quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cartas de Lisboa | Devarim




Devarim


Os Relatos de Moisés



O Livro de Devarim abre com Moisés relatando alguns dos principais episódios da história judaica. Quase imediatamente, encontramo-nos absorvidos na releitura da história em torno da nomeação de juízes, originalmente lida na Parsha de Jetro.

A narrativa parece muito familiar, contudo há uma omissão gritante: Jetro. É Jetro, o sogro de Moisés, que é o primeiro a sugerir a ideia de passarem a existir vários níveis de juízes e jurisdições.



Moisés e Jetro



Por que é que Jetro não é mencionado aqui na nossa Parsha?

Antes de lidar com esta questão, Dom Abarbanel resume esta secção da Parsha com cinco elementos distintos cruciais para o funcionamento de um sistema judicial, elementos recolhidos das palavras dos versos.


1 "Ouve entre teus irmãos."
(Devarim 1:16)
O primeiro passo é ouvir e não ignorar os apelos à justiça. Toda a gente merece ser ouvida.


2 "Julga com justiça entre um homem e seu irmão."
(Devarim 1:16)
Os juízes são treinados para procurar soluções. Na verdade, em muitos casos, o compromisso é visto como vantajoso comparativamente com decisões puramente judiciais.


No entanto, diz Dom Abarbanel, a Torá quer deixar claro o respeito necessário para com as posses de cada um. Uma vez que um juiz tenha ouvido os detalhes do litígio, (e tenha visto os méritos de certos argumentos), ele já não pode simplesmente empurrar para uma solução de compromisso.

Embora os litigantes possam ser "irmãos" e possam ser todos uma parte de uma grande família, o que cada pessoa tem de seu merece a maior consideração.


3 "Você não deve reconhecer um rosto."
(Devarim 1:17)
Muitas vezes traduzida como "Não mostrareis favoritismo." A mensagem do versículo é claro. A menor inclinação para um dos lados, mesmo que possa parecer insignificante, pode ser equiparada a uma corrupção descarada.


4 "O pequeno e o grande ouvireis igualmente."
(Devarim 1:17)
Ao ouvir os argumentos, o juiz deve garantir que apenas presta atenção aos pontos de vista e argumentos da pessoa e não à sua estatura. A actividade judicial, não é uma plataforma para os sentimentos do juiz de compaixão ou similares.


5. "Você não deve tremer diante de qualquer homem, porque o juízo é de D'us."
(Devarim 1:17)
A qualidade mais importante de todas, é a condição moral do juiz e a sua total confiança em D'us. Temendo nenhum mortal, mas só D’us, é a única maneira para que a justiça seja implementada.




Depois de listar essas cinco ideias, Dom Abarbanel continua. Moisés agora afirma, se tiverem uma pergunta, não hesitem em fazê-la. "Qualquer questão que seja difícil demais... Tragam-na para mim."

Embora se possa pensar que o estatuto de Moisés seria assim reforçado, respondendo constantemente a perguntas de juízes grandes e distintos, Moisés dissipa essa ideia também.


"Eu ordeno (ordenarei) a vós, nesse momento, todas as coisas que devem fazer" 
(Devarim 1:18)
A intenção de Moisés era não ter juízes em corrupio indo e vindo à sua tenda, mas sim garantir que esses juízes se tornassem líderes eles próprios.



Então, por que é Jetro não mencionado em tudo isso?

Explica Dom Abarbanel que, na realidade, esta estrutura judicial estava destinada a ser ensinada ao povo judeu numa data futura.

Mediação e consulta estratégica tornar-se-iam necessidades constantes, ainda mais do que já o eram, agora que o povo judeu estava pronto para entrar em Israel.




No entanto, quando Jetro chegou, e deu esta sugestão antes da altura planeada, ele foi elogiado publicamente pela sua "grande ideia".

Com esta explicação de Dom Abarbanel, talvez haja aqui outra mensagem para nós:


Dando crédito a outra pessoa, fazendo outra pessoa sentir-se necessária e útil, é a melhor maneira de promover a união e boa vontade dentro de nossas famílias e comunidades.



Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com



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