domingo, 21 de outubro de 2012

Poema de Isabel Xavier





Isabel Xavier neste seu poema, consegue transmitir-nos o sentimento que ainda hoje o português possui na sua génese mais profunda de si mesmo, talvez herdada do cripto-judaísmo. A saudade e esse conceito bipolar de que "(...) só estou bem onde não estou, quero ir para onde não vou (...)", como cantou António Variações. 
A luz da lamparina, como símbolo da esperança dos marranos portugueses.
 
Marrana
 
Isabel Xavier
 
A sós com o meu pensamento
Sustive um eco de longe no meu ser
Ergui-me como ao encontro do momento
Em que em mim ocorresse o renascer
De um sol de esplendor irradiante
Heróico vencedor da escuridão
Indubitável cais, perto e distante
Entre ondas de inquietude e de paixão
Procurei-me nas rotas desse mar
Que naveguei por me ser dado ver
O farol da esperança a iluminar
A esperança de eu ser um outro ser
Mas a realidade de me tornar diferente
O mundo não me pôde perdoar
E desde então caminho entre a gente
Disfarçando o meu diferente caminhar
Marrana como os judeus de outrora
Vou desbravando a floresta da Saudade
Na esperança de que chegue a hora
Que o regresso do Messias já não tarde
Porque essa espera é a humana condição
De quem o mundo não pode contentar
E prefere olhar o céu em vez do chão
E ainda espreita, às vezes, o luar.
 
 
Publicada por Serra d`Ossa em 13 de Setembro de 2010. 
Fonte:
 

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