DÉCIMO QUINTO DIA DO MÊS DE SHEVAT
A ÁRVORE NA RELIGIÃO JUDAICA
As Escrituras proíbem expressamente o abate de árvores
frutíferas, mesmo em tempos de guerra. Não é apenas a vida do Homem que é
importante no Judaísmo, mas também a das árvores, especialmente a das árvores
frutíferas, já que providenciam alimento - “Quando sitiares uma cidade por
muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo,
metendo nele o machado, porque dele comerás, pelo que não o cortarás…”
(Deuteronómio 20:19).
A EXCEPÇÃO
No entanto, em tempos de emergência, é permitido o abate de
árvores não frutíferas - “Somente a árvore que souberes que não é árvore que dá
frutos que se comam, essa poderás destruir e cortar, e construirás baluarte
contra a cidade que fizer luta contra ti até à sua rendição” (Deuteronómio
20:20).
O Homem é comparado à árvore
A Torá compara a árvore que dá fruto ao homem frutífero, ou
seja, àquele que não vive só para si, mas produz e providencia alimento para o
próximo. O melhor exemplo é o professor que tem a responsabilidade de ser uma
árvore frutífera, de produzir frutos doces, saudáveis, e, principalmente, que
contenham a semente que levará por diante esta cadeia de conhecimento e de
conduta.
TU BISHVAT NA MISHNÁ
Mishná, séc. X ou XI, Palestina,
colecção Dávid Kaufman
O dia 15 de Shevat é mencionado pela primeira vez na Mishná
(Torá oral), como o dia para o pagamento anual do imposto (dízimo) sobre as
árvores de fruto. O imposto era chamado bikkurim, que significa “primeiros
frutos”.
Desde então, o 15 de Shevat é mencionado várias vezes nos
Talmudes da Babilónia e de Jerusalém, não como uma festividade, mas como um dia
regular de cobrança de impostos.
A DESTRUIÇÃO DO SEGUNDO TEMPLO
Francisco Hayez, A Destruição do
Templo de Jerusalém, 1867
Após a destruição do Segundo Templo (ano 70 da e. c., pelos
Romanos), quando a esmagadora maioria dos Judeus foi obrigada a partir para a
Diáspora, o 15 de Shevat passou a lembrar Eretz Israel, com nostalgia e
saudade. A tradição de comer frutos de Israel começou então, ainda nos inícios
da Idade Média.
OS CABALISTAS DE SAFED
Moshe Castel, O cabalista, 1933
No século XVII, os cabalistas de Safed criaram uma
cerimónia especial – “Tikkun”, para a véspera de Tu Bishvat. Utilizando o seu
modelo de Hagadá de Pessach, compilaram uma colecção de textos - passagens
bíblicas, citações do Talmude, Midrashim -, que louvavam a terra de Israel e os
seus frutos. Assim, o tempo de saudade de Israel transformou-se num tempo de
aprendizagem (limud) sobre a terra de Israel e dos seus frutos.
OS PIONEIROS SIONISTAS E TU
BISHVAT
Quando os pioneiros sionistas se instalaram na, então,
Palestina do Império Otomano, encontraram uma terra arruinada e desertificada
há anos, começando a plantar árvores para a revitalizar. Em Tu Bishvat de 1884
teve lugar uma plantação maciça de árvores na moshav Yasod Maale, na Galileia.
Mas a ligação oficial entre Tu Bishvat e a plantação de árvores, foi escrita
pela primeira vez no manifesto de uma conferência de professores, que teve
lugar em Zichron Yaakov, no ano de 1908.
DIA DA ÁRVORE EM ISRAEL
Ben Gurion, Primeiro Ministro de
Israel, em Tu Bishvat, no ano de 1949
Em Tu Bishvat de
1949, Jerusalém foi cercada pela "Floresta dos Defensores", em
memória dos que tombaram na Guerra da Independência. A primeira árvore desta
floresta foi plantada pelo então primeiro-ministro David Ben Gurion. Este dia
também marcou o início da primeira sessão do Knesset.
Tu Bishvat é celebrada
saboreando frutos
No seder de Tu Bishvat é costume comer, especificamente,
frutos pelos quais Eretz Israel é enaltecida: os shivat haminim (os sete
frutos), nomeados na Torá.
…“terra de trigo
e de cevada, de parreira, de figueira e de romãzeira; terra de oliveira que dá
azeite, e de tamareira” (Deuteronómio 8:8).
