sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cartas de Lisboa | Shoftim


Shoftim

Na Parsha desta semana pode-se ler sobre o mandamento de nomear um rei.




No seu comentário, Dom Abarbanel examina de diversas perspectivas do conceito de realeza e o seu lugar no Judaísmo. O que preocupa Dom Abarbanel bem como outros comentadores é o aparente paradoxo que acompanha este mandamento.




Parece ser bem claro da leitura da nossa Parsha que ao entrar na Terra de Israel, existe um mandamento no colectivo do Povo Judeu no sentido da nomeação de um rei.
No entanto, quando os Judeus finalmente entram na Terra de Israel e pedem um rei, D-us não parece ter ficado muito contente.


 
Num versículo bem indicativo, D-us diz ao profeta Samuel, para "ouvir a voz do povo, de acordo com tudo o que eles te disserem, já que eles não te rejeitaram, mas rejeitaram-me para reinar sobre eles".



 Deste versículo fica a ideia de que o pedido de um rei foi visto negativamente por D-us como representando um Seu verdadeiro abandono pelo Povo Judeu.

Dom Abarbanel, depois de citar diferentes explicações, dá-nos a sua opinião sobre o assunto, dizendo que a nação precisa de um rei por três razões principais:


1) Para promover a segurança das fronteiras e fazer a guerra.

2) Para criar leis e aplicá-las.

3) E por último, para determinar o curso de acção quando surgem circunstâncias novas e únicas.


De acordo com este raciocínio, argumenta Dom Abarbanel, o Povo Judeu realmente não exigiu de todo em todo um rei!



1) Antes de qualquer guerra, os Judeus rezariam sempre a D-us.

2) As Leis Judaicas estão claramente delineados na Torá.

3) E circunstâncias únicas seriam tratadas conforme estabelecido por D-us: (Devarim 17.8), "Se uma questão vos escapa em julgamento... Levantem-se e vão ao lugar que o Senhor, vosso D-us, escolheu", uma referência ao Sinédrio - o Supremo Tribunal Judaico que decidiria tais questões.





Na opinião do Abarbanel, a monarquia não era necessária para o Povo Judeu. (Na verdade, ele rejeita o sistema monárquico, favorecendo em vez disso um governo eleito e com tempo limitado de funções.)

Por isso, diz ele, o versículo na nossa Parsha não é realmente um mandamento directo para nomear um rei, mas a instrução sobre as nossas opções no futuro. Se chegar um momento em que os Judeus desejem a liderança de um rei, esta deve ser feita nos termos que D-us quer, e "aquele que o Senhor, vosso D-us, escolhe".




O Rebe de Lubavitch explica e expande esta ideia de acordo com o pensamento Chassídico.



A verdadeira função espiritual de um rei é a de garantir que o Povo Judeu tenha bom nível de "i’irat shamai’im",  “respeito pelo céu”. Embora os Judeus sejam naturalmente crentes, há momentos em que nos podemos desviar desse caminho e precisamos de ser lembrados no sentido de dirigir a nossa atenção para com D-us.



Samuel, o Profeta e líder do Povo Judeu, esperava que o nosso “respeito pelo céu” fosse de tão elevado calibre, que não seria necessário um rei físico, um lembrete de carne e osso, para nos recordar da necessidade de respeito e de responsabilidade para com o Divino.

Por outro lado, o Povo Judeu sentiu que ainda não estava a um nível tão elevado e fez o pedido para que um rei fosse escolhido para o guiar.




Apesar de D-us concordar com a nomeação de um rei, isto não implica que este nível inferior de “respeito pelo céu” deva satisfazer-nos. Um rei humano é apenas um trampolim para finalmente nos levar para o nível superior, onde o nosso inato “respeito pelo céu” e a nossa consciência da presença de D-us se torna o estado natural de existência para todos os Judeus.



Shabat Shalom!
Cortesia do Rabbi
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com





Fontes das Imagens:

Um Olhar | Um Sentimento!



Shabat Shalom!


