A proibição bíblica de vestir roupa
confeccionada com shatnez - mistura
de lã e linho - aparece em dois versículos bíblicos, e em ambos os casos no
contexto de outras proibições contra kilayim
– mistura de duas espécies.
“Não permitirás que se cruze o teu
gado com o de espécie diversa; não semerás o teu campo com dois tipos de
semente, e roupa tecida de lã e linho [Shatnez]
não vestirás.”
Levítico 19:19
“Não semearás a tua vinha com mistura
[Kilayim] de sementes(…). Não
lavrarás com boi e jumento juntamente. Não te vestirás com tecidos de lã e
linho [Shatnez]
Deuteronómio
22:9-11
Para os rabinos do Talmude, shatnez pertence à categoria das leis
denominadas chukkim, cuja explicação
lógica não encontramos na Torah. Todavia, esta definição não impediu gerações
de comentadores de tentarem deduzir o significado espiritual desta estranha
lei. Os místicos, por exemplo, interpretaram a mistura de lã e linho como um
símbolo de misturar o divino e o impuro. Já Maimónides, especulou sobre a
proibição de shatnez ser uma reacção
a um antigo costume de sacerdotes pagãos usarem a mistura lã e linho.
De realçar, que a lei shatnez se refere apenas ao uso de roupa tecida com a mistura de lã
e linho e não ao uso de peças de vestuário distintas, sendo uma de lã e outra
de linho.
Midrash Tanhuma Bereshit
O sacrifício de Caim e Abel, Mariotto Albertinelli (1474-1515)
“E ao fim de um certo tempo, Caim
trouxe frutos da terra, como oferenda ao Eterno, e Abel ofereceu, também ele,
dos primogénitos do seu rebanho.”
Génesis 4:3-4
O Midrash
Tanhuma Bereshit encontra a resposta para a proibição de shatnez, na história de Caim e Abel. Na
Torah podemos ler - Génesis 4:3-8 - que Abel oferece ao Eterno ovelhas do seu
rebanho, fazendo Caim uma oferenda de frutos da terra. Por razões não
explicadas no texto bíblico, D’us aceita a oferenda de Abel e rejeita a de
Caim. Ofendido pela rejeição, Caim mata o irmão. O midrash especifica que “o fruto da terra” que Caim ofereceu ao
Eterno, era de fibras de linho, tendo Abel oferecido lã do tosquio da ovelha.
O midrash
conclui que depois de Caim ter assassinado Abel, D’us decreta que “a oferenda
do pecador não deve ser misturada com a oferenda do inocente” (Midrash Tanhuma Bereshit 9:9).
Caim
e Abel, 1544, Ticiano
À luz deste midrash a
proibição de shatnez é pois uma forma de lembrarmos que a mistura de lã e linho
se reporta a um acto de violência, ao primeiro assassinato da história. Assim,
a mitzvah de evitar shatnez é como que um ritual pelo qual
podemos expressar um compromisso ético, que nos lembra constantemente da nossa
ligação com D’us.
Costuma-se permanecer acordado na noite de
Hoshaná Rabá (este ano, na noite entre quinta e sexta-feira) e estudar Torá.
Recitamos todo o Livro de Devarim e o Livro de Tehilim. Em algumas congregações
é costume para o Gabai distribuir maçãs (significando um ano doce) para os
congregantes.
Salgueiro e hoshanot
Além das Quatro Espécies usadas a cada dia de
Sucot, é uma "mitsvá rabínica", datando da época dos Profetas,
segurar um aravá adicional, ou salgueiro, no sétimo dia de Sucot. No Templo
Sagrado, grandes ramos de salgueiro com 6 metros eram colocados ao redor do
altar. Atualmente, fazemos um feixe com cinco ramos de salgueiro e os
carregamos junto com as Quatro Espécies ao redor da mesa de leitura da sinagoga
durante as preces Hoshaanot, das quais recitamos hoje uma versão mais completa, fazendo sete circuitos ao redor da bimá (em vez
do único que é feito diariamente). Na conclusão de Hoshaanot golpeamos o chão
cinco vezes com o feixe de salgueiro, simbolizando "amenizar as cinco
medidas de severidade".
