A expulsão dos Judeus de Portugal
(1496)
Aguarela de Roque
Gameiro representando a expulsão dos Judeus de Portugal.
Com a ascensão de Dom Manuel I ao trono
português, em 1495, os castelhanos escravizados foram libertados. Todavia, o
casamento anunciado do rei com a princesa Isabel da Espanha colocou os judeus
novamente em clima de tensão. Isto porque o contrato de casamento incluía uma
cláusula que exigia a expulsão dos hereges (mouros e judeus) do território
português.
Dom Manuel I e
Isabel de Espanha.
O rei tentou fazer com que a princesa
reconsiderasse (já que precisava dos capitais e do conhecimento técnico dos
judeus para o seu projecto de desenvolvimento de Portugal), mas foi tudo em vão.
Em 5 de Dezembro de 1496, Dom Manuel assinou o decreto de expulsão dos hereges,
concedendo-lhes prazo até 31 de Outubro de 1497 para que deixassem o país. Aos
judeus, o rei permitiu que optassem pela conversão ou desterro, esperando assim
que muitos se baptizassem, ainda que apenas pro forma.
"Decreto de Expulsão "
Que Judeus e Mouros se saiam destes Reynos, e
nom morem, nem estem nelles. Porque todo fiel Christão sobre todas as cousas he
obriguado fazer aquellas que sam seruiço de Nosso Senhor, acrecentamento de sua
Sancta Fee Catholica, e a estas nom soomente deuem pospoer todos os guanhos e
perdas deste mundo, mas ainda as próprias vidas, o que os Reys muito mais
inteiramente fazer deuem, e sam obriguados, porque per Jesu Christo nosso
Senhor sam, e regem, e delle recebem neste mundo maiores merces, que outra algua
pessoa, polo qual sendo Nós muito certo, que os Judeus e Mouros obstinados no
ódio da Nossa Sancta Fee Catholica de Christo nosso Senhor, que por sua morte
nos remio, tem cometido, e continuadamente contra elle cometem grandes males, e
blasfémias em estes Nossos Reynos, as quaes nom tam soomente a elles, que sam
filhos de maldiçam, em quamto na dureza de seus corações esteuerem, sam causa
de mais condenaçam, mas ainda a muitos Christãos fazem apartar da verdadeira
carreira que he a Sancta Fee Catholica; por estas, e outras mui grandes e
necessarias razões, que Nos a esto mouem, que a todo Christão sam notorias e
manifestas, a vida madura deliberaçam com os do Nosso Conselho, e Letrados,
Determinamos, e Mandamos, que da pubricaçam desta Nossa Ley, e Determinaçam atá
per todo o mez d’Outubro do anno do Nacimento de Nosso Senhor de mil e
quatrocentos e nouenta e sete, todos os judeus, e Mouros forros, que em Nossos
Reynos ouuer, se saiam fóra delles, sob pena de morte natural, e perder as
fazendas, pera quem os acusar.
E qualquer pessoa que passado o dito tempo
teuer escondido alguu Judeu, ou Mouro forro, per este mesmo feito Queremos que
perca toda sua fazenda, e bens, pera quem o acusar, e Roguamos, e Encomendamos,
e Mandamos por nossa bençam, e sob pena de maldiçam aos Reys Nossos Socessores,
que nunca em tempo aluu leixem morar , nem estar em estes Nossos Reynos, e
Senhorios d’elles, ninhuu Judeu, nem Mouro forro, por ninhua cousa, nem razam
que seja, os quaes Judeus, e Mouros Leixaremos hir liuremente com todas suas
fazendas, e lhe Mandaremos paguar quaesquer diuidas, que lhe em Nossos Reynos
forem deuidas, e assi pera sua hida lhe Daremos todo auiamento, e despacho que
comprir. E por quanto todas as rendas, e dereitos das Judarias, e Mourarias
Temos dadas, Mandamos aas pessoas que as de Nós tem, que Nos venham requerer
sobre ello, porque a Nós Praz de lhe mandar dar outro tanto, quanto as ditas
Judarias, e Mourarias rendem.
Muge -
Portugal, 5 de Dezembro de 1496
Os judeus, no entanto, não se deixaram
convencer e a grande maioria optou por abandonar o país. O rei, ao ver cair por
terra sua estratégia, mandou fechar todos os portos de Portugal - menos o porto
de Lisboa - para impedir a fuga.
Foi então no porto de Lisboa que se
concentraram cerca de 20 mil judeus, esperando transporte para abandonar o
território português. Em Abril de 1497, o rei manda sequestrar as crianças
judias menores de 14 anos, para serem criadas por famílias cristãs, o que foi
feito com grande violência. Em Outubro de 1497, os que ainda resistiam à
conversão foram arrastados à pia baptismal pelo povo incitado por clérigos
fanáticos e com a complacência das forças da ordem.
Foi desses baptismos em massa e à força que
surgiram os marranos, ou cripto-judeus, que praticavam o judaísmo em segredo
embora publicamente professassem a fé católica. Os "cristãos novos"
nunca foram realmente bem aceitos pela população "cristã velha", que
desconfiava da sinceridade da fé dos conversos. Essa desconfiança evoluiu para
a violência explícita em 1506, quando ocorreu o Pogrom de Lisboa.
Decreto de
conversão forçada.
Progrom de Lisboa, 1506
A peste grassava na cidade desde Janeiro,
fazendo dezenas de vítimas por dia. Em Abril, mais uma vez insuflados por
clérigos fanáticos, que culpavam os "cristãos novos" pela calamidade,
o populacho investiu contra eles, matando mais de dois mil, entre eles, homens,
mulheres e crianças.
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