Pintura de M Wysocki


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Mishná - 6ª Ordem | Tahorot



Tahorot



Tahorot (em hebraico טהורת, "Purezas") é a sexta ordem da Mishná (assim como da Tosefta e do Talmude). Esta ordem debruça-se sobre a distinção entre 'puro' e 'impuro' em termos rituais e sobre pureza familiar. Esta é a mais longa das Ordens da Mishná. 


Tem 12 tratados:

1-      Kelim (כלים, "Utensílios").
2-     Ohalot (אוהלות, "Tendas").
3-     Negaim (נגעים, ‘’Pragas’’).
4-    Pará (פרה, "Vaca").
5-     Tohorot (טהורת, "Purezas").
6-    Mikvaot (מקואות, "Piscinas de Água").
7-     Nidá (נידה, "Separação").
8-     Machshirin (מכשירין, "Actos preliminares de preparação").
9-    Zavim (זבים, "Emissões Seminais").
10- Tebul Yom (טבול יום, "Imersão do dia").
11-   Yadaim (ידיים, "Mãos").
12-  Uktzim (עוקצים, "Hastes").





A ordenação dos diferentes tratados é explicada, de acordo com Rambam) da seguinte forma:





Kelim é o primeiro, uma vez que introduz os níveis de impureza e dita para cada objecto as várias impurezas que se aplicam. Ohalot segue-se por analisar o mais grave tipo de impureza, a impureza de um cadáver. Depois vem Negaim porque é o nível seguinte de impureza e porque, tal como um morto, o metzorá também transmite impureza como uma tenda. O tratado de Pará define a purificação para os tipos graves de impureza já destacados. O próximo nível é o das impurezas mais leves Tohorot e o seu método de purificação que é a imersão (Mikvaot). Nidá segue-se por ser um nível menor de impureza mas ter a facto de se aplicar exclusivamente a uma parte das pessoas (ou seja, as mulheres). Makshirin, Zavim e Tebul Tom seguem-se a Nidá baseadas na ordem de menção nas Escrituras. O próximo nível de impureza é de decreto rabínico apenas (Yadaim). Finalmente, Uktzin é colocado em último por ser restrito e não ter base nas Escrituras, sendo as suas leis apenas derivadas do raciocínio dos Sábios.




Apenas existe uma Guemará do Talmude Babilónico para o tratado de Nidá. Isto justifica-se por a maioria das outras leis de pureza e impureza não se aplicarem quando o Templo de Jerusalém não existe. O Talmude Yerushalmi (ou de Jerusalém) apenas cobre quatro capítulos de Nidá.





Fontes:


Mishná - 5ª Ordem | Kodashim


Kodashim



Kodashim (em hebraico קדשים, Coisas Sagradas) é a quinta Ordem da Mishná (igualmente da Tosefta e do Talmude). Das seis Ordens da Mishná, esta é a terceira mais longa. Kodashim aborda na sua maioria o serviço religioso no Templo de Jerusalém, os Korbanot ou ("oferendas sacrificiais"), e outros assuntos considerados ou relacionados a estas "Coisas Sagradas".


Kodashim consiste em 11 tratados:


1-      Zevachim (זבחים, "Sacrifícios").
2-     Menachot (מנחות, "Ofertas de Alimentos").
3-     Chulin (חולין, "Coisas Comuns ").
4-    Bechorot (בכורות, "Primogénitos").
5-     Arachin (ערכין, "Dedicações").
6-    Temurá (תמורה, "Substituição").
7-     Keritot (כריתות, "Extirpações").
8-     Meilá (מעילה, "Sacrilégio").
9-    Tamid (תמיד, "Sempre" ou "Permanente").
10- Midot (מידות, "Medidas").

11-   Kinnim (קנים, "Ninhos").


A razão tradicional para esta ordenação dos tratados, de acordo com a opinião de Rambam ou Maimónides é a seguinte:


Zevachim é o primeiro uma vez que define o principal propósito físico do Templo - os sacrifícios animais.

Menachot continua o assunto das ofertas de sacrifícios, de acordo com a ordem das Escrituras e o estatuto das ofertas de alimentos como um suplemento.

Após lidar com as oferendas do Templo, segue-se Chulin, que lida com as "oferendas seculares".

Bechorot, Arachin e Temurá todos discutem leis auxiliares da santidade e seguem a lei das Escrituras.

