segunda-feira, 11 de junho de 2012

SABINA SPIELREIN (1885-1942)




UMA PIONEIRA DA PSICANÁLISE

Sabina Spielrein foi pioneira no campo da psicanálise e foi a primeira pessoa a propor uma tese sobre vida instintiva. Spielrein determinou que a vida instintiva está baseada em dois instintos– o instinto da vida e o instinto da morte, que são o oposto um do outro. A sua tese viria a influenciar a obra de Freud. As contribuições de Spielrein para o desenvolvimento da psicanálise foram, até um passado muito recente, praticamente ignoradas. Em 1977, na cave do antigo Instituto de Psicologia em Genebra, foram encontradas partes dos seus diários, entre 1909 e 1912, e correspondência que esta manteve com Jung e com Freud, entre 1906 e 1923; esta descoberta reavivou o interesse na vida e obra da psicanalista.

Sabina Spielrein nasceu em 1885, em Rostov, na Rússia. Era a mais velha de cinco filhos. A mãe, Eva Marcovna Lujublinskaia, era médica dentista e o pai, Naphtul Arkadjevitch Spielrein, era entomologista, que depois de se mudar de Varsóvia para Rostov, se tornou um homem de negócios bem-sucedido. Tanto o avô, como o bisavô materno de Sabina, eram ambos rabinos. O avô educou a mãe de Sabina, Eva, que era muito inteligente e musical. Eva enamorou-se de um jovem cristão, e o pai, não concordando com a situação, arranjou-lhe um noivo judeu - Naphtul Arkadjevitch Spielrein. Ao que tudo indica, não foi um casamento feliz.


Família Spielrein em 1909



Os pais de Sabina eram muito severos com os filhos: o pai tiranizava a vida da família, e a mãe batia duramente nos filhos. No entanto, proporcionaram aos filhos uma educação esmerada: contrataram uma ama, uma perceptora que os preparou para o ingresso no liceu, e um professor de música.

Sabina foi uma criança frágil, sujeita a várias doenças na infância. Mas era também muito precoce. Sendo o russo a sua língua materna, aos seis anos de idade já falava francês e alemão. De facto, toda a família comunicava, a cada dia da semana, numa língua diferente, alternando o francês, o inglês, o alemão e o russo.

Aos dez anos foi admitida no liceu feminino da sua cidade natal, completando os estudos com distinção em 1904. Como complemento, estudou piano, latim e canto, mas gostava especialmente de ciências naturais. Esta preferência orientou-a para o curso de Medicina. Quando tinha quinze anos, a sua pequena irmã, Emília (Milotchka), de seis anos, morreu com febre tifoide. Este episódio afetou-a profundamente.

Sabina com a mãe e Milotchka, 1901


Aos dezassete anos começou a evidenciar perturbações de comportamento, e em Agosto de 1904 foi internada na Clínica Psiquiátrica de Burghölzli, em Zurique. Sabina foi a primeira doente de Carl Jung, que a tratou em regime de internamento até Junho de 1905, e na qualidade de doente externa até 1911.

O filme “Prendimi l’anima” de Roberto Faenza, conta a história de Sabina Spielrein. Podemos ver no excerto abaixo, cenas do filme ao som da canção yiddish “Tum Balalaika” –


Em 1905, quando teve alta, Sabina iniciou os seus estudos de Medicina na Universidade de Zurique. O professor Eugen Bleuler, diretor da Clínica de Burghölzli, providenciou um certificado médico atestando que Sabina Spielrein não sofria de doença mental, mas antes apresentava sintomas de histeria, como consequência de traumas emocionais.


Onde reina o amor, o ego morre”
Sabina Spielrein



Sabina Spielrein formou-se em Medicina, em Fevereiro de 1911, defendendo uma tese sobre esquizofrenia – Uber den psychologishen Inhalt eines Falles von Schyzophrenie (Dementia Praecox), que Carl Jung usou no seu livro Wandlungen und Symbole der Libido (1912). Foi justamente durante estes sete anos, que Jung e Spielrein viveram um romance; um romance que deveria permanecer secreto, não só porque Jung era casado, como também por questões de ética profissional.

