O
ensaio do Holocausto
A noite das vitrines destruídas
Nesta noite em 1938 e durante o dia seguinte –
no dia 9 de Novembro no calendário secular, (15 de Cheshvan no calendário
hebraico) – os nazis coordenaram cruéis pogroms contra a comunidade judaica da
Alemanha. Encorajados pelos seus líderes, os desordeiros atacaram e espancaram
moradores judeus, incendiaram e destruíram 267 sinagogas, vandalizaram 7.500
lojas de judeus, e saquearam incontáveis cemitérios, hospitais, escolas e casas
judaicas, enquanto a polícia e os bombeiros assistiam. Noventa e um judeus
foram mortos e 20.000 deportados para campos de concentração.
Estes pogroms, que coletivamente passaram a ser
conhecidos como a “Noite dos Cristais Partidos”, referindo-se às milhares de
janelas que foram quebradas, e foi a partir daqui que a política anti-judaica
nazi se intensificou. A noite das vitrines destruídas.
Na noite de dez de Novembro de 1938, a pretexto
de vingar um atentado cometido em Paris contra um diplomata nazi, o governo
hitlerista estimulou que seus milicianos dessem início a um colossal pogrom
contra a comunidade judaica alemã. Mal sabia o mundo que aquele acontecimento
seria um ensaio para o Holocausto.
Um assassinato
"Eu não gostaria de ser judeu na Alemanha."
H.Goering, 12 de Novembro de 1938
Foi então que ele
disparou o primeiro tiro no peito e Susannah caiu no sofá. Seguiu-se um outro
na cabeça. Depois de revistar a casa, ao sair, deu-lhe mais um na testa, bem
entre os olhos. A pobre senhora Stern tornou-se assim uma das tantas outras vítimas
do pogrom nazi da Kristallnacht (a noite dos cristais).
O cenário na manhã
seguinte era este
Um gigantesco pogrom
Na contabilidade dos
assassinos somaram-se outros 90 mortos, justificados por eles como uma operação
de vingança pelo atentado sofrido pelo diplomata alemão Ernst von Rath, que
havia sido morto em Paris, baleado uns dias antes por um jovem judeu. Naquela
noite terrível, 5.700 estabelecimentos judaicos foram depredados e muitos deles
completamente destruídos pelas chamas. Em Berlim, turbas de milicianos da SA assaltaram
as grandes sinagogas das ruas Farnese, Oranienburg e a da Levetzow,
incendiando-as e deixando-as quase que demolidas. Na Alemanha inteira
profanaram outras 177 mais. O tilintar daquelas vidraças quebradas encantou
Goebbels. Aquela barulheira foi música para os ouvidos do Ministro da
Propaganda do Reich, e o principal responsável por ter instigado aquele
desvario junto a Hitler. "Bravo! Bravo!" - registrou ele no seu
diário. Goebbels, exultante, chamou aquele dilúvio de ódio de "uma
autêntica manifestação da ira popular."
Extorsão aos judeus
Enquanto isso seu rival, Hermann Goerig, o
Ministro do Interior, ordenava à Gestapo e à SD (*) de Reinhart Heydrich que
fizessem detenções em massa. Selecionaram então uns 30 mil judeus tidos por
endinheirados e levaram-nos presos. Exigiram duas condições para liberá-los:
que se comprometessem a sair do país ou que transferissem os seus bens para o
governo nazi. Acreditando que o sofrimento fora pouco, Goering ainda exigiu um
tributo de um bilhão de marcos para deixar a comunidade judaica em paz.
A seguir vedou aos
judeus frequentar as escolas e os parques públicos. Foi assim, num repente, que
o mundo civilizado, ainda chocado, tomou conhecimento de que as antigas
práticas medievais, que se pensava terem sido sepultadas, renasciam na Alemanha
nazi. Dos 525 a 564 mil judeus que existiam na Alemanha em 1933, ou seja 0,93%
da população, a metade conseguiu emigrar nos anos seguintes. Mas para os que
ficaram só lhes restou o inferno.
A
nau dos desesperados
Para se safar da
onda de críticas que atingiu o governo nazi, Goebbels, aquele anão mau e
cínico, permitiu que um navio com judeus saísse pelo Atlântico a fora, ao d’us-dará,
em busca de abrigo. Ninguém os acolheu. Os governos dos outros países temiam de
que se os aceitassem, se deixassem os judeus desembarcar, os nazis os poriam
para fora aos magotes. Além disso vivia-se ainda sob os efeitos da grande depressão
dos anos 30, onde uma parte considerável da população operária estava
desempregada, não havendo muita simpatia para com refugiados. Depois de muitas
voltas o governo belga deu-lhes proteção.
Um
prenúncio da catástrofe
Os altos hierarcas
do III Reich interpretaram a negativa do acolhimento dos passageiros daquela
nau de desesperados como uma espécie de indiferença do mundo em relação ao
destino que eles resolvessem dar aos judeus no futuro. Assim, logo que a guerra
eclodiu, menos de um ano depois, preparam-lhes o caminho para o cadafalso.
Na história, por
vezes, as grandes tragédias são previamente anunciadas por outras de menor
dimensão que lhe servem por assim dizer como um experimento vivo do que irá
ocorrer em breve. Da mesma forma que a guerra civil espanhola de 1936-9
anunciou a Segunda Guerra Mundial, a "Noite dos Cristais" de 1938
prenunciou o Holocausto de 1941-45.
(*) a Gestapo (Geheimstat Politzei) era a
policia política do estado, a SD (Sicherheisdinst) era a polícia da SS, o corpo
de elite do partido nacional-socialista.
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