Idade de Ouro da cultura judaica
em Al-Andalus
No reino d'Al Andaluz
Al-Andalus
A Idade de Ouro da cultura
judaica no Al-Andalus refere um período da história durante o qual uma parte
importante da península Ibérica esteve sob governo muçulmano e reinou uma
tolerância geral para a sociedade judaica, o qual favoreceu o florescimento da
sua cultura, religião e economia.
A natureza e a duração desta
"Idade de Ouro" é objecto de debate. Segundo alguns estudiosos, o seu
começo poderia situar-se:
Entre
711— 718, após a conquista dos omíadas.
Em 912,
sob o governo de Abd-al-Rahman III.
Para o
seu final, as datas propostas são:
1031,
com o final do Califado de Córdova.
1066,
data do massacre de judeus em Granada.
1090,
com a conquista almorávida.
Meados
do século XII, com a invasão almóada.
Imagem de um
cantor lendo o Pessach no Al-Andalus, iluminura
de uma Hagadá
de Barcelona no século XIV.
O tratamento outorgado aos não
muçulmanos durante o Califado de Córdova foi objeto de debate, especialmente o
fato de existir uma época de coexistência pacífica entre muçulmanos e não
muçulmanos. Foi argumentado que os judeus (e outras minorias religiosas)
viveram uma época de tolerância, respeito e harmonia sob o governo muçulmano
que não aconteceu no restante da Europa ocidental cristã, o que ocasionaria
esta "Idade de Ouro".
Apesar do Al-Andalus ter tido
uma importância chave para a sociedade judaica durante a Alta Idade Média,
gerando importantes figuras e uma das comunidades judaicas mais ricas e
estáveis, não há acordo entre os académicos a respeito de se esta convivência
entre judeus e muçulmanos era realmente uma convivência real inter-religiosa,
ou se, no fundo, o tratamento que receberam foi similar ao dado em outros
lugares durante a mesma época.
Nascimento
da Idade de Ouro
Os reis
visigodos Chindasvinto, Recesvinto e Égica
segundo o Codex Vigilanus.
Em 589, os Visigodos cristãos
da Hispânia efetuaram uma severa perseguição contra os judeus;
consequentemente, no século VIII, os judeus receberam os conquistadores árabe-muçulmanos
com os braços abertos, e, sobretudo, os Berberes. As cidades conquistadas, como
Córdova, Málaga, Granada, Sevilha, e Toledo foram brevemente submetidas e
postas sob domínio dos seus habitantes judeus, que foram armados pelos
invasores mouros.
Após a vitória, os invasores
retiraram todas as restrições visigodas e garantiram a liberdade religiosa, em
troca do pagamento de um dinar de ouro por cabeça (gízia).
Povo de
Toledo
Começou assim um período de
tolerância para os judeus, cujo número incrementar-se-ia consideravelmente
devido à imigração procedente da África. Especialmente após 912, durante o
reinado de Abd-al-Rahman III e o seu filho, Al-Hakam II, os judeus prosperaram,
dedicando-se ao serviço do Califado de Córdova, ao estudo das ciências, e ao
comércio e à indústria. A expansão económica dos judeus foi muito importante.
Abd-al-Rahman
III
Abd-al-Rahman II
Em Toledo, participaram na tradução de textos
árabes para as línguas romances, bem como do grego e do hebraico para o árabe.
Os judeus contribuíram para a botânica, a geografia, a medicina, as
matemáticas, a poesia e a filosofia.
O ministro e físico da Corte de
Abd al-Rahman III foi Hasdai ben Isaac ibn Shaprut, o patrão de Menahem ben
Saruq, Dunash ben Labrat, e outros eruditos e poetas judeus. O pensamento judeu
floresceu com figuras como Samuel Ha-Nagid, Moses ibn Ezra, Salomão ibn
Gabirol, Judah Halevi e Maimônides. Durante o reinado de Abderramão III, o
erudito Moses ben Enoch foi designado rabi de Córdova, e, como consequência,
Al-Andalus converteu-se no centro do estudo do Talmude, e Córdova no ponto de
encontro dos sábios judeus.
