Carção, Judeus e os que trabalhavam com animais
usando o Cabresto…
Praça
antiga de Carção
A partir do século XV os judeus
expulsos de Espanha trouxeram outra alimentação para Carção e outra
mentalidade. Tratava-se de uma comunidade rica e organizada duramente castigada
pela Inquisição: havia 228 processos no Tribunal do Santo Ofício, aproximadamente
metade da população da altura.
Representação de um Auto-de-Fé
“É uma aldeia com fortes
tradições judaicas, conhecida como “Capital do Marranismo”, foi publicado um
livro com esse título e para meados de Maio, com o apoio da Câmara Municipal de
Vimioso, vai-se fazer as Jornadas do Judaísmo”.
Um esforço para a recuperação
da herança do judaísmo em termos do turismo cultural, a Rota do Marranismo é um
dos anseios da população em geral e de Serafim João que escreveu “Memórias de
Carção”.
Os carçonenses esperam também
poder ter um Museu Judaico/Etnográfico e um monumento de invocação à
Intolerância Religiosa e Étnica em homenagem aos judeus.
Edifício que irá ser recuperado para o futuro Museu Judaico.
No brasão da freguesia está
patente o candelabro de sete braços, um símbolo judaico, que figura a
importância dos judeus para Carção. “Já existem muito poucos resquícios da
história do judaísmo, mas nota-se mesmo nos habitantes de Carção que tinham uma
característica importante: as pessoas que viviam na praça eram um bocadinho
diferentes na maneira de ser e no aspecto cultural das que viviam nos
arredores. Era tradição os da praça serem os Judeus e os outros serem os
cabrões, porque eram os outros que trabalhavam com os animais, usavam o cabresto para
melhor trabalharem”.
Brasão de
Armas; Memória Sefardita
Também na missa não se
misturavam cristãos novos com velhos e as paredes da Igreja de Santa Cruz, no
século XVIII, estavam repletas de gravuras dos cerca de 25 judeus, desta terra,
queimados na fogueira da Inquisição. Já nada resta dos sambenitos que deram
lugar a paredes sóbrias que, se falassem, muitas histórias podiam contar.
Neste local, em 1651, foi
justiçado Francisco Mendes, natural do lugar de Carção. Foi condenado à morte e
enforcado na Vila de Outeiro, por ter assassinado Gaspar Gonçalves, juiz de
Carção. O seu crime foi acrescido por ter despedaçado «com hua fouce roçadoura
hua imagem de Christo». No meio do povo de Carção, numa
grande lápide de granito cravada no solo, junto a uma fonte, está uma inscrição
referente a Francisco Mendes. Naquele sítio estavam as casas de habitação do
assassino, as quais foram mandadas arrasar e salgar pela barbaridade do crime.
Os seus bens foram confiscados para a Coroa, ficaram também os seus
descendentes incapazes de obter qualquer ocupação até à quarta geração.
Os cães da praça e os dos
arrabaldes, judeus e cristãos, comerciantes e lavradores, em tempos separados
por crenças e modos de vida, estão agora unidos para contar a história de
Carção a quem os visita.
Adaptação da
oração do Pai-Nosso, rezada pelos marranos/cristãos-novos de Carção, no século
XX:
Senhor,
que estais nas alturas,
Por
Vossos altos favores,
Vos
chamam os pecadores:
Padre-Nosso.
A Vós,
Senhor, como posso
O Vosso
nome invocarei,
Pois
decerto, eu bem sei
Que
estais nos céus;
Amparai,
Senhor, um réu,
Que
muito ver-vos deseja,
Que
Vosso nome seja,
Santificado,
Eternamente
sejais louvado,
Por
tais modos:
A uma
voz digamos todos:
Seja,
Do
dizer ninguém se peja,
Nem o
mais de Vos louvar;
Só deve
triunfar,
O Vosso
nome,
Matai-nos
a nossa fome,
Com o
bem da Vossa mão,
E do
céu, meu Deus o pão
Venha a
nós.
Amparai-nos
sempre Vós,
Dando-nos
pão e mais pão,
E por
fim, em conclusão,
O reino
Vosso.
Fazei
que seja nosso
Esse
reino da verdade;
Sempre
a Vossa vontade
Seja
feita.
Quando
dermos conta estreita,
Convosco,
meu Deus, me veja,
Para
perdoar-me seja
A Vossa
vontade.
Dai-nos
lá, na eternidade,
À Vossa
vista um lugar;
Já que
andamos a peregrinar
Assim
na terra,
É assim
que se desterra
Uma dor
como tal prazer,
Pois
melhor lugar não pode haver
Como no
céu.
Em
tempo algum seja réu,
Por
culpas que não cometi;
A todos
daí, como a mim,
O pão
nosso.
Eu
prometo ser tão Vosso
Que por
Vós morrerei;
Sempre
Vos louvarei
Cada
dia.
Dai-nos
prazer e alegria,
Com
poderes da Vossa mão,
E a
todos o perdão
Nos dai
hoje,
Que de
Vós ninguém foge,
Antes
se chegam a ti contritos;
Porque
sois Deus dos aflitos,
Perdoai-nos
E por
amor amparai-nos!
Felizes
os que de Vós amparo têm;
Absolvei-nos,
também,
As
nossas dívidas,
Que por
serem contraídas
Temos
todos grande dor;
Perdoai-nos,
Senhor,
Assim
como nós
Havemos
mister, e Vós,
Se
acaso o perdão nos dais,
A
perdoar nos ensinais,
Perdoamos.
Que é
glória Vossa, e damos
O
perdão por mui bem feito,
Pois
perdoar é preceito,
Aos
nossos,
Pois,
por sermos todos Vossos,
É mui
justo o perdão,
Para
que não haja, não,
Devedores,
Assim
como os Vossos favores,
Que
qualquer é superior,
Agora,
por Vosso amor,
Não nos
deixeis.
Senhor,
não desampareis
Barro
que não é valente,
Pois se
deixa facilmente
Cair;
Cuidai
muito em nos acudir
Com
auxílios eficazes,
Que de
cair somos capazes
Em
tentação;
Esteidei-nos
a Vossa mão,
Senhor,
com todo o cuidado,
De
contrair o pecado
Livrai-nos
Meu
Deus e Senhor, dai-nos
Zelo e
serviço fecundo,
E
livrai-nos neste mundo
De todo
o mal,
Agora,
diga já cada qual,
Com bem
puro e firme amor:
Louvado
seja o Senhor
Amem.
Carção; Símbolos sefarditas
Petroglifo cruciforme ladeado por duas figuras aladas
Paulo Lopes - Imagem de 2009
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Excelente trabalho,parabens
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