União e igualdade de direitos
são temas-chave de Shemini Atsêret e Simchat Torá, datas nas quais nos
alegramos com a Torá.
A melhor maneira de celebrar
Simchat Torá seria dedicar os dois dias à leitura da Torá. Mas é justamente o
contrário que ocorre. Todos os judeus, sem exceção, pegam a Torá fechada e
dançam com ela nos braços.
Pintura de Naama
Nothman
O acto encerra uma grande lição:
Se os festejos fossem
realizados com a Torá aberta, com sua leitura, haveria distinções entre um
judeu e outro, pois a compreensão e o conhecimento de cada um são diferentes.
Com a Torá fechada, mostramos a união e a igualdade de todos os judeus, unidos
pela mesma alegria. O texto não é lido, mas todos sabem que é algo precioso e,
por isso, dançam juntos e em total alegria.
Estas são as fotos da nossa festa de Sukkot, e vamos iniciar por vos mostrar alguns dos preparativos da mesma:
E os ágeis fantasminhas continuam os preparativos…
Mas o pessoal continuava a esconder-se e eu não os conseguia fotografar, foi então que me lembrei; estamos todos cansados e famintos, e o que é que chama alguém neste estado??? Mesa, cadeiras e comidinha!
Ora vejam o pessoal todo a esquecer a máquina fotográfica:
A foto seguinte, foi uma foto que teimou em não entrar no vídeo, mas
não posso deixar de a colocar pelo ar de surpresa que estas duas meninas
fizeram ao começarem a ouvir a música.
Em
Shabat Chol Hamoêd Sucotcostuma ler-se o livro de Cohelet (Eclesíastes)
- O Livro de Cohelet foi escrito por um homem sábio, o Rei Salomão, e é repleto
de pensamentos e reflexões profundas sobre a vaidade deste mundo. Conclui com
propriedade com as palavras:
"O
que importa, no final de tudo é: tema a D'us e cumpra Seus mandamentos, pois
esta é a finalidade da existência do homem."
"Para que as vossas gerações saibam que eu
fazia os filhos de Israel habitar em Sucot, quando os tirei da terra do Egito,
eu sou o Senhor, teu Deus."
(Levítico
23:43)
Há uma disputa interessante
entre os rabinos a respeito da natureza do Sucot em que os nossos antepassados habitaram.
No Talmud (Sucá 11b), o rabino Eliezer diz o Sucot eram "nuvens de
glória" que cercavam os judeus no deserto. Mas o rabino Akiva diz:
"Eles construíram para si cabanas reais." Pode-se entender a partir
rabino Eliezer que a Shechiná, a Presença Divina, cercaram no deserto - isso é
algo realmente espetacular! Rabbi Akiva é realista - eles viviam em estruturas
precárias, assim como aquelas que nós construímos hoje.
O que torna a discussão mais
interessante é que no texto midrashic Mekhilta D'Rabbi Ismael (Pischa 14), o
rabino Eliezer diz que as habitações eram cabanas reais e rabino Akiva diz que
eles eram nuvens de glória! Qual dos textos está correto e qual rabino está
correto? A resposta é: os dois textos e os dois rabinos estão correctos! Sucot é
física e metafísica. E se você não tem uma sucá física, você pode sempre ter
uma sucá "virtual"!
Quando
havia o Templo Sagrado em Jerusalém, uma das observâncias especiais de Sucot
era derramar água sobre o Altar.
Um dos principais aspectos do feriado de Sucot (Festa dos Tabernáculos) é o mandamento bíblico:
"Se você for feliz na sua festa, será sempre feliz" (Deut. 16:14).
De facto, os peregrinos que
chegavam a Jerusalém ao pátio do Templo vinham para se alegrar. O foco desta
alegria era a cerimónia em torno do mandamento para derramar água sobre o altar
- a libação de água. Durante este evento, que ocorria principalmente no Pátio
das Mulheres, os levitas tocavam muitos instrumentos musicais.
Os sábios de Israel testemunhavam as comemorações da libação de água, desde os dias do Segundo Templo, descrevendo a grande alegria da cerimónia.
Os sábios dançavam fazendo malabarismo
com tochas flamejantes e enormes lamparinas que iluminavam a cidade inteira. O
canto e a dança iam até o romper do dia, quando todos se encaminhavam à Fonte
Shiloach que fluía num vale abaixo do Templo para retirar água com júbilo.
