Um
menino pede ao pai que lhe explique as diferenças entre irritação, agravação e
frustração.
Pintura de Galina Mazin Datloof
O pai pega o telefone e disca
um número ao acaso. Quando alguém atende, ele pergunta:
“Por favor, posso falar
com Alf?”
“Não há nenhum Alf aqui.” E a
pessoa desliga.
“Isso é irritação,” diz o pai.
Ele pega novamente o telefone,
disca o mesmo número e pergunta por Alf pela segunda vez.
“Não – não há ninguém chamado
Alf. Pare. Se você ligar de novo vou telefonar para a polícia.” Fim da
conversa.
“Isso é agravação.”
“Então quando é frustração?” Pergunta
o filho.
O pai pega o telefone e disca
pela terceira vez.
“Alô, aqui é Alf. Houve algum
telefonema para mim?”
A Visão
A sarça-ardente pintada por Marc Chagal
A visão inaugural na qual Moshê
foi designado para se tornar o moldador da Nação Judaica e seu eterno
professor, deveríamos presumir, contém a essência do Judaísmo.
Moshê, pastoreando as ovelhas
de seu sogro no deserto do Sinai, de repente avista uma sarça-ardente. “O anjo
de D'us apareceu a Moshê numa tocha de fogo em meio a uma sarça-ardente,” lemos
na porção Shemot. Ele viu e pasmem! O arbusto estava ardendo em fogo mas não
era consumido.
Moshê disse consigo mesmo: ‘Devo ir para lá e contemplar essa
grande visão – por que o arbusto não está queimando com as chamas’”. Quando
Moshê se aproximou da cena, D'us Se revela a ele, encarregando Moshê com a
missão de liderar o povo judeu à redenção.
Qual era o simbolismo
espiritual e psicológico por trás da visão de uma sarça-ardente?
Árvores Humanas e Arbustos
“O homem é uma árvore do
campo,” declara a Torá. Todos os seres humanos são comparados a árvores e
arbustos. Assim como as árvores e os arbustos, nós contemos raízes ocultas,
motivos e impulsos enterrados por baixo do nosso ser consciente. Assim como as
árvores e os arbustos, também possuímos uma personalidade que é exibida
visivelmente, cada qual em forma e tipo diferente.
Alguns seres humanos podem ser
comparados a árvores altas e esplendorosas, com troncos fortes envoltos por
galhos, flores e frutos. Outros podem ser comparados a arbustos, plantas
humildes, sem a estatura e majestade das árvores. Alguns indivíduos podem até
se ver como moitas de espinhos, abrigando tensão e conflito mal resolvido. Como
um espinho, seus conflitos e dificuldades são uma fonte de constante irritação
e frustração, pois eles nunca se sentem contentes e completos consigo mesmos.
Todas as pessoas – todas
árvores e arbustos – estão em chama. Cada pessoa possui um fogo ardente dentro
de si, ansiando por um significado, compleição e amor. Assim como a chama de
uma vela está para sempre lambendo o ar, subindo na direção do céu, também cada
alma anseia por beijar o véu e tocar a textura de eternidade. Apesar disso,
para muitas árvores humanas a chama anelante da alma é satisfeita e saciada
pelo senso de realização espiritual e sucesso. Essas pessoas ficam contentes
com suas conquistas espirituais; complacentes em seu relacionamento com D'us,
satisfeitas com o significado e amor que encontram na vida.
As moitas de espinho humanas,
por outro lado, vivenciam um destino diferente. Os espinhos dentro delas jamais
lhes permitem ficar contentes com aquilo que são, e sonham com uma vida de
verdade que sempre parece fugir- lhes. Assim, suas chamas de anseio jamais são
saciadas. Elas ardem e ardem e seu fogo nunca cessa. Como a suprema paz que
elas procuram permanece além delas, e a realidade e a profundeza de D'us sempre
lhes foge, seu vazio interior jamais é preenchido, deixando-as humilhadas e
sedentas, ardendo como uma chama sem trégua.
Com a visão que Moshê
contemplou no deserto, foi mostrada a ele uma das verdades fundamentais do
Judaísmo: mais do que em qualquer outro local, D'us está presente na chama da sarça-ardente.
O pré-requisito para Moshê assumir o papel de eterno mestre do povo de Israel
foi sua descoberta de que a verdade mais profunda de D'us é vivenciada na
própria busca e anseio por Ele. No momento em que alguém sente que “Eu tenho
D'us”, ele poderia ter tudo excepto D'us.
A Chave Mestra
Certa vez, o Baal Shem Tov
disse ao Rabino Ze’ev Kitzes, um de seus discípulos mais antigos: “Você tocará
o shofar para nós neste Rosh Hashaná. Quero que estude todas as meditações
cabalísticas pertinentes ao shofar, para que medite sobre elas quando estiver
tocando.”
Rabino Ze’ev aplicou-se à
tarefa com entusiasmo, devido à magnitude da responsabilidade. Estudou os
escritos cabalísticos que discutem o significado do shofar e seus segredos
místicos. Preparou também uma folha de papel na qual anotou os pontos
principais de cada meditação que precisaria refletir enquanto tocasse o shofar.
Finalmente, chegou o grande momento. Era a manhã de Rosh Hashaná e Rabino Ze’ev
subiu à plataforma no centro da sinagoga do Baal Shem Tov, cercado por um mar
de pessoas. A um canto estava o Baal Shem Tov, a face em chamas. Um silêncio
reverente encheu a sala em antecipação do clímax do dia – os toques e soluços
pungentes do shofar.
Rabino Ze’ev colocou a mão no
bolso e seu coração gelou: o papel tinha desaparecido. Lembrava-se clarament de
tê-lo colocado ali pela manhã, mas agora se fora. Buscou na memória aquilo que
tinha estudado, mas seu desgosto com as anotações perdidas lhe congelava a
mente. Lágrimas de frustração lhe encheram os olhos quando viu que teria de
tocar o shofar como um simplório, sem significado espiritual e êxtase.
Rabino Ze’ev tocou a litaia de
sons exigidos pela Lei Judaica e voltou ao seu lugar, com um vazio
profundamente calcado em seu coração.
Na conclusão das preces, o Baal
Shem Tov aproximou-se de Rabino Ze’ev, que estava ali sentado, soluçando sob
seu talit. “Gut Yom Tov, Reb Ze’ev!” ele exclamou. “Foi extraordinário o toque
de shofar que escutamos hoje!”
“Mas Rebe… Por quê?…”
“No palácio do rei,” disse o
Baal Shem Tov, “há muitos portões e portas levando a muitos salões e câmaras.
Os seguranças do palácio têm muitas argolas grandes com muitas chaves, cada
qual abrindo uma porta diferente. As meditações são chaves, cada qual abrindo
uma porta em nossas almas, cada uma acessando outra câmara nos mundos
superiores.
“Porém há uma chave que se
encaixa em todas as fechaduras, uma chave mestra que abre todas as portas, que
descerra para nós as câmaras mais recônditas do palácio Divino. Esta chave
mestra é um coração partido.”
Por Yosef Y. Jacobson
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