quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MUSEU JUDAICO DE PRAGA


 
Židovské Muzeum v Praze 

Jovem não identificada, Praga, 1942-1945
Museu Judaico de Praga
 
 

    O Museu Judaico de Praga foi fundado em 1906, com o objetivo de preservar artefactos valiosos das sinagogas de Praga que foram demolidas aquando da reconstrução da “cidade judaica” (Josefov), que teve lugar entre finais do século XIX e princípios do século XX.
 
 

     Após a ocupação nazi da Boémia e da Morávia, em 15 de Março de 1939, o Museu foi encerrado. Em 1942, os nazis autorizaram a criação do Museu Central Judaico, que passaria a reunir todo o espólio das comunidades judaicas da Boémia e da Morávia, entretanto liquidadas.
 
A fundação do Museu foi proposta pelo Dr. Augustin Stein (representante da comunidade judaica), em cooperação com outros especialistas, com o propósito de salvar objetos que tinham sido confiscados pelos nazis. Depois de longas negociações, os nazis aprovaram a criação do Museu Central Judaico com uma intenção bem diferente da dos seus fundadores: de este ser futuramente o Museu da Raça Extinta.
 
Praga, Av. Venceslau (Vaclavské Naměstí) depois da batalha de 1945
 
    Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Museu Judaico viria a ser administrado pelo Concelho das Comunidades Judaicas da Checoslováquia. Em 1950, o direito de propriedade é transferido para o Estado, que estava nas mãos dos comunistas desde 1948. Como resultado, o Museu sofre grandes restrições na preservação e conservação do seu espólio, exposições e atividades educativas.
 
     O colapso do regime comunista em 1989 criou as condições necessárias que conduziram a uma mudança no estatuto do Museu. A 1 de Outubro de 1994, os edifícios, bem como as coleções do Museu, retornaram, respetivamente, para a Comunidade Judaica de Praga e para a Federação das Comunidades Judaicas da República Checa.
 
     Atualmente as exposições do Museu Judaico de Praga estão situadas em seis locais históricos: a Sinagoga Maisel, a Sinagoga Espanhola, a Sinagoga Pinkas, o Velho Cemitério Judeu, a Sinagoga Klausen e o Salão Cerimonial Judaico.
 
 
SINAGOGA MAISEL
 
 
 
     A Sinagoga Maisel foi construída entre 1590 e 1592, pelo então presidente da Câmara Judaica de Praga, Mordechai Maisel, que financiou uma profunda reconstrução renascentista do gueto. Vítima de um incêndio em 1689, que a deixou seriamente danificada, foi reconstruída em finais do século XIX em estilo neogótico. Da sua disposição renascentista de origem, conservou-se o plano de três naves, com uma galeria para mulheres na nave central.
 
 
   A exposição permanente da Sinagoga Maisel está sujeita ao tema “História dos Judeus da Boémia e Morávia – Parte I – entre os séculos X e XVIII”.
 
SINAGOGA ESPANHOLA
 
 
     A Sinagoga Espanhola foi construída entre 1868 e 1893, no sítio da “Velha Shull – Templo da Sociedade Israelita de Serviço Regular”. Foi na “Velha Shul”, que František Škroup, compositor do Hino Nacional Checo, serviu como organista entre 1836 e 1845. A Sinagoga Espanhola foi desenhada em estilo mourisco e a decoração do interior é de motivos islâmicos estilizados.
 
 
   A exposição permanente da Sinagoga Espanhola está sujeita ao tema “História dos Judeus da Boémia e Morávia – Parte II – da Emancipação ao Presente”.
 
SINAGOGA PINKAS
 
 
 
   Em 1535, Aron Mešullam Zalman Horowitz (Hořovský), um dos homens mais ricos e influentes da Comunidade Judaica de Praga, mandou construir uma sinagoga privada, entre a sua residência e o Cemitério Judeu. O seu neto, o rabino Pinkas Horowitz, chamou-lhe Escola Pinkas.
 
 
 
 
 
   A sinagoga é dedicada à memória dos cerca de 80000 judeus da Boémia e Morávia, assassinados pelos nazis no período da Segunda Guerra Mundial. Os nomes das vítimas, datas de nascimento e morte, assim como o local de deportação, estão inscritos nas paredes da sinagoga.
 
 
 
 
Margit Koretzová, Borboletas, Terezín, 1942-1944
 
    No primeiro andar da Sinagoga Pinkas, está instalada a exposição “Desenhos das Crianças de Terezín, 1942-1944”. Das 10000 crianças internadas no Campo de Concentração de Terezín, sobreviveram pouco mais de 200.
 