Também é costume apreciar várias espécies de fruta, algumas
da nova estação, para poder recitar a brachá “shehechianu”.
O SEDER DE TU BISHVAT
O seder de Tu Bishvat deve começar com um bolo ou outro
alimento que leve farinha, recitando a brachá “borei minei mezonot”.
Seguidamente deve servir-se vinho ou sumo de uva, com a
brachá “borei peri hagafen”.
Por fim, recita-se a brachá da fruta da árvore– “borei peri
haetz”, saboreando, em primeiro lugar, as frutas pelas quais Eretz Israel é
enaltecida, seguidas pelos frutos, conforme a ordem dos 12 primeiros, que se
seguem:
CHITA (TRIGO)
O trigo é a base do sustento; requer trabalho para crescer,
ser colhido e processado. (Seora, (cevada), embora não incluída neste seder, é
uma das sete espécies pelas quais Israel é abençoada).
ZAIT (AZEITONA)
A azeitona fornece o melhor shemen (óleo) quando o fruto é
esmagado. O azeite flutua sobre os outros líquidos.
TAMAR (TÂMARA)
A tâmara é frequentemente uma metáfora para a rectidão,
pois a tamareira é alta e frutífera. Ademais, a tamareira resiste à mudança de
ventos, assim como o povo judeu.
GUEFEN (UVA)
A uva pode ser transformada em diferentes tipos de alimentos
(passas) e bebidas (vinho); assim, também, cada judeu tem o potencial de êxito
em algum aspecto da Torá e cumprimento das mitzvot, e pode ser especial à sua
maneira.
TEENA (FIGO)
O figo deve ser colhido assim que amadurece, pois logo se
estraga. Do mesmo modo, devemos ser rápidos nas mitzvot que se nos deparam,
antes que a oportunidade se vá.
RIMON (ROMÃ)
A romã tem 613 sementes, coincidentes com o número de
mitzvot da Torá. Tente contar! Mesmo o judeu menos cumpridor de mitzvot está
repleto de méritos, assim como uma romã cheia de sementes.
ETROG (FRUTA CÍTRICA)
Estes frutos são considerados extremamente belos, sendo
importantes na época de Sukot. O etrog permanece na árvore durante todo o ano,
beneficiando-se de todas as estações. Assim, ensina que o judeu deve ser judeu
durante o ano inteiro.
TAPUACH (MAÇÃ)
A maçã leva 50 dias para amadurecer. Também os judeus
amadureceram durante os 50 dias entre Pessach e Shavuot. Assim como a macieira
produz frutos antes das folhas, assim os judeus cumprem mitzvot, sem o
pré-requisito da compreensão, como disseram na outorga da Torá: naasse venishma
(“faremos” e, depois, “entenderemos, escutaremos”).
EGOZ (NOZ)
A noz divide-se em
quatro partes, correspondentes às letras do tetragrama (do nome de D’us) e às
quatro “rodas da Carruagem Divina”. Como as nozes têm duas cascas, uma dura,
outra mole, que devem ser removidas, assim também devemos proceder à
circuncisão física e espiritual.
SHAKED (AMÊNDOA)
A amêndoa significa entusiasmo em servir a D’us, pois a
amendoeira é sempre a primeira a florescer. É por isso que brotou uma
amendoeira do cajado de Abraão.
CHARUV (ALFARROBA)
A alfarroba demora mais a crescer do que qualquer outra
fruta. Lembra-nos da necessidade de investirmos muitos anos no estudo da Torá,
para alcançarmos um entendimento claro e valioso.
AGASIM (PERAS)
As peras de diferentes cepas mantêm entre si uma grande
afinidade. Ensinam-nos assim a importância da união.
BIBLIOGRAFIA
Texto adaptado
de :
http://www.koshermap.com.br/upload/download/2011/01/20/download_129554675652.pdf;
Outras fontes:
TORÁ, Editora
& Livraria Sêfer, São Paulo, Brasil;
PELAIA, PETER, The Seven Species - Produce of the Land of Israel;
Tu Bishvat -
http://eretzisraelmv.blogspot.com/2011/01/tu-bishvat.html;
http://kaufmann.mtak.hu/en/study04.htm
Nota: Imagem do
diapositivo nº6—Francisco Hayez, A Destruição do Templo de Jerusalém, 1867.
Trabalho realizado por Sónia Craveiro
Mês de Shevat de
5775 (Fevereiro de 2015).
Muito interessante, sucinto e completo. Obrigada.
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