sexta-feira, 9 de março de 2012

MOISÉS MENDELSSOHN




MOISÉS MENDELSSOHN (1729-1786)





     Moisés Mendelssohn foi um filósofo e poeta, judeu alemão. Considerado o precursor da Haskalah, a Renascença Judaica associada ao Iluminismo, era conhecido pelos seus contemporâneos como “o Platão Germânico”. Embora fosse um judeu ortodoxo, é apontado como o pai do Judaísmo Reformista.
     Mendelssohn era corcunda e gago. No entanto encarava as suas deficiências com humor, conforme podemos observar no poema abaixo:



Chamais grande a Demóstenes, /Orador gago da Grécia;

E o corcunda Esopo dizeis sábio; / No vosso círculo, suponho,

Eu serei duplamente sábio e grande. /Pois o que neles separado havia

Em mim encontrais unido, /Língua pesada e marreca combinadas.



     Nascido numa família pobre, estava destinado à carreira rabínica; estudou por si a cultura alemã e foi através das suas reflexões sobre filosofia e religião que se tornou uma figura respeitada e uma referência de liderança cultural, tanto do lado judaico como do alemão.

Foi igualmente um industrial de sucesso, no setor têxtil, em Berlim, que deu origem à riqueza da família.
     Mendelssohn foi pai de seis filhos, mas só dois – Recha e Joseph - permaneceram na fé judaica. Joseph viria a fundar em 1795 o Banco Mendelssohn, na cidade de Berlim, que se manteve na família até 1938, ano em que os nazis obrigaram a que todos os bens da instituição fossem vendidos ao Deutsche Bank. O filho Abraham, casado com Leah Solomon, foi pai dos compositores Fanny e Félix Mendelssohn.




Em 1754, Mendelssohn conheceu Gotthold Ephraim Lessing, escritor, filósofo, dramaturgo e crítico de arte alemão e uma das figuras mais representativas do Iluminismo, que veio a ser um dos seus maiores amigos; a amizade que nasceu entre os dois foi uma prova de boa camaradagem artística e intelectual e, acima de tudo, de boa convivência entre duas pessoas de origem cultural diferente.





     Em 1763, Johann Kaspar Lavater, então um jovem estudante de Teologia, viajou de Zurique a Berlim, onde visitou o já famoso filósofo Moisés Mendelssohn. Seis anos mais tarde, em Outubro de 1769, Lavater envia a Mendelssohn uma tradução sua em língua alemã da obra de Charles Bonnet “Evidências Cristãs”. No prefácio do livro desafia Mendelssohn a refutar as ditas “evidências”, argumentando que se o filósofo grego Sócrates tivesse lido a obra, certamente as reconheceria como irrefutáveis; em Dezembro do mesmo ano, Mendelssohn responde-lhe em carta aberta, dizendo o seguinte: «Suponha que viviam entre os meus contemporâneos um Confúcio ou um Sólon. Eu podia, de acordo com os meus princípios e a minha religião, admirar esses grandes homens, sem cair no ridículo de os querer converter à minha fé».


O encontro de Lavater, Lessing e Mendelssohn visto por Oppenheim


Moritz Daniel Oppenheim, Lavater e Lessing visitam Moisés Mendelssohn, 1856


Neste quadro, o pintor judeu alemão Oppenheim descreve-nos o encontro (imaginário) entre os académicos Mendelssohn e Lessing, e o teólogo Lavater. De facto, houve um encontro entre Mendelssohn e Lavater, que teve lugar em 1763, na residência de Mendelssohn em Berlim. Mas o que o pintor nos quer mostrar é a tentativa falhada de Lavater em convencer Mendelssohn a abraçar a fé cristã.


     Mendelssohn, com um casaco vermelho, conversa com Lavater, que lhe mostra um livro onde aparece o nome Bonnet (o autor de “Evidências Cristãs”, que Lavater traduziu, e com o qual pretende convencer Mendelssohn a abandonar a fé judaica a favor da cristã). Lessing está de pé, atrás da mesa. Ao centro da mesa encontra-se um tabuleiro de xadrez, posicionado entre as três personagens, no que é uma alusão à peça de Lessing “Nathan, o Sábio”, cuja ação se passa durante a III Cruzada, em Jerusalém. A peça exalta as virtudes da partilha intelectual e da tolerância religiosa, durante uma partida de xadrez entre o Judeu Nathan e o sultão Saladino. No quadro o tabuleiro de xadrez representa um “trocadilho visual”: as peças de xadrez vermelhas, do lado de Lavater, foram colocadas
em checkmate pelas brancas, numa referência à superioridade intelectual atribuída à associação entre Mendelssohn e Lessing.
     Pendurada no teto, por cima dos três homens, está uma lâmpada de Shabat, usada não só para alumiar, como também com fins rituais; à direita uma criada entra na sala, segurando um tabuleiro. Por cima dela, na ombreira da porta, há uma inscrição de uma bênção hebraica – Bendito serás ao entrares e bendito serás ao saíres (Deuterónimo 28:6); atrás, na parede do lado esquerdo, aparece uma mizrach (oriente) emoldurada, que é uma placa indicando a direção em que se deve rezar. Com estes pormenores, Oppenheim quis demonstrar o caráter piedoso do judeu Moisés Mendelssohn, bem como enaltecer a observância judaica de meados do século XIX, quando o quadro foi pintado.

A elaboração deste trabalho foi da minha querida amiga Sónia Craveiro.
Obrigada Sónia pelo seu carinho.

No link abaixo, de onde foi retirada a informação desta pintura de Oppenheim, pode ver-se o quadro em detalhe:
Outras fontes:



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