domingo, 7 de dezembro de 2014

Curiosidades Judaicas | Braga




Braga


Braga, centro da região portuguesa do Minho, é uma cidade com 112.200 habitantes e fundada pelos romanos que tal como Lugo, conta com mais de dois mil anos de história.



Fortemente ligada à Galiza, após a queda do império romano, foi eleita capital política e intelectual do Reino Suevo, que abrangia a extinta Galícia (atual território administrativo da Galiza, norte de Portugal, parte das Astúrias e das províncias de Leão e Samora e que se prolongava até o Tejo).

Em Braga a presença judaica foi testemunhada desde muito cedo, vivendo os Judeus isolados e espalhados pela cidade. No Tombo do Cabido, datado de entre 1369-80, já há notícias de Judeus em Braga.

Por determinação do Rei Dom João I, a 30 de setembro de 1400, constitui-se a Judiaria de Braga, conhecida de Judiaria Velha, reunindo famílias judaicas na Rua do Poço, junto à Sé, e na Rua da Erva (depois chamada Rua de Santa Maria e atualmente Rua Gonçalo Pereira).



Judiaria Velha de Braga na R. Gonçalo Pereira, perto da Sé.
GoogleMaps



Assim sendo, entre 1440-46, a documentação régia apontava para um grupo de dezassete pessoas, nomeadamente Mestre Paulo, físico e cirurgião do arcebispo. Mestre Paulo, um judeu converso, tornado clérigo, representou um caso insólito pelas pregações anti-judaicas mas de imediato foi travado por disposição régia. O objetivo deste converso era forçar os Judeus a aceitarem o cristianismo.


Em maio de 1466 a Judiaria de Braga foi deslocada para uma Judiaria Nova a teor de um acordo assinado entre o cabido e a comunidade hebraica. O novo bairro judaico situava-se em ruas mais afastadas, na Rua da Judiaria Nova (atual Rua de Santo António das Travessas). Tratava-se de um arruamento judaico próprio, encerrado por portas.




Judiaria Nova de Braga, na R. Santo António das Travessas.
GoogleMaps




R. de Sto. António das Travessas de Braga.
Foto J. Braga



Esta deslocação trouxe problemas pois, para além de motivações religiosas, houve interesses económicos do próprio cabido em renovar os arrendamentos das casas deixadas pelos Judeus. Quem ficou descontente com esta decisão foi a paróquia de Santiago da Cividade, a quem a vinda de Judeus representaria uma queda dos seus ingressos (esmolas). Para compensar estas perdas, através de uma sentença ratificada pelo Chantre do Cabido bracarense, em janeiro de 1468 os Judeus deveriam pagar uma quantia anual de 200 reais à paróquia.

Na altura de 1466 e 1509 aponta-se um total de 52 judeus, entre os quais seis conversos. Entre eles havia três rabinos, três físicos ou médicos, quatro ourives, dois mercadores e algumas mulheres com o trato de honra.




Judiarias de Braga.
GoogleEarth



A Judiaria de Braga teve entre os seus moradores judeus galegos pois o uso do apelido "galego" por parte dos Judeus bracarenses determina a origem de alguns membros desta comunidade. Existe constância documental de Muse Galego, joalheiro, que recebe um foro do cabido em 1470, a presença, em 1472, de Araão Galego, casado com Graça ou Menahen Galego a quem Junça Abdias e a mulher dele, venderam ou alugaram umas casas.

É a partir da sua instalação na Judiaria Nova que a tensão anti-judaica aumentou. O seu aumento foi tão significativo, que se tornou bem visível no Sínodo Bracarense de 1477, onde se aprovaram cinco constituições anti-judaicas.

A partir do decreto da expulsão ordenado pelo Rei D. Manuel I e da conversão forçada em 1497 os Judeus que ficaram passaram a chamar-se cristãos-novos. Face à paridade de direitos e deveres implementados pelo Rei D. Manuel I, em 1507, os cristãos-velhos tentaram, sempre que possível, vedar alguns direitos aos cristãos-novos porque, acima de tudo sentiam-se ultrapassados pelas capacidades destes no campo económico, social e cultural.

Antes da sua expulsão, os Judeus de Braga teriam uma posição social de grande relevo, destacando entre eles os apelidos de Almeidas e Regos.

Nesta sequência de ideias e pelo Regimento do Santo Ofício de 1640 foi vedado aos cristãos-novos o acesso a cargos públicos e a certas profissões como físico e boticário pelas implicações que estas poderiam trazer para os cristãos velhos, que periodicamente acusavam os cristãos-novos de os querer envenenar e matar.

Perante tantas limitações, a população cristã-nova soube engrandecer a sua posição utilizando todos os meios ao seu alcance face uma maioria cristã-velha que revelava pouco espírito de concorrência, mas que tentava utilizar as mais variadas formas para cercear o "avanço" dos cristãos-novos.

Ao fim de algum tempo, a Rua da Judiaria Nova (R. de Santo António das Travessas) tornou-se na rua "proibida" de Braga, ao albergar as "toleradas" na que as mulheres da vida esperavam ou atraíam a clientela na soleira das portas.



R. de Santo António das Travessas, Braga



Em 1993 dois edifícios da R. Santo António das Travessas, números 34 a 40, foram declarados Imóveis de Interesse Público. Por um lado, o imóvel com o número 34 da Rua de Santo António das Travessas é uma casa de dimensão reduzida que se desenvolve em dois pisos, com fachada principal em cantaria, marcada pola abertura de uma porta de verga reta no piso térreo e duas janelas no andar superior.




Casa do nº 34 da R. de Santo António das Travessas



Já o outro edifício, correspondente ao n.º 36-40, é conhecido como Casa Grande de Santo António das Travessas ou antigo Albergue Distrital. Destaca-se na frente urbana em que se insere pela imponência das suas linhas, com fachada principal em cantaria, de fenestrações regulares e com um friso a percorrer todo o alçado. Merecem especial atenção as portas das extremidades, com pedra de armas, uma sobrepujada por baldaquino quinhentista com imagem, e outra por frontão seiscentista, já ao nível das janelas de sacada do segundo piso.






Este imóvel remonta, certamente, ao século XIV tendo funcionado como Judiaria de Braga no início da centúria seguinte. Assim o indica a documentação que se conserva no Arquivo Distrital de Braga bem como o fragmento de uma inscrição hebraica numa das aduelas da porta gótica do interior da casa. Naturalmente, o imóvel foi objeto de várias alterações posteriores. As janelas do andar superior denunciam a sua factura tardo-gótica, do início de quinhentos. Por sua vez, o brasão de armas e o frontão são já seiscentistas, devendo-se o primeiro ao cónego João de Meira Carrilho que teve um papel de grande relevo em Braga no final do século XVII.




 Fontes:
(Por Caeiro)
José Marques, “ Braga Medieval”

6 comentários:

  1. Muito obrigada querida Liliana, um beijinho. :)

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  2. Muito interessante ! Gostaria de saber sobre outras fontes para estudar um pouco mais a presença Judaica em Braga. Se puder indicar aqui agradeço imenso.

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  3. Muito obrigada Nivaldo, se conseguir mais informação, terei todo o gosto em partilhar. :)

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  4. Gostei muito DESCONHECIA TOTALMENTE ESTA PARTE DA HISTÓRIA DE BRAGA

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