sexta-feira, 30 de maio de 2014

... להדליק נר של שבת!



Shabat Shalom!



















Pinturas:

Jerusalém - de Vladimir Mingar

Shabbat Candles  - de Peter Theo

Cartas de Lisboa | Nasso




Pirquei Avot Capitulo 6



O sexto capítulo de Pirquei Avot, é também conhecido como “Qinian Torá" ou “Aquisição da Torá”. De facto, este capítulo está dedicado à singularidade da Torá encorajando-nos a estudá-la e a “adquiri-la”.

A parte final do capítulo, dá-nos uma lista de cinco coisas consideradas aquisições por D-us, especificamente, a Torá, o céu e a terra, Abraão, o Povo Judaico, e por último, o Beit Hamikdash, o Templo Sagrado.

Dom Isaac Abarbanel questiona esta premissa. O descrever uma lista de coisas adquiridas parece implicar a exclusão de outras coisas.


"Como pode ser que o mundo criado por D-us, possa conter coisas que não Lhe “pertencem”?



Ainda mais, “O que quer dizer que D-us “adquire” algo”?


Para responder a estas perguntas, Dom Isaac Abarbanel redefine o termo “adquirir”. Ao tal fazer, ele ilustra porque é que estas cinco coisas mencionadas, são verdadeiramente merecedoras de ser descritas por D-us como Suas aquisições.

Em primeiro lugar, a posse de algo pode ser atingida através de muitos mecanismos. Contudo, apenas algo que uma pessoa individualmente tenha negociado e comprado pode ser verdadeiramente considerado uma sua aquisição.

Em segundo lugar, uma aquisição no seu sentido mais profundo, não é meramente uma transferência temporária de propriedade. É isso sim ego que agora está na posse de quem o adquire para sempre.

Finalmente, uma aquisição deste tipo não acontece por acaso aleatoriamente, mas é planeada com cuidado, em conformidade  e é-lhe sempre dado grande valor. 




Nesta perspectiva, diz Dom Isaac Abarbanel, podemos melhor entender e dar valor à lista acima referida. Todos os itens na lista representam  e definem o critério para uma aquisição e recordam-nos do nosso papel neste mundo.

A Torá, é o nosso guia para ligar o céu e a terra. Esta visão começou com Abraão e é continuada pelos seus descendentes; o Povo Judaico.




Como o Templo Sagrado, o Beit Hamikdash em Jerusalém ilustra a ideia de que este mundo físico pode ser um verdadeiro lar para D-us. É nossa incumbência continuar permanentemente esta missão.



Shabat Shalom!
Cortesia do Rabino
Eli Rosenfeld
chabadportugal.com





Pinturas de Yossi Rosenstein
Imagem do Templo:

quarta-feira, 28 de maio de 2014

יום ירושלים




Yom Yerushalayim


Pintura de Alex Levin


Yom Yerushalayim, ou Dia de Jerusalém (em hebraico: יום ירושלים ) é um feriado nacional israelita que comemora a reunificação da cidade de Jerusalém e o estabelecimento em definitivo do controlo político e militar sobre a totalidade da Cidade Santa, a partir do dia 7 de Junho de 1967, (Calendário Gregoriano). 

A data é celebrada anualmente no dia 28 do mês de Iyar. O dia é marcado por cerimónias oficiais de Estado, serviços religiosos em memória dos soldados que tombaram na batalha em defesa da cidade, desfiles militares e a recitação de bênçãos especiais nas sinagogas. Há também festividades populares, com espetáculos de música e de dança. Os alunos de todo o país aprendem sobre a importância de Jerusalém, e as escolas costumam realizar dias especiais de comemoração.




Os alunos de todo o país aprendem sobre a importância de Jerusalém, e as escolas costumam realizar dias especiais de comemoração.




A cidade de Jerusalém pertenceu aos hebreus até o ano de 135 a.e.c., quando após uma fracassada revolta contra o Império Romano, o Imperador Adriano proibiu-os de entrar na cidade, rebatizando-a com o nome de Aelia Capitolina.

De acordo com o Plano da ONU para a partilha da Palestina de 1947, que propôs a criação de dois estados independentes no que era o Mandato Britânico da Palestina, Jerusalém deveria ser uma cidade internacional por um período de dez anos, sob administração das Nações Unidas, até que um plebiscito decidisse qual nacionalidade deveria administra-la a partir de então. O plano de partilha foi aceite pela liderança sionista, mas os representantes árabes optaram por rejeitar a proposta na sua totalidade.



Assim que Israel declarou a sua independência, a 14 de Maio de 1948, o novo país foi atacado pelos seus vizinhos árabes. A Jordânia invadiu e ocupou militarmente a parte leste de Jerusalém, inclusive a totalidade da Cidade Velha. As forças israelitas fizeram uma tentativa desesperada de expulsar as tropas jordanas, mas foram derrotadas.



A Cidade Velha e a parte Oriental de Jerusalém continuaram sob ocupação da Jordânia, e os residentes judeus daquelas partes foram violentamente forçados a sair, após saques e destruição de residências particulares, lojas e templos.



Pintura de Alex Levin


Sob o governo Jordano, metade das 58 sinagogas da Cidade Velha foram demolidas, e o cemitério judeu no Monte das Oliveiras foi saqueado e as suas lápides roubadas e usadas como pavimentação de ruas.

Em 1952, Gamal Abdel Nasser chegou ao poder no Egito, após um golpe de estado contra o rei Faruk I. Nasser propôs um pacto militar de “defesa mútua” com a Síria, a Jordânia e o Iraque, passando a liderar a coalizão de países árabes contra Israel. A imprensa árabe transmitia constantemente propagandas contra Israel, fomentando a hostilidade contra os judeus e prometendo “deitar os israelitas ao mar”. 



Esquema da conquista da península do Sinai durante a Guerra dos Seis Dias.


No dia 18 de Maio de 1967, Nasser exigiu que a ONU retirasse a Força de Paz que estava na fronteira entre o Egito e Israel e deslocou as suas tropas para fazer frente às fronteiras israelitas. Quatro dias depois, ele ordenou o encerramento do Estreito de Tiran, interrompendo o fluxo comercial de Israel pelo Mar Vermelho.

A 4 de Julho, Israel estava cercado por tropas árabes que eram em maior número que as suas. A invasão militar era tida como certa. O Estado Israelita sabia que não teria como resistir a um ataque conjunto dos países árabes em duas frentes, e resolveu tomar a iniciativa dos combates na estratégia desesperada de obter alguma vantagem.



Militares israelitas ao lado de uma aeronave árabe destruída, em 1967.



Liderados pelo general Moshe Dayan, atacaram as principais bases aéreas do Egito, iniciando o conflito que passaria à história com o nome de Guerra dos Seis Dias. O primeiro-ministro Levi Eshkol enviou uma mensagem ao rei Hussein da Jordânia, dizendo que não entraria em guerra com seu país a menos que fossem atacados. Porém Nasser telefonou para Hussein o encorajando a entrar na guerra. Nasser mentiu dizendo que o Egito tinha sido vitorioso no confronto da manhã e deu como certa a vitória sobre Israel. Seduzidos pelo blefe, os jordanos atacaram Israel, bombardeando posições civis da porção judaica de Jerusalém, mas em menos de 24 horas os israelitas conquistaram totalmente a Cidade Santa. No dia seguinte Israel conquistou também os territórios da Judeia e Samaria.




Após a vitória, Moshe Dayan fez uma declaração radiofónica ao povo de Israel, comunicando a conquista de Jerusalém: 


“Nesta manhã, as Forças de Defesa de Israel libertaram Jerusalém. Nós reunificamos Jerusalém, a capital dividida de Israel. Voltamos para o mais santo dos nossos lugares sagrados e nunca mais seremos separados. Aos nossos vizinhos árabes, estenderemos agora a nossa mão em paz. E aos nossos concidadãos cristãos e muçulmanos, eu lhes prometo solenemente a plena liberdade religiosa e de direitos para todos. Nós não viemos a Jerusalém por causa dos lugares sagrados de outros povos, e não vamos interferir nas vidas dos fiéis de outras religiões. Mas com o fim de salvaguardar a integridade desta cidade e de viver nela junto com os outros, em unidade”.


A 12 de Maio de 1968, o governo de Israel proclamou o dia 28 de Iyar feriado municipal. Em 23 de Março de 1998, o Knesset aprovou a Lei do Dia de Jerusalém, tornando o dia feriado nacional.

É hoje…

Mazal Tov Jerusalém!




segunda-feira, 26 de maio de 2014

Isaac Aboab da Fonseca



O Primeiro Rabino nas Américas


Isaac Aboab da Fonseca – Gravura de Aernout Nagtegaal, 1685.



Da Conversão Forçada à Inquisição


    Depois do Édito de Expulsão de 1496, D. Manuel I, numa tentativa de evitar a saída dos judeus (dado o seu papel na economia e no conhecimento científico), fez promulgar em 1497 o Decreto de Conversão, impondo o baptismo a todos os judeus do Reino. Contas feitas: os judeus ficavam, mas deixavam de ser judeus, passando, oficialmente, a ser cristãos. Surgiram assim os cristãos-novos em Portugal. 



Esta conversão forçada fez com que os judeus, privados da sua identidade religiosa, tivessem dificuldade em aceitar uma religião que lhes era estranha. 


   Muitos não conseguiram e assim continuaram a praticar o Judaísmo em segredo. Sobre os recém-convertidos pairou a partir de então uma suspeita generalizada de heresia, pretexto de peso para instaurar o Tribunal do Santo Ofício, o que veio a verificar-se no ano de 1536.

     Vítimas preferenciais da Inquisição, os cristãos-novos, cripto-judeus ou não, temiam pela vida. Os que podiam esperavam pelo momento oportuno para fugir do país. Muitos encontraram refúgio na Holanda, onde retornaram à sua fé ancestral; mantendo uma identidade judaico-portuguesa, contribuíram para o engrandecimento do seu país de residência. Uma das figuras de maior relevo da comunidade sefardita de Amesterdão foi o rabino Isaac Aboab da Fonseca. 



Isaac Aboab da Fonseca
(Castro Daire, 1605-Amesterdão, 1693)





     Isaac Aboab da Fonseca nasceu em Castro Daire, numa família de cristãos-novos e foi baptizado com o nome de Simão da Fonseca. Aos 7 anos chegou a Amesterdão com os pais, tendo sido educado a partir dessa altura na religião judaica. Isaac frequentou estudos rabínicos na comunidade sefardita, sob a orientação do rabino Isaac Uziel. Em 1626 foi nomeado rabino da congregação Bet Israel, vindo a ser também responsável pela primeira aula de Talmude nos cursos superiores do colégio rabínico sefardita.

     Entre 1642 e 1654 Isaac Aboab da Fonseca foi rabino da comunidade sefardita do Recife, Pernambuco, então uma colónia holandesa, sendo o primeiro rabino no continente americano



O Brasil Holandês



A invasão do Pernambuco de 1630, pelo esquadrão naval holandês comandado por Hendrick Corneliszoon Lonck (Nicolae Visscher)



     Em 1621 foi criada na Holanda a Companhia das Índias Ocidentais, com o propósito de comerciar nos vastos domínios ultramarinos de Portugal e Espanha. No Brasil, o alvo da Companhia era o pau-brasil e o açúcar.

     Em 1624 os holandeses ocuparam a cidade de Salvador, na Bahia, mas pouco tempo depois uma expedição conjunta de portugueses, espanhóis e napolitanos, obrigou à sua retirada. Bem sucedidos em 1630, os holandeses apossaram-se do Pernambuco, que ficaria sob a sua alçada até 1654. 



Maurício de Nassau-Siegen, 1637, V. Mierefeld



      Nos sete anos que decorreram de 1637 a 1644, a colónia holandesa do Brasil foi governada pelo conde Maurício de Nassau-Siegen. Durante o seu governo, Nassau criou concelhos municipais e rurais, modernizou a cidade do Recife, dotando-a de arruamentos, estradas e pontes; na ilha António Vaz fundou a cidade de Mauritsstad (também conhecida por Maurícia), onde criou um observatório astronómico e uma estação meteorológica, os primeiros criados por europeus no continente americano. Da sua comitiva faziam parte artistas, que registaram na tela as cores luxuriantes do Novo-Mundo e as suas gentes exóticas…



“Vila Formosa de Serinhaém”, 1638, Frans Post



Engenho da Cana do Açúcar, 1668, Frans Post



Dança Tapuia, 1641, Albert Eckhout



Mercado de Escravos no Recife, 1644, Zacharias Wagener



     Uma das características mais marcantes do período colonial holandês no Pernambuco foi a da liberdade religiosa. Essa liberdade associada a um crescimento económico exponencial atraiu um grande número de judeus portugueses de Amesterdão, assim como de cristãos-novos que a Inquisição portuguesa tinha atirado para o degredo no Brasil. 






    Em 1636 foi fundada no Recife a Sinagoga Kahal Zur Israel (Congregação Rochedo de Israel), a primeira nas Américas. Dispunha de duas escolas religiosas e de Mikveh. É nesta conjuntura que Isaac Aboab da Fonseca é convidado para rabino da comunidade sefardita do Recife, posto que ocupa de 1642 a 1654.

     Em 1644 Maurício de Nassau demite-se das suas funções, por discordar da orientação da Companhia das Índias Ocidentais. Começa aqui o declínio do poder holandês no Brasil, que culminará com a reconquista do território pelos portugueses. 

    O poema litúrgico Mi Chamocha (“Quem como Tu?”), com música e letra do rabino Isaac Aboab da Fonseca, expressa o desespero dos habitantes do Recife durante o cerco das forças luso-brasileiras em 1646. Testemunhos holandeses relatam que a fome era tanta, que a população se viu obrigada a alimentar-se de cães e gatos.

     O poema é também de agradecimento a D’us pela chegada de dois navios holandeses com provisões, o Walk e o Elizabeth. 





Mi Chamocha (“Quem como Tu?”), Isaac Aboab da Fonseca, Recife
Musica Brasilis - Ruben Araújo, tenor



     Em 1654 as forças luso-brasileiras, comandadas pelo general Barreto de Menezes, reconquistam o Recife para a Coroa portuguesa. Barreto de Menezes é instituído governador do Pernambuco e lida com os vencidos com grande sentido de honra. Consentiu que vendessem os seus bens e forneceu-lhes navios para regressarem à Holanda. Faltando embarcações holandesas em número suficiente para uma evacuação total, deu 16 embarcações portuguesas aos cerca de 600 judeus, salvando-os das garras da Inquisição. A maioria regressou à Holanda, incluindo Isaac Aboab da Fonseca que, uma vez em Amesterdão, retomou as suas funções rabínicas. Alguns decidiram instalar-se nas colónias holandesas das Caraíbas. 




Nova Amesterdão, 1650, Pieter Schenck



     Para um dos navios, que transportava 23 judeus portugueses, a viagem foi mais atribulada: atacado por corsários espanhóis ao largo do cabo de Santo António, em Cuba, foi resgatado por um navio francês, que levou os passageiros em segurança para a colónia holandesa de Nova Amesterdão (actual Nova Iorque), na ilha de Manhattan. Estes judeus foram os primeiros a chegar à América do Norte, e os mesmos que lá fundaram a primeira comunidade judaica, a Shearith Israel (Remanescente de Israel).




Este artigo foi elaborado e oferecido ao Eterna Sefarad por, 
Sónia Craveiro
 
Muito obrigada 
Beijinhos

Fontes:

DICIONÁRIO DO JUDAÍSMO PORTUGUÊS, EDITORIAL PRESENÇA


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Acendimento das velas em Portugal: 20h30m.


Shabat Shalom!


Pintura de Richard Weisberg

Cartas de Lisboa | Bamidbar



Pirquei Avot Capítulo 5


No Capitulo 5 de Pirquei Avot, a Mishná descreve quatro abordagens diferentes à dádiva de caridade.


“Há quatro tipos de pessoas que contribuem para a caridade. Aquele que quer dar mas não quer que os outros deem porque invejam os outros. Aquele que quer que os outros deem mas não quer dar porque tem inveja dele mesmo. Aquele que quer que dar e que os outros deem, é um “chassid”. Aquele que não quer dar e que nem os demais deem, é um malvado.” (5:13)




Numa análise penetrante, Dom Abarbanel ilumina a natureza e a motivação destes diferentes tipos de pessoas e o seu comportamento.

“Porque é que alguém colocaria objecções a outra pessoa dar caridade?”

Dom Abarbanel explica que o “chassid” o Homem por excelência no Pirquei Avot, quer garantir que quem precisa tem a ajuda que necessita.

   


Para que tal aconteça, ele está disposto a dar dos seus próprios meios, e em última análise não se interessa com a honra que possa vir deste acto de ajudar o próximo. Não tem o menor problema em partilhar a ribalta para garantir que outros também contribuam. O que interessa é que o problema seja resolvido.




As categorias intermediárias são de pessoas que observaram este comportamento e com ele aprenderam, mas que não estão na disposição de abandonar as suas tendências naturais.

Um está pronto a contribuir mas a honra que daí advém é importante para ele, e assim não encoraja os outros também a participar. Outro não se preocupa com as questões de estatuto e de fama mas tem grande dificuldade de se separar das suas possessões materiais.

Finalmente, naturalmente, há a pessoa que luta contra estas duas tendências. Este não está disponível nem para contribuir e nem para ver os outros na ribalta.




O Rebe Lubavitcher retira uma fascinante lição do facto que a Mishná inclui estes dois últimos arquétipos.

Aqui temos pessoas que simplesmente não contribuem para a caridade e ainda assim a Mishná refere-se a eles e inclui-os na categoria de “aqueles que dão caridade”. Porquê?

Diz o Rebe – ainda que nem todas as pessoas tenham sempre a força e a coragem para fazer o que é apropriado, a nossa Neshamá, a nossa Alma quer sempre ajudar os outros.




Ainda que tal não seja exteriormente visível, a Neshamá em nós, está sempre cheia de uma força ardente. Por isso, mesmo quem ainda não mostre características de bondade e compaixão a pessoa é ainda assim um “dador de caridade” em potencial.


Shabat Shalom!
Cortesia do Rabbi


Eli Rosenfeld
chabadportugal.com

Pinturas de Richard Weisberg