terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sionismo – Parte II



O Caso Dreyfus como impulso


O capitão Alfred Dreyfus

Ao final do século XIX os judeus que detinham uma condição social um pouco mais elevada (em geral os habitantes dos países da Europa Ocidental) julgavam-se mais seguros contra as perseguições antissemitas que vitimavam os judeus do Leste, mais arraigados às tradições, pois encontravam-se plenamente inseridos nas sociedades maiores. Estes judeus pouco diferiam no sentido cultural de seus vizinhos cristãos e muitos abandonavam as práticas religiosas ou se convertiam ao cristianismo como forma de selar o processo de completa assimilação. Entre estes judeus encontrava-se Theodor Herzl, um advogado nascido em Budapeste e que em sua juventude chegou a pedir em carta ao Papa que ajudasse os judeus de toda a Europa a se converterem coletivamente ao catolicismo.
Herzl passou a assinar matérias e artigos na imprensa alemã a partir do final da década de 1880 e graças a isso recebeu um convite para se tornar correspondente do jornal "Neue Freie Presse" em Paris, onde cobriu o julgamento do militar Alfred Dreyfus. Dreyfus era um oficial judeu do Exército Francês acusado injustamente de espionar em favor dos alemães. Ao testemunhar a série de fraudes engendradas por elementos da oficialidade francesa para culpar Dreyfus com alegações antissemitas, Theodor Herzl se deu conta de que nem a assimilação em meio a culturas aparentemente “superiores” seria capaz de livrar os judeus da discriminação.







Com base nestas reflexões e aproveitando-se do pensamento de outras pessoas, Herzl escreve em 1895 sua principal obra, "Der Judenstaat – Versuch Einer Modernen Lösung der Judenfrage" (“O Estado Judeu – Uma Solução Moderna para a Questão Judaica”), onde preconiza a necessidade da reconstrução da soberania nacional dos judeus dispersos em um Estado próprio.





 Em "O Estado Judeu", seu autor descreve de forma romanceada suas visões de como tornar possível a construção de uma futura nação judaica, discorrendo sobre imigração, compra de terras, edificações, leis, idioma etc. Muitas das visões de Herzl serviriam de inspiração para os primeiros legisladores do futuro Estado de Israel.


O Congresso Sionista


O livro de Herzl foi bem recebido pela maior parte dos judeus europeus que compartilhavam dos mesmos ideais. Com o intuito de aglutinar as diversas tendências nacionalistas judaicas, Herzl organizou o Primeiro Congresso Sionista, realizado na cidade suíça de Basiléia, em 29 de Agosto de 1897. Segundo seus criadores, o Congresso tinha como propósito de demonstrar ao mundo "o que é o Sionismo e o que ele pretende". O Congresso foi criado também para unir todos os sionistas sob uma só organização.

O 1º Congresso Sionista deveria ter-se realizado em Munique, na Alemanha. Contudo, líderes religiosos da comunidade judaica local opuseram-se à iniciativa, por temerem uma exposição excessiva e uma possível retaliação antissemita. Ao congresso de Basileia compareceram cerca de 200 participantes. As maiores realizações do Congresso foram a formulação da plataforma sionista, conhecida como “Programa de Basileia”, e a fundação da Organização Sionista Mundial, sob a presidência de Herzl. Nesta reunião, discutiu-se onde se deveria instalar o Estado Judeu, dividindo-se os congressistas entre a Palestina Otomana ou algum território desabitado cedido aos sionistas, como a ilha de Chipre, a Patagónia e até em alguma das colônias europeias na África, como o Congo ou Uganda. Venceram os partidários da Palestina, com o argumento de que aquela era a região de origem de toda identidade judaica na Antiguidade. Em seu diário, Herzl escreveu: "Se eu tivesse que resumir o Congresso de Basileia numa só frase, ela seria: ‘na Basileia eu fundei o Estado Judeu’. Se eu dissesse isto hoje, seria objeto de risos universais; mas em cinco anos, talvez em cinquenta, todos o verão".


Seriam realizados 21 Congressos Sionistas até a eclosão da Segunda Guerra Mundial.



