MIRIAM
UMA
HEROÍNA DA TORÁ
A mãe de Moisés, Simeon
Solomon, 1860
Nesta pintura a óleo de Simeon Solomon
(1840-1905), o pintor descreve-nos uma cena familiar cheia de ternura: Moisés
ao colo da mãe (Joquebede), que lhe segura amorosamente na mãozinha minúscula,
e ao lado, delicadamente inclinada sobre os dois, está Miriam, a irmã mais
velha. Miriam segura a cesta que há-de transportar Moisés nas águas das margens
do Nilo, salvando-o do édito do Faraó que decretava a morte a todos os
recém-nascidos israelitas do sexo masculino.
A mãe de Moisés, Alexey
Tyranov (1808-1859)
Segundo o Talmude (Sotá 12a), Amram, o pai de Miriam e
líder espiritual da sua geração, na sequência do decreto faraónico de matar
todo o menino recém-nascido israelita, decidiu divorciar-se de Joquebede para
evitar a possibilidade do nascimento de mais filhos. Miriam, então uma menina
de seis anos de idade, terá argumentado com o pai, defendendo que tal atitude
era mais cruel que a do Faraó: enquanto que o Faraó decretara o fim de todos os
meninos, ele, Amram, cujo comportamento poderia ser imitado por outros judeus,
estaria a condenar também as meninas, pondo em risco a continuidade do povo
judeu.
Amram ouviu a filha e casou em segundas núpcias com a sua ex-mulher,
gerando o futuro redentor de Israel.
Descobrindo Moisés, Edwin
Long, 1886
“E
ficou de longe sua irmã, para ver o que lhe aconteceria. E a filha do Faraó
havia descido para se banhar no Nilo (…), e viu a arca dentro do canavial e
mandou que a sua criada lhe pegasse”
Êxodo,
2:4-5
Miriam, escondida no canavial, vigiava o seu pequeno
irmão, vendo-o ser recolhido das águas do Nilo por uma serva da filha do Faraó.
Percebendo que a filha do Faraó precisava de uma ama-de-leite para amamentar o
bebé, intervém, perguntando: «Queres que vá chamar para ti uma mulher, ama das
hebreias, e que amamente o menino por ti?» (Êx. 2:7). Com a concordância da
princesa, Miriam escolheu uma ama, a própria mãe, Joquebede, que amamentou e
cuidou de Moisés.
“Os
Israelitas deixando o Egipto”, 1828, David Roberts
Segundo os sábios, Miriam terá
recebido este nome [onde a palavra mar
(amargura) está embebida], por ter nascido no período mais penoso do cativeiro:
«E (os egípcios) amarguraram as suas vidas (dos israelitas) com serviço
penoso…» (Êx. 1:14). Mas este foi também o período que daria início ao longo
processo de redenção do povo de Israel, que Miriam ainda criança, já dotada de
dons proféticos, terá anunciado: «Minha mãe terá um filho que será o libertador
de Israel.» (Sotá, 12b).
“Pois te fiz sair da terra do Egipto, te
redimi da casa da escravidão e enviei diante de ti Moisés, Aarão e Miriam”
Miqueias, 6:4
As palavras do profeta Miqueias
colocam os três irmãos – Moisés, Aarão e Miriam-, lado a lado na extraordinária
saga que conduz o povo de Israel da libertação da escravidão do Egipto rumo à
Terra Prometida. É por intermédio de Moisés que D’us outorga a Torá aos
israelitas; é pelo mérito de Aarão que a “Nuvem de Glória” protege os filhos de
Israel durante a sua conturbada travessia de 40 anos no deserto, mas é graças a
Miriam que a água fluía em abundância. A “Fonte de Miriam” (Be’er Miriam) acompanha o povo hebreu na
sua longa caminhada no deserto, só deixando de jorrar água quando a profetisa
morre (Núm. 20:1).
Após a travessia milagrosa
do Mar Vermelho, Moisés e Aarão lideram os homens de Israel num cântico de
louvor a D’us (Êx. 15:1).Os israelitas tinham sido libertos da escravidão do
Egipto.
Miriam, com um tamborim nas mãos, entoa
também um hino de louvor ao Senhor: «E tomou Miriam, a profetisa, irmã de
Aarão, o tambor na sua mão, e saíram todas as mulheres atrás dela, com adufes e
com danças.» (Êx. 15:20). É justamente nesta passagem que a Torá se refere a
Miriam como Ha-naNaviá – a profetisa.
Hagadá Kaufman, Catalunha, séc. XIV
A magnífica iluminura acima
apresentada ilustra os versículos da Torá acima mencionados; nela podemos observar,
do lado direito, três mulheres tocando instrumentos musicais: da direita para a
esquerda, um órgão portátil, um alaúde e Miriam com o adufe. Em frente a elas,
mas em baixo, vemos três mulheres de véu e cinco raparigas que dançam de mãos
dadas. Do lado esquerdo, Moisés e Aarão com um grupo de israelitas com as mãos
elevadas, louvando o Eterno.
Três mil anos depois, a travessia do Mar
Vermelho continua a ser motivo de agradecimento e exultação para os judeus do
mundo inteiro. Para Miriam, que ainda criança havia profetizado que sua mãe
teria um filho que libertaria os hebreus do cativeiro do Egipto, que se
empenhou na salvação e bem-estar do irmão, o momento não podia ser de maior
alegria e reconhecimento ao Eterno. É este sentimento que a profetisa, que
contribuiu de forma tão significativa para a sobrevivência do povo de Israel, expressa
quando entoa o Hino de Louvor: «Cantemos ao Senhor, pois triunfou
gloriosamente. Cavalo e seu cavaleiro lançou ao mar.» (Êx. 15:21).
O Hino de Louvor de Miriam, Wilhelm
Hensel, 1836
O
pintor alemão Wilhelm Hensel (1794-1861) retratou de forma admirável o episódio
de Êxodo, 15: 20-21. O modelo da figura de Miriam foi a sua mulher, a compositora
Fanny Mendelssohn, irmã do célebre compositor Felix Mendelssohn. Miriam também
é glorificada na canção “Miriam’s Song” de Debbie Friedman. É com esta canção
que terminamos esta singela homenagem a Miriam, a profetisa.
And the women dancing with their timbrels,/Followed
Miriam as she sang her song,/Sing a song to the One whom we’ve exalted,/Miriam
and the women danced and danced the whole night long.
Este artigo foi mais uma relíquia elaborada por
Sónia Craveiro,
Muito obrigada
Um grande beijinho
Fontes:
http://www.morasha.com.br/conteudo/ed32/miriam.htm
A Lei de Moisés – Torá, Êxodo, editora &livraria Sêfer;
http://www.goblenart.com/unique/miriams-song-of-praise/
http://kaufmann.mtak.hu/en/ms422/ms422-003v.htm
http://www.youtube.com/watch?v=QZdSEsZ8bMo
Última pintura de: Vie Dunn-Harr
Sem comentários:
Enviar um comentário