VELHO CEMITÉRIO JUDEU
 
 
 

Túmulo do rabino Loew (1609) 
O Velho Cemitério Judeu é da primeira metade do século XV e tem mais de 20000 sepulturas. O túmulo mais antigo, que marca a sepultura do poeta e rabino Avigdor Karo, data do ano de 1439. Das várias personalidades sepultadas no Velho Cemitério Judeu, podemos citar: o presidente da Câmara Judaica Mordechai Maisel (1601), o matemático e astrónomo David Gans (1613), ou o académico e historiador Joseph Solomon Delmedigo (1655). A personalidade mais proeminente sepultada neste cemitério, é sem dúvida o grande académico religioso, professor e rabino Judah Loew ben Bezalel, conhecido por Rabi Loew (1609), cujo nome ficou para sempre associado ao Golem.
Foram realizados funerais neste cemitério até 1787.
 
 
SINAGOGA KLAUSEN
 
 
   A Sinagoga Klausen está situada junto à entrada do Velho Cemitério Judeu. “Klausen” (plural da palavra alemã “klaus”), foi o nome dado a três pequenos prédios por Mordechai Maisel, presidente da Câmara Judaica, que os mandou erigir em honra do imperador Maximiliano II, quando este visitou o gueto de Praga em 1573. Era a maior sinagoga do gueto e onde funcionava a Sociedade Funerária Judaica (Chevrá Cadishá).
 
 
 
   Na nave principal da Sinagoga Klausen está patente a exposição permanente sujeita ao tema: “Costumes e Tradições Judaicos – Parte I – a Sinagoga e as Festas Religiosas”. Na galeria está a segunda parte da exposição, com o título “Ciclo de Vida”, que vai da circuncisão (Brit Milá), passando pela cerimónia em que o rapaz é declarado Bar Mitzvá (Filho do Mandamento), casamento, leis do kashrut, ou receitas de Pessach.
 
 
SALÃO CERIMONIAL JUDAICO
 
 
 
   O edifício, construído entre 1911 e 1912, em estilo pseudo Romanesco, integra o antigo Salão Cerimonial e Casa Funerária de Praga/ Chevrá Cadishá, fundada em 1564. A exposição permanente está subordinada ao tema “Ciclo de Vida – Parte II – Doença e Morte”.
 
Carregando o morto
 
Lavagem ritual do corpo
 
 
 
ALGUMAS PEÇAS DO MUSEU
 
Taça do Rabi Loew, prata, séc. XVI/XVII
 
Lâmpada de Hanucá, prata, 1873
 
Sagradas Escrituras, 1894
 
Casaco de criança, período da ocupação nazi
 
   Hoje, a comunidade judaica de Praga, tem uma atividade vibrante e de aproximação a outras comunidades religiosas. Como exemplo, apresentamos um dos muitos concertos, que ocorrem regularmente na Sinagoga Espanhola (Španělská Synagoga), num evento muito especial: um concerto organizado conjuntamente pela Sinagoga Espanhola e pela Igreja do Espírito Santo de Praga – Concert Light of Understanding/Koncert Světlo Porozumění.
 
  Ver mais em:
 
Este artigo foi elaborado na íntegra pela minha querida e incansável amiga,
Sónia Craveiro
Sei que para ela é um prazer presentear-nos com os seus excelentes trabalhos. O lema desta Senhora professora é a Partilha.
 
Muito obrigada,
Beijinhos
 
 
Fontes:

Kristallnacht (Noite dos Cristais – 1938)



O ensaio do Holocausto


A noite das vitrines destruídas

Nesta noite em 1938 e durante o dia seguinte – no dia 9 de Novembro no calendário secular, (15 de Cheshvan no calendário hebraico) – os nazis coordenaram cruéis pogroms contra a comunidade judaica da Alemanha. Encorajados pelos seus líderes, os desordeiros atacaram e espancaram moradores judeus, incendiaram e destruíram 267 sinagogas, vandalizaram 7.500 lojas de judeus, e saquearam incontáveis cemitérios, hospitais, escolas e casas judaicas, enquanto a polícia e os bombeiros assistiam. Noventa e um judeus foram mortos e 20.000 deportados para campos de concentração.


Estes pogroms, que coletivamente passaram a ser conhecidos como a “Noite dos Cristais Partidos”, referindo-se às milhares de janelas que foram quebradas, e foi a partir daqui que a política anti-judaica nazi se intensificou. A noite das vitrines destruídas.


Na noite de dez de Novembro de 1938, a pretexto de vingar um atentado cometido em Paris contra um diplomata nazi, o governo hitlerista estimulou que seus milicianos dessem início a um colossal pogrom contra a comunidade judaica alemã. Mal sabia o mundo que aquele acontecimento seria um ensaio para o Holocausto.

