judeus. Como assinala Kritzler:
“Em México e Peru, onde os
mercadores judeus controlavam o comércio de prata, a Santa Inquisição
empreendeu o seu agir de purificação: os dirigentes judeus foram queimados, a
sua riqueza confiscada, e os cristãos fizeram-se carregar do fabuloso próspero
comércio da prata”.
Na procura desesperada de
refúgio, os judeus de Holanda – a maioria em Amsterdão- acharam uma sociedade
tolerante, dirigida por governantes que consideravam a Espanha e Portugal
inimigos [nota: ver ao respeito, entre outras, a interessantíssima obra de
Gabriel Albiac, “La Sinagoga vacía” e “A anomalia selvagem” de Toni Negri]. Os
holandeses não desanimaram aos judeus de Amsterdam para que viajassem às Índias
Ocidentais e se convertessem em bucaneiros que combatessem às nações que se
converteram nos seus perseguidores.
Situados neste contexto,
Kritzler analisa várias sagas de judeus que se lançaram ao mar como piratas, ou
que realizavam missões próprias de corsários desde terra. A narração às vezes é
algo descabeçada, mas o material é tão rico que o livro só assim resulta.
Fonte:
De
STEVE WEINBERG
"simonbarkochba.blogspot.com"
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