Mehmed II entra em
Constantinopla, 1885,
Fausto Zonaro
Em
1453 Mehmed
II conquista Constantinopla, capital de Bizâncio, mais tarde rebatizada
Istambul, que viria a ser a capital do Império Otomano. Esta data marca o
início da Idade Moderna, pondo fim a cerca de mil anos de Idade Média, período que começa com a queda do Império Romano do
Ocidente (476) e termina com a queda do Império Romano do Oriente ou Bizantino
(1453).
Rendição de Granada, 1882, Francisco Pradilla
Em 1492, com a rendição de Granada, o Islão é expulso da Europa
ocidental. Os reis católicos de Espanha, Fernando e Isabel, impõem aos
judeus e aos muçulmanos o
exílio ou a conversão. Os judeus que recusam a conversão partem, na sua maioria,
para Leste. Alguns optam por Portugal, de onde serão expulsos em 1497. A
diáspora dos sefarditas estende-se em pequenas doses à Holanda, Provença, mais
acentuadamente à África do Norte, e sobretudo ao Império Otomano, onde são
acolhidos por Bayezid II.
Bayezid II, c. 1578, anónimo, Veneza
O almirante Kemal Reis,
comandante naval ao serviço do sultão Bayezid II, tem por missão transportar os
judeus e os muçulmanos, expulsos de Espanha, que desejem estabelecer-se nas
províncias do Império Otomano. São dezenas de milhares os judeus oriundos de
Espanha que se instalam nas cidades portuárias de Istambul, Esmirna, e
principalmente Salónica.
Welcome, Mevlud Akyildiz
Solimão, o Magnífico, oficina de Ticiano
No reinado de Solimão, o Magnífico, que se estendeu de 1520 a
1566, o Império Turco/Otomano atingiria o seu apogeu. A sua frota podia
controlar toda a costa mediterrânica e os seus territórios incluíam a Anatólia,
a Arménia, uma parte da Geórgia e do Azerbaijão, o Curdistão, a Mesopotâmia, a
Síria, o Hedjaz (com a cidade de Meca), o Egipto, os Estados de Argel, Tunes e
Trípoli, a Península Balcânica, a Grécia, a Transilvânia, a Hungria Oriental e
a Crimeia.
Em cima: navio “Mavna” de
Veneza; em baixo: navio-almirante “Göke” de Kemal Reis, Biblioteca do Palácio-Museu
Topkapi em Istambul
“Anciãos de Israel a serem
recebidos por um oficial”, Museu Turco de Arte Islâmica de Istambul
O pintor franco/flamengo Jean-Baptiste
van Mour (1671-1737) ilustrou a grande diversidade étnica do Império Otomano,
como se pode observar nas imagens anteriores. Uma das características da
diversidade étnica era a diversidade linguística, que viria posteriormente a
revelar-se um problema de coesão nacional.
Com o advento do Iluminismo, dão-se os
primeiros passos para a assimilação e perda de identidade associada ao judaísmo
tradicional. Em 1860 é fundada em Paris a Alliance
Israélite Universelle (Col Israel
Chaverim), que foi a primeira organização judaica internacional.
Mulheres do Império
Otomano, 1873
1 – Noiva arménia; 2 –
Mulher judia de Constantinopla; 3 – Jovem grega
Entre 1829 e 1913, o Império Otomano
perdeu as suas possessões nos Balcãs, o que levou a uma vaga de emigração
hebraica para fora daqueles territórios. Todavia, para os judeus que
permaneceram no espaço turco, a adoção da língua turca tornou-se num fator
dominante de emancipação.
Um notário turco a redigir um contrato
de casamento, 1837,
Martinus Rørbye
Quando a República Turca foi
reconhecida em 1923, as elites republicanas enfrentaram o enorme desafio de
como construir uma Turquia moderna, homogénea e secular a partir daquele
mosaico multiétnico, herdado do Império Otomano. Uma das medidas tomadas, e que
provocou uma verdadeira revolução, foi a declaração da língua turca como língua
obrigatória para toda a república, no ano de 1932. O alfabeto árabe foi
abandonado, e em seu lugar foi adotado o alfabeto latino.
Com o alargamento da escolaridade
obrigatória na língua turca, o ladino começa a desintegrar-se. No entanto, o
ladino/judeo-espanhol continua a ser um importante legado cultural.
Em 2001, a Quincentennial
Foundation fundou o Museu Judaico da Turquia. A Quincentennial Foundation é uma
organização criada em 1982, composta por 113 cidadãos turcos, judeus e
muçulmanos, com o objetivo de comemorar os 500 anos da chegada dos judeus
sefarditas ao Império Otomano.
Para encerrar este pequeno artigo, propomos
a audição de uma peça musical composta no século XVII por Dimitrie Cantemir
(1673-1723), que para além de compositor e musicólogo, foi um reconhecido
intérprete de música otomana. A interpretação está a cargo do Hespèrion XXI,
sob a direção de Jordi Savall.
Atualmente, estima-se em 23000 o número de
indivíduos da Comunidade Judaica na Turquia. A grande maioria, aproximadamente
95%, vive em Istambul. Os judeus sefarditas representam cerca de 96% de toda a
população judaica na Turquia.
17 th Century Ottoman Music By Dimitri Cantemiroglu
*Alyiá – Lit. «Subida», emigração para a
Terra de Israel
Este foi mais um artigo da já nossa amiga
Sónia Craveiro,
A quem agradeço todo este empenho nesta tão interessante
partilha.
Muito obrigada
Beijinhos
Fontes:
Bibliografia:
OTOMANO,
IMPÉRIO; ALLIANCE ISRAÉLITE
UNIVERSELLE, DICIONÁRIO DO JUDAÍSMO PORTUGUÊS, EDITORIAL PRESENÇA;
Desconhecia grande parte do aqui foi apresentado. É um belo trabalho que esclarece os movimentos dos judeus quando foram expulsos da Península Ibérica.
ResponderEliminarMuito interessante , ja visitei Istambul , e antes de chegar li um pouco da historia , mas muito reduzida,acho que o sistema que vigorava, de protecçao ás minorias , cultura , religião , lingua, funcionava , muito bem, e as diversas culturas podiam progredir , criar riqueza , em paz , convivendo , em harmonia , acho o artigo muito bom, obrigada ..........
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