"Quem não assistiu ao júbilo das
celebrações da retirada da água" – declaravam os sábios do Talmud:
Rei David tocando harpa, fol.1b, Miscelânea Rothschild, Itália, c. 1460-1480
O Salmo 121 - Shir La ma’alot – Esa einai el heharim, faz parte de um conjunto de Salmos (120-134) que formam um pequeno livro. É o único do conjunto com o título Shir La ma’alot – “Cântico para Ascensão” -, ao contrário dos outros que têm o título de Shir Ha ma’alot - “Cântico de Ascensão” ou “Cântico das Subidas”. Estes Salmos eram cantados pelos peregrinos na subida ou ascensão para Jerusalém, para os Festivais no Templo.
Os peregrinos deparavam-se com muitos perigos, nomeadamente os assaltos. Cantar os Salmos era pois um meio de fortalecer a fé no D’us Único, que lá no alto das montanhas guardava o Seu povo.
No texto do Salmo 121, o Salmista parece estar isolado, cercado pelas circunstâncias da vida, procurando abrigo no Eterno.
Salmo 121: 1-2 - Um Cântico para Ascensão. Ergo meus olhos para as montanhas de onde virá meu auxílio. Meu socorro vem do Eterno, o Criador dos céus e da terra.
Em resposta, vozes de anjos proferem palavras de conforto e consolação.
121:3-8 – Ele não permitirá que resvale teu pé, pois jamais se omite Aquele que te guarda. O Guardião de Israel jamais descuida, jamais dorme. D’us é a Tua protecção. Como uma sombra, acompanha-te à Sua destra. De dia não te molestará o sol, nem sofrerás de noite sob o brilho da lua. O Eterno te guardará de todo o mal; Ele preservará a tua alma. Estarás sob a Sua protecção ao saíres e ao voltares, desde agora e para todo o sempre.
Festa das Sukkot, Bênção do Lulav, fol. 147r, Miscelânea Rothschild, Itália, c. 1460-80
Na época do Templo, os Levitas cantavam os 15 “Salmos de Peregrinação” (120-134), no serviço de Sukkot. A nossa dedicatória à Festa das Sukkot, muito mais modesta, recai sobre o Samo 121. Atribuído ao rei David, está profusamente representado na música. É através dela que propomos uma pequena viagem por um texto pleno de significado e simbolismo, muito vivo ainda nos nossos dias.
Comecemos por uma recriação da musicóloga francesa Suzanne Haïque-Vantoura, segundo a sua tese de decifração das várias componentes do texto massorético exposta em La Musique de la Bible révelée.
The Music of the Bible Revealed: Psalms 121 (Alienor)
Felix Mendelssohn (1809-1847)
O segundo exemplo pertence à Oratória “Elias” de Mendelssohn, composta em 1846, para o Festival de Birmingham, em Inglaterra. Trata-se do famoso coral (a cappella), que ficou conhecido por “Coro dos Anjos”. Vamos ouvi-lo, numa interpretação do coro de rapazes do King’s College de Cambridge.
No.28: Chorus ANGELS: Lift thine eyes to the mountains, whence cometh help. Thy help cometh from the Lord, the Maker of heaven and earth. He hath said thy foot shall not be moved; thy Keeper will never slumber.
Como terceiro exemplo escolhemos uma versão interpretada cantor israelita Ben Snof.
Tehilim 121 (Salmo 121) – Shir Lama’alot – Ben Snof
Por último, escolhemos uma versão muito especial: trata-se de uma interpretação da cantora iraniana Sepideh Raissadat, acompanha por um coro infantil, o Piccolo Coro Mariele Ventre dell’Antoniano, de Bolonha. Sepideh canta o Salmo em persa, e as crianças cantam-no em hebraico. A música foi composta por Siro Merlo.
Sepideh Raissadat, Piccolo
Coro Mariele Ventre dell'Antoniano
Sukkot,
Izydor Kaufman, 1905
Este
artigo foi mais um elaborado por:
Sónia
Craveiro
Que
desta forma doce deseja a todos os leitores do Eterna Sefarad: