A
DESTRUIÇÃO DO PRIMEIRO TEMPLO E O CATIVEIRO DA BABILÓNIA
A
destruição do Templo de Jerusalém, 1867, Francesco Hayez
O Primeiro Templo, construído
no reinado de Salomão, era o local mais importante do antigo judaísmo. Foi
destruído em 586 a. e. c., quando os babilónios comandados pelo rei
Nabucodonosor II saquearam e incendiaram Jerusalém. O Segundo Templo foi
construído no mesmo sítio do Primeiro Templo e completado em 516 a. e. c.
Infelizmente, o Segundo Templo também foi destruído, desta vez durante o cerco
romano a Jerusalém, em 70 da e. c. A destruição de ambos os Templos teve lugar
na mesma data – o nono dia do mês hebraico de Av – com 656 anos de intervalo. Estes dois acontecimentos tiveram
um impacto de tal forma trágico na vida do povo judeu, que os antigos rabinos
declararam a destruição dos Templos um Dia de Luto. Esta é a origem de Tisha B’Av – o Nono de Av -, que este ano coincide com o dia 29
de Julho do calendário comum.
Vamos aqui evocar esta data, dedicando
especial atenção à destruição do Primeiro Templo e ao Cativeiro da Babilónia.
Vamos fazê-lo através da poesia, da
pintura e da música, porque a obra de arte é a experiência da beleza que nos
ajuda a olhar dentro do pensamento, alma adentro, suavizando a dor que às vezes
nos consome. A obra de arte, em última instância, pode conduzir-nos à
transcendência, aproximando-nos de Deus.
O
Lamento de Jeremias, 1630, Rembrandt von Rijn
A
Fuga dos Prisioneiros, 1896-1902, James Tissot
O Salmo 137, cuja autoria as
fontes rabínicas atribuem ao Profeta Jeremias, é recitado em Tisha B’Av. O salmo canta o exílio do
povo judeu na Babilónia, depois da destruição do Primeiro Templo. Descreve
também a dor dos exilados por terem sido afastados de Jerusalém e a sua
incapacidade de manter em terra estrangeira as expressões de alegria que só em
Sião faziam sentido.
Salmo 137
(1 a 6)
Junto aos rios da Babilónia nos
sentámos a chorar,
recordando-nos de Sião.
Nos salgueiros das margens
pendurámos as nossa harpas.
Os que nos levaram para ali
cativos,
pediram-nos um cântico;
e os nossos opressores, uma
canção de alegria:
- «Cantai-nos uma canção de
Sião.»
Como poderíamos nós cantar um
cântico do Senhor,
estando numa terra estranha.
Se de ti me esquecer, ó
Jerusalém,
que mirre a minha mão
direita,
que a minha língua se
quebre,
se de ti me não lembrar,
se não preferir
Jerusalém
à minha maior alegria.
Luís
Vaz de Camões (1524-1580)
Camões, inspirado neste salmo,
escreveu as formosas redondilhas “Babel e Sião”, que são, como se sabe, uma
paráfrase ao Salmo 137. Começam assim:
Sôbolos rios que vão
Por Babilónia me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado,
E, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
(…)
“Va pensiero, sull’ali dorate”,
também conhecido por o Coro dos Escravos Hebreus, faz parte do terceiro ato da
ópera Nabucco (1842) do compositor italiano Giuseppe Verdi. O texto,
da autoria de Temistocle Solera, é inspirado no Salmo 137.
Para terminar este pequeno artigo, propomos
a audição do Coro dos Escravos Hebreus, um dos trechos mais populares de Verdi,
numa interpretação do Metropolitan Opera House, sob a direção do maestro James
Levine.
Este artigo foi elaborado na
totalidade pela minha amiga
Sónia Craveiro,
A quem agradeço com carinho o excelente
trabalho.
Muito obrigada
Um grande Beijinho
Fontes:
Bíblia
Hebraica – Livro dos Salmos
Sem comentários:
Enviar um comentário