Um assassinato
"Eu não gostaria de ser judeu na Alemanha."
H.Goering, 12 de Novembro de 1938


Quando na manhã de dez de Novembro de 1938 a viúva Susannah Stern, de 81 anos, atendeu às batidas na porta da sua casa na pequena Elberstadt, um lugarejo no interior da Alemanha, provavelmente intuíra que não se tratava de boa coisa. Era um dos seus vizinhos, um fazendeiro chamado Adolf Frey, convertido em chefe da milícia nazi local. Ele e mais alguns partidários que o seguiam pediram-lhe, sem cerimónias, que vestisse qualquer coisa e os acompanhasse. A velhinha negou-se, não sairia do lar! Frey impaciente renovou a ordem. De nada serviu.


Foi então que ele disparou o primeiro tiro no peito e Susannah caiu no sofá. Seguiu-se um outro na cabeça. Depois de revistar a casa, ao sair, deu-lhe mais um na testa, bem entre os olhos. A pobre senhora Stern tornou-se assim uma das tantas outras vítimas do pogrom nazi da Kristallnacht (a noite dos cristais).



O cenário na manhã seguinte era este

Um gigantesco pogrom


Na contabilidade dos assassinos somaram-se outros 90 mortos, justificados por eles como uma operação de vingança pelo atentado sofrido pelo diplomata alemão Ernst von Rath, que havia sido morto em Paris, baleado uns dias antes por um jovem judeu. Naquela noite terrível, 5.700 estabelecimentos judaicos foram depredados e muitos deles completamente destruídos pelas chamas. Em Berlim, turbas de milicianos da SA assaltaram as grandes sinagogas das ruas Farnese, Oranienburg e a da Levetzow, incendiando-as e deixando-as quase que demolidas. Na Alemanha inteira profanaram outras 177 mais. O tilintar daquelas vidraças quebradas encantou Goebbels. Aquela barulheira foi música para os ouvidos do Ministro da Propaganda do Reich, e o principal responsável por ter instigado aquele desvario junto a Hitler. "Bravo! Bravo!" - registrou ele no seu diário. Goebbels, exultante, chamou aquele dilúvio de ódio de "uma autêntica manifestação da ira popular."
Extorsão aos judeus

Enquanto isso seu rival, Hermann Goerig, o Ministro do Interior, ordenava à Gestapo e à SD (*) de Reinhart Heydrich que fizessem detenções em massa. Selecionaram então uns 30 mil judeus tidos por endinheirados e levaram-nos presos. Exigiram duas condições para liberá-los: que se comprometessem a sair do país ou que transferissem os seus bens para o governo nazi. Acreditando que o sofrimento fora pouco, Goering ainda exigiu um tributo de um bilhão de marcos para deixar a comunidade judaica em paz.



A seguir vedou aos judeus frequentar as escolas e os parques públicos. Foi assim, num repente, que o mundo civilizado, ainda chocado, tomou conhecimento de que as antigas práticas medievais, que se pensava terem sido sepultadas, renasciam na Alemanha nazi. Dos 525 a 564 mil judeus que existiam na Alemanha em 1933, ou seja 0,93% da população, a metade conseguiu emigrar nos anos seguintes. Mas para os que ficaram só lhes restou o inferno.



A nau dos desesperados


Para se safar da onda de críticas que atingiu o governo nazi, Goebbels, aquele anão mau e cínico, permitiu que um navio com judeus saísse pelo Atlântico a fora, ao d’us-dará, em busca de abrigo. Ninguém os acolheu. Os governos dos outros países temiam de que se os aceitassem, se deixassem os judeus desembarcar, os nazis os poriam para fora aos magotes. Além disso vivia-se ainda sob os efeitos da grande depressão dos anos 30, onde uma parte considerável da população operária estava desempregada, não havendo muita simpatia para com refugiados. Depois de muitas voltas o governo belga deu-lhes proteção.



Um prenúncio da catástrofe



Os altos hierarcas do III Reich interpretaram a negativa do acolhimento dos passageiros daquela nau de desesperados como uma espécie de indiferença do mundo em relação ao destino que eles resolvessem dar aos judeus no futuro. Assim, logo que a guerra eclodiu, menos de um ano depois, preparam-lhes o caminho para o cadafalso.






Na história, por vezes, as grandes tragédias são previamente anunciadas por outras de menor dimensão que lhe servem por assim dizer como um experimento vivo do que irá ocorrer em breve. Da mesma forma que a guerra civil espanhola de 1936-9 anunciou a Segunda Guerra Mundial, a "Noite dos Cristais" de 1938 prenunciou o Holocausto de 1941-45.






(*) a Gestapo (Geheimstat Politzei) era a policia política do estado, a SD (Sicherheisdinst) era a polícia da SS, o corpo de elite do partido nacional-socialista.


Fontes: