«Chamais
sábios aos reis de Castela e Portugal; eles que expulsando os judeus empobrecem
os seus reinos e enriquecem os meus.»
Bayezid
II
Constantinopla,
Civitates Orbis Terrarum, 1572
Nos anos que se seguiram à expulsão da
Península Ibérica, a vida dos judeus sefarditas em terras otomanas tornou-se
num exemplo de criatividade e prosperidade. Muitos dedicaram-se ao comércio, à
medicina, ou aos assuntos políticos na corte imperial. Segundo um relato de
Hans Derschwan, que percorreu a Turquia entre 1553 e 1555 ao serviço do Banco
Fugger, encontravam-se judeus em todas as cidades, de diversas origens e de
todas as línguas. Relata ainda que os judeus estavam autorizados a viajar e a comerciar
por todo o império, que contavam com todo o tipo de artesãos, e que não
permitiam a mendicidade a nenhum dos seus. Para este efeito, tinham cobradores
que iam de casa em casa e recolhiam dinheiro numa caixa comum para os pobres.
Esse dinheiro era utilizado para manter os pobres e o hospital.
Mercador
Judeu, Nicolas de Nicolay
O famoso viajante Nicolas de
Nicolay, que visitou o império em 1551, escreveu: «…Marranos há pouco banidos e
expulsos de Espanha e Portugal,…em detrimento e grande dano para a cristandade
ensinaram ao Turco vários inventos, artes e máquinas de guerra, como fazer
artilharia, pólvora para canhão, balas e outras armas.»
Médico
Judeu, Nicolas de Nicolay
O desempenho dos judeus na medicina era relevante, em especial dos
sefarditas que traziam da Europa conhecimentos médicos mais evoluídos. Joseph
Hamon, nascido em Granada, foi um célebre físico dos sultões Bayezid II e Selim
I. O seu filho, Moshe Hamon (1490-1567), sucedeu-lhe no cargo junto de Selim I
e de Solimão, o Magnífico.
Não podíamos omitir o famoso
Amato Lusitano (nascido em 1511, em Castelo Branco, com o nome cristão de João
Rodrigues de Castelo Branco), que veio a morrer em Salónica, em 1568. Médico
eminente, publicou em diversas cidades europeias, de acordo com as migrações a
que foi obrigado para escapar às perseguições religiosas, sete volumes das Centúrias Médicas, resultando num dos
mais importantes compêndios de clínica médica e de cirurgia estudados nas
principais universidades europeias até ao século XVIII.
Mapa
da Baía de Salónica, séc. XVI, Piri Reis
A VII Centúria é publicada em
Salónica, no ano de 1561. Neste último volume, Amato declara o seu retorno ao
Judaísmo. De resto, já tinha expressado na V Centúria a tristeza por ser
obrigado a abandonar a terra onde nascera e onde não pudera viver sem
perseguição.
«Oh
ingrata mãe-pátria, que nem meus ossos aceitarás receber.»
Keter Torá, Constantinopla, 1536
Dona
Grácia Nasi e Joseph Nasi, 1931, Arthur Szyk
Percurso
da viagem de Grácia Nasi, de Lisboa até Istambul
Tiberíades
e o Mar da Galileia, David Roberts
O Cabalista, Moshe Castel
Yosef
Caro
O rabino Yosef ben Ephraim Caro
é considerado o maior codificador da Lei Judaica, a Halakhá. Nasceu em Portugal em 1488, e ainda criança, na sequência
do decreto de Expulsão de 1497 de D. Manuel I, emigrou com a sua família para a
Turquia. Já adulto, fixou-se em Safed, onde viria a falecer em 1575.
Yosef Caro é autor de uma vastíssima obra.
“Shulhan Arukh” (“A Mesa Posta”), é a sua obra de referência e aquela que ainda
hoje é considerada a obra mais importante sobre a Halakhá.
Shlomo Alkabetz (c. 1500, Salónica-1580,
Safed) foi um rabino, cabalista e poeta. A sua obra mais conhecida é o poema
litúrgico “Lechá Dodí”. Foi o rabino Isaac Luria quem instituiu o costume de
iniciar o Shabat com a cerimónia de Cabalat Shabat, cantando o hino “Lechá
Dodí”.
A demonstrar a sua vitalidade
através dos tempos, propomos a audição do hino “Lechá Dodí” em duas versões: a
primeira na cerimónia de inauguração de Sinagoga Sefardita “Edmond J. Safra”,
em Aventura, na Florida (postado neste blogue em 17 de Outubro de 2012.
Lecha Dodi- Aventura Turnberry Friday Night Live
Notas:
«Chamais sábios aos reis de
Castela e Portugal; eles que expulsando os judeus empobrecem os seus reinos e
enriquecem os meus» (frase proferida por Bayezid II, sultão otomano entre
1481-1512, citada por Immanuel Aboad in Nomologia,
o Discursos Legales Compuestos, Amsterdão, 1629);
Piri Reis (1465-1555) –
comandante naval otomano, cartógrafo e geógrafo.
Esta é a continuação do artigo “Os Sefarditas no Império Otomano”,
o segundo de quatro artigos.
Também este elaborado por Sónia Craveiro, a
quem deixo os meus sinceros agradecimentos.
Muito Obrigada
Fontes:
MUCZNIK, Esther, Grácia Nasi, a esfera dos livros;
DICIONÁRIO
DO JUDAÍSMO PORTUGUÊS, EDITORIAL PRESENÇA;
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