Oposição judaica ao Sionismo


Segundo alguns autores, a intenção de imigrar e viver na Palestina seria algo distante das intenções reais da maioria dos judeus, estando presente apenas enquanto referência religiosa. Abraham Leon escreve em 1942 que:



"Durante o tempo que o judaísmo ficou incorporado ao sistema feudal, o 'sonho de Sião' não foi precisamente mais que um sonho e não correspondia a nenhum interesse real (...). O taberneiro ou o 'granjeiro' judeu da Polónia do século XVI pensava tanto em retornar à Palestina quanto o milionário judeu da América de hoje."




A tese do retorno ao lugar de origem ganhou a grande maioria dos adeptos por ter forte apelo religioso, baseado na redenção do povo de Israel e na “Terra Prometida”. Por outro lado, outras correntes religiosas (em especial as fundamentalistas) a consideravam uma compulsão heroica e sentimental, e alguns até a reprovavam duramente, alegando que esta “redenção” deveria vir obrigatoriamente pela “obra de Deus” e não de ações políticas. Outros judeus a não aderir ao Sionismo foram os adeptos do budismo. No entanto, tais visões foram se tornando gradativamente minoritárias e isoladas com o passar dos anos e o crescimento da Organização Sionista.

Nos dias atuais, a oposição judaica ao Sionismo está restrita a alguns membros de seitas religiosas, como os haredim do Neturei Karta, Satmer e Edá Hacharedit, bem com aos adeptos de ideologias internacionalistas de esquerda.


A Palestina e a Terra de Israel


A região da Palestina, onde historicamente existiu uma pátria judaica, encontrava-se desde o ano de 638 sob o jugo árabe muçulmano. A partir de 1517, o Império Turco-Otomano incorpora aquelas terras, tornando-se a Palestina uma província turca, status que duraria até o início do século XX. A presença dos judeus na região permaneceu ininterrupta por todo este período, embora em condição de minoria. Em algumas cidades, como Hebron e Safed, a presença das comunidades judaicas se fazia mais numerosa e importante, convivendo em relativa paz com a maioria muçulmana.
Havia também a tradição judaica de migrar para a Palestina para lá morrer e ser sepultado, ou para estudos religiosos nas diversas yeshivot instaladas na região. Estas escolas de formação rabínica recebiam recursos doados por organizações filantrópicas, mas na segunda metade do século XIX, algumas destas organizações, como a Aliança Israelita Universal, passaram a investir na fundação de cidades e fazendas coletivas, dentro de um espírito socialista e secular.
Assim Mikveh Israel foi fundada em 1870, seguida por Petah Tikva (1878), Rishon LeZion (1882) e outras comunidades agrícolas fundadas pelas sociedades Bilu e Hovevei Zion.




À esquerda, o Brasão de armas de Petah Tikva e à direita o Brasão de armas de Rishon LeZion.






Mas com a primeira grande leva de imigrantes judeus chegados à Palestina, a partir de 1881, a demografia na Palestina começou a sofrer a sua primeira grande mudança em séculos. Estas ondas (chamadas de aliot), oriundas principalmente do Império Russo e do Iêmen, acabaram por gerar mais comunidades agrícolas e cidades. Estas primeiras aliot independentes serviriam de modelo para as imigrações que viriam nos anos seguintes, já sob o estímulo da Organização.

Até meados do século XIX, a população total da Palestina registrava um decréscimo lento. Mas as migrações judaicas inverteram este quadro, e no raiar do século XX a região registrou o primeiro aumento demográfico em séculos. A população de judeus chegou a 10% do total antes de 1909, quando foi fundada a cidade de Tel Aviv, a primeira urbe exclusivamente judaica desde a Antiguidade. Sionista de Herzl.
O estabelecimento dos primeiros olim em terras palestinas se deu em zonas desabitadas, adquiridas com recursos doados por subscrições públicas ou por grandes filantropos europeus.




O mais célebre destes foi o barão Edmond de Rothschild, que sozinho doou recursos para a aquisição de 125 mil acres (ou 22,36 km²) de terras.





No entanto, uma nova onda de perseguições antissemitas ocorrida na Rússia fez crescer o número de olim. Em Abril de 1903 o Pogrom de Kishinev vitimou dezenas de judeus e evidenciou para os sobreviventes a necessidade de procurar a auto-determinação num ambiente democrático.

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