Keritot segue a anterior elaboração de mandamentos uma vez que em grande parte discute as oferendas para a transgressão de determinado tipo de mandamentos.

Meilá vem a seguir por também discutir o assunto de transgressões da santidade, se bem que de uma natureza mais leve.

Após lidar com leis, dois tratados de descrição são acrescentados: Tamid, que dicute o sacrifício diário e Midot que aborda a generalidade do Templo de Jerusalém.





Finalmente, Kinnim foi colocado em último pois todas as suas leis abordam acidentes e situações que ocorrem muito raramente.

Existe uma Guemará no Talmude Babilónico para os primeiros 8 tratados, e três capítulos de Tamid. Apesar do assunto abordado não ser relevante para a vida das academias da Babilónia, a Guemará foi incluida para seguir a ideia que o estudo das leis do serviço do Templo é um substituto para o serviço em si mesmo. Também, os sábios rabínicos queriam merecer a reconstrução do Templo prestando especial atenção a estas leis. Contudo, no moderno ciclo de estudos talmúdicos de Daf Yomi e nas actuais edições impressas do Talmude Babilónico, a Mishná para os últimos dois tratados é acrescentada no final, para "completar" a Ordem.



Rabino Meir Shapiro, iniciador de Daf Yomi.


Fontes:


Mishná - 4ª Ordem | Nezikin




Nezikin



Nezikin (em hebraico: נזיקין, Danos) ou Seder Nezikin (סדר נזיקין, A Ordem de Danos) é a quarta Ordem da Mishná (assim como da Tosefta e do Talmude). Ocupa-se em especial com a lei criminal e civil judaica e com o Bet Din, o sistema de tribunais judaico.


Nezikin contém dez volumes ou "tratados":

1-      Baba Kamma (בבא קמא, "Primeiro Portão").
2-     Baba Metzia (בבא מציעא, "Portão do Meio").
3-     Baba Batra (בבא בתרא, "Último Portão").
4-    Sanhedrin (סנהדרין, Sinédrio).
5-     Makkot (מכות, "Açoites").
6-    Shevuot (שבועות, "Juramentos").
7-     Eduyoth (עדויות, "Testemunhos").
8-     Avodá Zará (עבודה זרה, "Culto estranho" ou "Idolatria").
9-    Avot (אבות, "Pais") ou Pirkei Avot.
10- Horayot (הוריות, "Decisões").





Originalmente, os três primeiros volumes eram contados como um único, um volume bastante largo. Uma vez que era a o repositório principal da lei "civil", ele era simplesmente chamado Massekhet Nezikin ("Tratado Danos").





O ordenamento dos volumes de Nezikin prende-se com as seguintes razões: a Ordem começa com a lei civil (os primeiros 3 tratados) porque é considerada a pedra angular da rectidão da justiça dentro de um Estado judaico. Segue-se naturalmente Sanhedrin, pois esse tratado lida com a lei criminal. A seguir está Makkot, porque é uma continuação do assunto de Sanhedrin em termos de procedimento criminal. Depois, Shevuot, que continua o tópico geral abordado em Makkot acerca do falso testemunho. Depois de definir os prontos principais da lei criminal e civil, segue-se Eduyot para incluir tudo numa moldura haláchica.






Depois de abordar os "danos" dentro de uma sociedade, o próximo estágio é, Avodá Zará, é colocado para reforçar o que é visto como um comportamento que causa dano ao Universo. 

Avot é provavelmente colocado na continuação para se opôr à negatividade das leis de Avodá Zará e para relatar as máximas dos Sábios, sendo um aspecto essencial dos seus ensinamentos a oposição à idolatria. Finalmente, Horayot traz a discussão das "alturas" para uma nota de humildade, evidenciando o conceito que até mesmo os Sábios e o Bet Din, ou o tribunal rabínico pode cometer erros.




Nas versões do Talmude Babilónico e do Talmude de Jerusalém existe uma Guemará de cada um destes tratados, excepto para Eduyot e Avot. Provavelmente isto deve-se ao facto que estes dois tratados não estarem ligados a leis individuais e portanto não se prestam eles mesmos ao estilo de análise da Guemará.



Fontes: