Herberto Helder de Oliveira
Filho de Romano Carlos de Oliveira (Funchal, Monte,
batizado a 26 de Novembro de 1895) e de Maria Ester dos Anjos Luís Bernardes
(c. 1900 - 1938), tem duas irmãs Maria Regina e Maria Elora.
É considerado um dos mais originais poetas vivos de língua portuguesa. É uma figura misantropa,
e em torno de si paira uma atmosfera algo misteriosa uma vez que recusa prémios
e se nega a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Prémio
Pessoa que recusou.
A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo
tardio. Escreveu "Os Passos em Volta", um livro que através de vários
contos, sugere as viagens deambulatórias de uma personagem por entre cidades e
quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca da identidade própria
de cada ser humano (ficção); "Photomaton e Vox" é uma
colectânea de ensaios e textos e também de vários poemas. "Poesia
Toda" é o título de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido
depurada ao longo dos anos. Na edição de 2004 foram retiradas da
recolha suas traduções. Alguns dos seus livros desapareceram das mais recentes
edições da Poesia Toda, rebatizada Ofício Cantante, nomeadamente Vocação Animal
e Cobra.
A crítica literária aproxima sua linguagem poética do
universo da Alquimia, da mística, da Mitologia edipiana e da Imago da Mãe.
"Poeta que reescreve sem cessar e é
criador/destruidor de uma gramática peculiaríssima. A transgressão regula a
pontuação, os padrões são sujeitos à sua consciente desorganização, o fluxo
verbal se alastra animalizando o poema."
"Herberto Helder impulsiona a viva encantação
das palavras, o abalo que a sua poesia provoca é um dos mais profundos que a
literatura de língua portuguesa já sofreu."
(Carece do nome do pintor deste quadro)
Sobre
um Poema
Um
poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora
existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E
já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
-
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Os seus trabalhos principais: