Um Tesouro da
British Library
Pentateuco Italiano
do Duque de Sussex, c. 1400
A
imagem anterior mostra o início do livro de Deuteronómio (Devarim), com destaque para a letra alef, א que aparece emoldurada
por uma grinalda de flores. É a primeira letra da palavra Eleh - Deuteronómio
1:1: «Estas são as palavras
que Moisés falou a todo o Israel, …». O manuscrito em questão, um Pentateuco
produzido em Itália, por volta de 1400, pertenceu a uma colecção de manuscritos
hebraicos da Biblioteca do duque de Sussex, adquiridos em 1884 pelo British
Museum, agora British Library.
Augusto Frederico,
Duque de Sussex (1773-1843)
Augusto Frederico, duque de Sussex, foi o nono
dos quinze filhos do rei Jorge III de Inglaterra (1738-1820) e da rainha
consorte Carlota Sofia de Mecklenberg-Strenitz (1744-1818). O mais velho veio a
ser Jorge IV de Inglaterra (1762-1830).
Augusto Frederico foi um bibliófilo apaixonado. Dos 50 000 exemplares
catalogados na sua biblioteca, 12 000 eram teológicos; destes, 300 eram
manuscritos, sendo 51 hebraicos. Neste breve artigo vamos conhecer alguns
manuscritos hebraicos conhecidos pelo nome do seu último dono, o duque de
Sussex.
Pentateuco Alemão
do Duque de Sussex, c. 1300
Folio 1, Génesis
Capa do livro de Génesis (Bereshit) - Painel com a palavra Bereshit (“e no início”),
em letras douradas, incorporado numa estrutura de arcos góticos, com um leão,
uma águia, um veado e quatro dragões aos cantos.
Folio 75v, Êxodo
Iluminura de estrutura gótica, com dragões. Ao
centro a palavra V’eleh, em letras douradas, no início do livro do Êxodo
(Shemot) – Êxodo 1:1: «E estes são os nomes dos filhos
de Israel…». A circundar a palavra V’eleh,
estão dispostos 16 pequenos medalhões, cada um com um animal diferente.
Folio 137,
Levítico
Painel com losangos habitados por águias e
leões coroados. Ao centro, em letras douradas sobre fundo azul, a palavra Vayikra
(“E chamou a Moisés,…”), no
início do livro de Levítico (Vayikra).
Folio 179v,
Números
Painel com híbridos, dragões e quatro
cavaleiros (com a aparência de cruzados) segurando estandartes com o símbolo
das quatro tribos acampadas à volta do Tabernáculo (Judá, Rúben, Efraim e Dan),
e ainda a palavra Vayedaber (“E
falou o Eterno a Moisés no deserto do Sinai…”), no início do livro de
Números (Bamidbar).
Folio 238,
Deuteronómio
A palavra Eleh, no início do livro de
Deuteronómio (Devarim) 1:1: «Estas são as palavras que Moisés
falou a todo o Israel, …», em letras douradas, situada ao centro do painel,
decorado com estruturas arquitectónicas góticas habitadas por híbridos e
dragões. Em baixo, um elefante incorporado numa Estrela de David.
Folio 397v, Livro
de Esther
Iluminura da página de abertura do Livro de
Esther, com a palavra Va’yehi (“Aconteceu nos dias…”), em letras
douradas, incorporada numa cercadura com vários animais.
Folio 296v,
Cântico dos Cânticos
Iluminura da página de abertura de “Cântico dos
Cânticos” (Shir Hashirim). A palavra Shir
(Cântico) aparece em letras douradas, ladeada por um urso e um unicórnio.
Folio 294, Livro
de Rute
Painel com a palavra inicial do Livro de Rute –
Va’yehi
(“Aconteceu”), híbridos, um veado e um leão, com uma cercadura de flores.
Folio 302,
Eclesiastes
Painel com Divrei (“Palavras”), no
começo de Eclesiastes (Kohelet) –
Eclesiastes 1:1: «Palavras de
Kohelet, filho de David, rei de Jerusalém.» A palavra está cercada por pequenos
medalhões, onde habitam vários animais, e incorporada numa estrutura
arquitectónica gótica com o rei David a tocar harpa, ladeado por um leão e um
cervo.
Bíblia Espanhola
do Duque de Sussex, Catalunha,
meados do século
XIV
ff. 3v-4, Alfaias
Litúrgicas do Templo
Os painéis, magnificamente pintados, exibem uma
combinação de utensílios do Tabernáculo do Deserto (Mishkan), do 1º Templo (de
Salomão), do 2º Templo (de Herodes) e do futuro Templo Messiânico, conforme
descrição de Rashi e Maimónides. A Menorá (candelabro de 7 braços), a Arca da
Aliança, o Jarro do Maná, e outras alfaias outrora existentes no Templo, são
executadas a folha de ouro sobre fundo colorido.
Na página esquerda podemos observar um
estilizado Monte das Oliveiras. É uma alusão à visão messiânica de Zacarias
(Zacarias 14:4: «Naquele dia, Seus pés estarão sobre o Monte das Oliveiras, a
leste de Jerusalém…»)
O tema do messianismo, inerente às imagens
desta Bíblia, é a resposta dos Judeus às perseguições e ao ódio que lhes eram
movidos na Espanha cristã medieval. Como tal, retratar as alfaias do Templo
pode ser interpretado como uma afirmação de continuidade, de resistência e de
afirmação da identidade judaica.
Bíblia Italiana do
Duque de Sussex (Ferrara?), 1448 ou 1498
Folio 313v, Crónicas
Iluminura com a palavra Adam, no início de Crónicas (Divrei
Haiamim) – Crónicas 1: «Adão [Adam], Shet, Enosh,…»
ff. 49v-50,
Cântico do Mar
Enquadrada numa cercadura floral com medalhões
habitados por animais, surge o “Cântico do Mar” (Êxodo 15:1-18), o cântico de
Moisés que é o documento poético mais antigo da literatura hebraica. No cântico
do Mar Vermelho, Moisés e o Povo de Israel expressam o seu louvor ao Eterno em
reconhecimento ao grande milagre que os libertou do cativeiro do Egipto.
Êxodo 15:1-2:
«Então cantaram Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Eterno, e
disseram: Cantarei ao Eterno, que gloriosamente Se enalteceu; cavalo e
cavaleiro atirou ao mar. Minha fortaleza e meu cântico é D’us, e Ele foi a
minha salvação.»
Este artigo foi
elaborado na íntegra por,
Sónia Craveiro
Muito Obrigada
Beijinhos J
Fontes:
Bíblia Hebraica, Editora & Livraria Sêfer;