A corte
do califa Abd ar-Rahman III
Durante um tempo, os judeus
gozaram de uma autonomia parcial como dhimmidas, graças ao pagamento da gízia,
a qual era administrada separadamente do zakat, o qual era pago por muçulmanos.
A gízia foi considerada um pagamento por não emprestar o serviço militar, como
um tributo, etc. Os judeus tinham o seu próprio sistema legal e os seus
serviços sociais. As religiões monoteístas agrupadas sob o nome de Povos do
Livro, eram toleradas, porém era evitada qualquer manifestação multitudinária
ou que pudesse chamar a atenção, como as procissões de fé ou os sinos.
Fim da
Idade de Ouro
Com a morte de al-Hakan II Ibn
Abd-al-Rahman em 976, o Califado começa a dissolver-se, e a situação dos judeus
tornou-se mais precária sob o governo dos reinos de taifas. A primeira
perseguição importante foi o massacre de Granada em 1066, a crucifixão do vizir
Joseph ibn Naghrela e o massacre da maior parte da população judaica da cidade.
"Mais de 1500 famílias judaicas, ou seja, ao redor de 4 000 pessoas,
faleceram num dia." Esta foi a primeira perseguição dos judeus da
península sob o governo islâmico.
Em princípios de 1090 a
situação piora com a invasão dos Almorávidas, uma seita puritana procedente de
Marrocos. Sob o seu governo, alguns judeus prosperaram (sobretudo sob Ali ibn
Yusuf, mais que com seu pai Yusuf ibn Tasufin ). Entre aqueles que ostentaram o
título de vizir ou "nasi" à época dos Almorávidas, encontrava-se o
poeta e físico Abu Ayyub Salomão ibn al-Mu'allam, Abraão ibn Meir ibn Kamnial,
Abu Isaac ibn Muhajar, e Salomão ibn Farusal (embora este último fosse
assassinado a 2 de maio de 1108).
A invasão dos Almorávidas
Os Almorávidas foram expulsos
da península em 1148, mas o seu lugar seria ocupado pelos almóadas, que eram
até mesmo mais puritanos. Sob o seu governo, muitos judeus foram obrigados a
aceitar o Islão; os conquistadores usurparam as suas propriedades e as suas
famílias, que seriam vendidos como escravos. A maioria das instituições
educacionais judaicas foram fechadas e as sinagogas destruídas.
Durante o reinado destas dinastias berberes, muitos judeus, e, até mesmo, alguns eruditos muçulmanos abandonaram o Al-Andalus e emigraram para Toledo, a qual fora reconquistada em 1085 por forças cristãs.
Vários eruditos judeus
participaram na chamada Escola de tradutores de Toledo, que traduziu, pela
primeira vez para o latim, os trabalhos de árabes tão notáveis quanto Averróis,
ou do poeta e filósofo judeu Salomão Ibn Gabirol, conhecido como Avicebron.
Quase 40 000 destes emigrados unir-se-iam às filas de Afonso VI de Castela na
sua luta contra os Almorávidas, os quais também contavam com judeus entre as
suas tropas.
Herança árabe e
judaica na Península
Ibérica
Até mesmo após esta "Idade
de Ouro" terminar, a comunidade judaica da península Ibérica, conhecida
como comunidade sefardita, continuou sendo a comunidade judaica mais importante
do mundo (especialmente com o declínio da Academia de Babilónia, no Iraque).
Eruditos como Maimónides, nascido em 1135, foram figuras fundamentais no
judaísmo. A presença judaica na Península continuaria até a expulsão forçada decretada pelos cristãos no Decreto de Alhambra, em 1492, e, pela Inquisição
portuguesa em 1497.
Decreto de Alhambra, 31 de Março de 1492.
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