Braga
Braga, centro da região portuguesa do Minho, é uma
cidade com 112.200 habitantes e fundada pelos romanos que tal como Lugo, conta
com mais de dois mil anos de história.
Fortemente ligada à Galiza, após a queda do império romano,
foi eleita capital política e intelectual do Reino Suevo, que abrangia a
extinta Galícia (atual território administrativo da Galiza, norte de Portugal,
parte das Astúrias e das províncias de Leão e Samora e que se prolongava até o
Tejo).
Em Braga a presença judaica foi testemunhada desde muito
cedo, vivendo os Judeus isolados e espalhados pela cidade. No Tombo do Cabido,
datado de entre 1369-80, já há notícias de Judeus em Braga.
Por determinação do Rei Dom João I, a 30 de setembro de
1400, constitui-se a Judiaria de Braga, conhecida de Judiaria Velha, reunindo
famílias judaicas na Rua do Poço, junto à Sé, e na Rua da Erva (depois chamada
Rua de Santa Maria e atualmente Rua Gonçalo Pereira).
Judiaria Velha de Braga na R. Gonçalo Pereira, perto da
Sé.
GoogleMaps
Assim sendo, entre 1440-46, a documentação régia apontava
para um grupo de dezassete pessoas, nomeadamente Mestre Paulo, físico e
cirurgião do arcebispo. Mestre Paulo, um judeu converso, tornado clérigo,
representou um caso insólito pelas pregações anti-judaicas mas de imediato foi
travado por disposição régia. O objetivo deste converso era forçar os Judeus a
aceitarem o cristianismo.
Em maio de 1466 a Judiaria de Braga foi deslocada para uma
Judiaria Nova a teor de um acordo assinado entre o cabido e a comunidade
hebraica. O novo bairro judaico situava-se em ruas mais afastadas, na Rua da
Judiaria Nova (atual Rua de Santo António das Travessas). Tratava-se de um
arruamento judaico próprio, encerrado por portas.
Judiaria Nova de Braga, na R. Santo António das
Travessas.
GoogleMaps
R. de Sto. António das Travessas de Braga.
Foto J. Braga
Esta deslocação trouxe problemas pois, para além de
motivações religiosas, houve interesses económicos do próprio cabido em renovar
os arrendamentos das casas deixadas pelos Judeus. Quem ficou descontente com
esta decisão foi a paróquia de Santiago da Cividade, a quem a vinda de Judeus
representaria uma queda dos seus ingressos (esmolas). Para compensar estas
perdas, através de uma sentença ratificada pelo Chantre do Cabido bracarense,
em janeiro de 1468 os Judeus deveriam pagar uma quantia anual de 200 reais à
paróquia.
Na altura de 1466 e 1509 aponta-se um total de 52 judeus,
entre os quais seis conversos. Entre eles havia três rabinos, três físicos ou
médicos, quatro ourives, dois mercadores e algumas mulheres com o trato de honra.
Judiarias de Braga.
GoogleEarth
A Judiaria de Braga teve entre os seus moradores judeus
galegos pois o uso do apelido "galego" por parte dos Judeus
bracarenses determina a origem de alguns membros desta comunidade. Existe
constância documental de Muse Galego, joalheiro, que recebe um foro do cabido
em 1470, a presença, em 1472, de Araão Galego, casado com Graça ou Menahen
Galego a quem Junça Abdias e a mulher dele, venderam ou alugaram umas casas.
É a partir da sua instalação na Judiaria Nova que a tensão
anti-judaica aumentou. O seu aumento foi tão significativo, que se tornou bem
visível no Sínodo Bracarense de 1477, onde se aprovaram cinco constituições
anti-judaicas.
A partir do decreto da expulsão ordenado pelo Rei D. Manuel
I e da conversão forçada em 1497 os Judeus que ficaram passaram a chamar-se
cristãos-novos. Face à paridade de direitos e deveres implementados pelo Rei D.
Manuel I, em 1507, os cristãos-velhos tentaram, sempre que possível, vedar
alguns direitos aos cristãos-novos porque, acima de tudo sentiam-se
ultrapassados pelas capacidades destes no campo económico, social e cultural.
Antes da sua expulsão, os Judeus de Braga teriam uma posição
social de grande relevo, destacando entre eles os apelidos de Almeidas e Regos.
Nesta sequência de ideias e pelo Regimento do Santo Ofício
de 1640 foi vedado aos cristãos-novos o acesso a cargos públicos e a certas
profissões como físico e boticário pelas implicações que estas poderiam trazer
para os cristãos velhos, que periodicamente acusavam os cristãos-novos de os
querer envenenar e matar.
Perante tantas limitações, a população cristã-nova soube
engrandecer a sua posição utilizando todos os meios ao seu alcance face uma
maioria cristã-velha que revelava pouco espírito de concorrência, mas que
tentava utilizar as mais variadas formas para cercear o "avanço" dos
cristãos-novos.
Ao fim de algum tempo, a Rua da Judiaria Nova (R. de Santo
António das Travessas) tornou-se na rua "proibida" de Braga, ao
albergar as "toleradas" na que as mulheres da vida esperavam ou
atraíam a clientela na soleira das portas.
R. de Santo António das Travessas, Braga
Em 1993 dois edifícios da R. Santo António das Travessas,
números 34 a 40, foram declarados Imóveis de Interesse Público. Por um lado, o
imóvel com o número 34 da Rua de Santo António das Travessas é uma casa de
dimensão reduzida que se desenvolve em dois pisos, com fachada principal em
cantaria, marcada pola abertura de uma porta de verga reta no piso térreo e
duas janelas no andar superior.
Casa do nº 34 da R. de Santo António das Travessas
Já o outro edifício, correspondente ao n.º 36-40, é conhecido
como Casa Grande de Santo António das Travessas ou antigo Albergue Distrital.
Destaca-se na frente urbana em que se insere pela imponência das suas linhas,
com fachada principal em cantaria, de fenestrações regulares e com um friso a
percorrer todo o alçado. Merecem especial atenção as portas das extremidades,
com pedra de armas, uma sobrepujada por baldaquino quinhentista com imagem, e
outra por frontão seiscentista, já ao nível das janelas de sacada do segundo
piso.
Este imóvel remonta, certamente, ao século XIV tendo
funcionado como Judiaria de Braga no início da centúria seguinte. Assim o
indica a documentação que se conserva no Arquivo Distrital de Braga bem como o
fragmento de uma inscrição hebraica numa das aduelas da porta gótica do interior
da casa. Naturalmente, o imóvel foi objeto de várias alterações posteriores. As
janelas do andar superior denunciam a sua factura tardo-gótica, do início de
quinhentos. Por sua vez, o brasão de armas e o frontão são já seiscentistas,
devendo-se o primeiro ao cónego João de Meira Carrilho que teve um papel de
grande relevo em Braga no final do século XVII.
(Por Caeiro)
José Marques, “ Braga Medieval”
MUY INTERESANTE !!!
ResponderEliminarMuito obrigada querida Liliana, um beijinho. :)
ResponderEliminarMuito interessante ! Gostaria de saber sobre outras fontes para estudar um pouco mais a presença Judaica em Braga. Se puder indicar aqui agradeço imenso.
ResponderEliminarMuito obrigada Nivaldo, se conseguir mais informação, terei todo o gosto em partilhar. :)
ResponderEliminarGostei muito DESCONHECIA TOTALMENTE ESTA PARTE DA HISTÓRIA DE BRAGA
ResponderEliminarObrigada :)
ResponderEliminar