Em Outubro de 1911, Spielrein é eleita membro da Sociedade Psicanalítica de Viena. Muito ativa, dá palestras e publica inúmeros artigos da especialidade. O próprio Freud envia doentes seus a Spielrein. No entanto, não consegue ganhar o suficiente para se manter em Viena e decide partir para Berlim.

Em Junho de 1912, Sabina casa em Berlim com Pavel Scheftel, um médico judeu russo. Em Dezembro de 1913 nasce a primeira filha do casal, Irma Renata.

Em 1914, no início da I Guerra Mundial, Pavel Scheftel regressa à Rússia e Sabina muda-se para a Suíça, com a filha, esperançada em encontrar condições favoráveis à sua prática clínica. Em 1920 participa no Congresso Internacional de Psicanálise, em Haia. Entretanto, em Genebra, onde trabalha no Instituto Jean-Jacques Rousseau, tem uma atividade intensa, sendo o seu trabalho mais notável o tratamento de Jean Piaget, com quem colabora numa série de trabalhos sobre “Pensamento Simbólico e Autista”, entre 1920 e 1923.


O Berçário Branco em Moscovo

Em 1923 regressa à Rússia, para visitar amigos e familiares. Vive um ano em Moscovo, onde trabalha num projeto piloto do Instituto Psicanalítico de Moscovo. Entretanto, é nomeada diretora do Departamento de Psicologia Infantil da Universidade de Moscovo, e juntamente com Vera Schmidt funda um Jardim de Infância, que ficou conhecido por Berçário Branco, já que todas as paredes, assim como o mobiliário, eram de cor branca. A instituição tinha como principal finalidade o rápido amadurecimento crítico e analítico das crianças.

O Berçário Branco foi encerrado três anos depois pelas autoridades soviéticas, sob a acusação de estimular práticas de perversões sexuais nas crianças.Ivan Ionov é o único sobrevivente do Berçário Branco. Podemos ver no excerto abaixo do filme “Prendimi l’anima”, um episódio passado no Berçário Branco com Ivan Ionov, então menino, e uma entrevista com o próprio aos 84 anos de idade.


Em 1924, Sabina Spielrein regressa à sua cidade natal e reconcilia-se com o marido. Em 1926 nasce a segunda filha do casal, Eva. Entretanto, funda um infantário e ensina na Universidade até 1936, ano em Stalin proíbe a Psicanálise em toda a URSS. Durante o período chamado do Grande Terror (política repressiva de Josef Stalin), tanto o marido como os irmãos de Sabina são assassinados.

Em Agosto de 1942, um comando nazi capturou os judeus de Rostov; uns foram conduzidos à sinagoga e outros até um local chamado Zmiyevskaya Balka (Ravina da Serpente), onde foram sumariamente executados. Segundo investigações recentes, Sabina Spielrein, juntamente com as suas duas filhas, Renata de 29 anos, violoncelista, e Eva de 14, estudante de violino, faziam parte do segundo grupo.



Podemos concluir que Sabina Spielrein enfrentou muitos obstáculos: primeiro porque era uma mulher que trabalhava numa área predominantemente masculina, e depois porque era judia, numa época de anti semitismo violento. Todavia, deixou-nos um legado que se tem vindo a revelar da maior importância para a compreensão da psicologia humana.

É cada vez maior o interesse pela vida e obra da psicanalista Sabina Spielrein, e a atestá-lo estão os variados artigos, documentários, livros e filmes, como por exemplo “A Dangerous Method” de David Cronenberg, cuja ação, em vésperas da I Guerra Mundial, descreve a relação turbulenta entre Carl Jung, Sigmund Freud e Sabina Spielrein.

A Dangerous Method – Official Trailer (HD)


Este artigo é o resultado de uma pesquisa feita pela minha amiga
Sónia Craveiro,
a quem agradeço o carinho por este presente tão rico.
Muito obrigada
Beijinho

Fontes:

8 comentários: