Rabi Yisrael Báal Shem Tov
Pintura de Shoshannah
Brombacher
O fundador do Chassidismo, que
tem dois séculos e meio de idade, Rabi Yisrael Báal Shem Tov ("Mestre do
Bom Nome"), nasceu na pequena cidade de Acop, nos Montes Cárpatos da
Polônia, em 18 de Elul de 5458 (1698). Seu nascimento ocorreu exatamente
cinquenta anos após os pogrons que dizimaram as comunidades judaicas na
Ucrânia, Podólia, Volhínia e Polônia.
Grupos inteiros foram arrasados
e os judeus remanescentes mergulharam no desespero. Os efeitos dessa terrível
catástrofe eram ainda visiveis quando o Báal Shem Tov nasceu, e a maior parte
de sua vida foi dedicada a aliviar esta sensação de desespero.
Pintura
de Marianne von Werefkin
Com cinco anos, o Báal Shem Tov ficou órfão e seu pai
deixou-lhe este legado:
"Meu filho, não
temas ninguém além de D'us. Ama a todos os judeus com todo o teu coração e a
tua alma."
O jovem órfão tornou-se o
protegido da comunidade e recebeu a mesma educação de todos os meninos judeus
daquela época. Gostava de passar seu tempo livre apreciando a natureza onde sua
alma sensível podia refletir sobre a grandeza do Criador.
Aos catorze anos, o Báal Shem
Tov filiou-se a um grupo de Tsadikim Nistarim (justos ocultos), seguidores de
Rabi Adam Báal Shem de Ropshits, e que eram eruditos do Talmud e da Cabalá, e
viajaram incógnitos num esforço de ressuscitar a vida judaica da Europa
Ocidental que ainda curava suas feridas após os trágicos pogrons. Sua missão
era perambular de cidade em cidade, dialogando com rabinos, eruditos,
trabalhadores pobres e ricos comerciantes, encorajando e dando esperanças onde
antes havia apenas pessimismo.
Quatro anos mais tarde, por
sugestão do Báal Shem Tov, os Nistarim assumiram a responsabilidade pela
educação religiosa dessas comunidades. Organizaram escolas adequadas e
providenciaram mestres devotos e qualificados, os quais davam atenção especial
às necessidades dos pobres.
Pintura de Shoshannah Brombacher
Após o falecimento do Rabi
Adam, o Báal Shem Tov foi eleito líder dos Nistarim. Dirigiu o estabelecimento
de Chadarim (escolas primárias de Torá) para jovens e Yeshivot para rapazes
mais velhos em centenas de comunidades judaicas.
Pintura de Shoshannah Brombacher
Com o aparato
religioso-educacional firmemente estabelecido, o caminho estava livre para
servir a D'us e cumprir o mandamento de Ahavat Israel, amor ao próximo. Como
segundo objetivo, os Nistarim concentraram sua atenção em elevar as massas da
confusão da ignorância às alturas da Torá.
Neste período de sua vida, Báal
Shem Tov obteve a posse de diversos manuscritos que pertenceram ao Rabi Adam
Báal Shem, os quais revelaram muitos segredos e davam instruções cabalísticas
que ele estudava avidamente.
Durante dez anos, a partir de 5484 (1724), Báal Shem Tov
viveu de maneira reclusa, dedicando-se ao estudo intensivo da Torá. Está
registrado que durante aquela época ele recebia instruções de Achiyá de Shilo,
o antigo profeta dos tempos do Rei David, que lhe aparecia regularmente e lhe
ensinava os segredos da Torá.
Pintura de Shoshannah Brombacher
Aos trinta e seis anos mudou-se para a cidade de Mezibush
onde começou a ensinar publicamente as doutrinas da Chassidut. Devemos lembrar
que, naquele tempo, apenas a erudição da Torá era o caminho do judaísmo, os
analfabetos e ignorantes eram vistos como judeus de "segunda
categoria".
O Báal Shem Tov ensinou que o judaísmo e a Torá são
propriedades de todos os judeus; que cada judeu, não importa qual sua posição,
antecedentes ou dons naturais, é perfeitamente capaz de servir a D'us, e que
Ahavat Israel deve englobar a disposição de sacrificar-se pelo bem de outro
judeu. "A devoção," enfatizava ele, "é vital para uma vida plena
e seu potencial é incalculável."
Rezar não deveria ser um ato somente de implorar a D'us para
que conceda um pedido, embora este também seja um dos objetivos da oração, mas
aderir principalmente ao sentimento de união e unicidade com D'us. Entusiasmo e
alegria no atendimento aos desejos de D'us, calor e afeto no relacionamento com
os outros, essas se tornaram as marcas de identificação do Hassidismo.
Carece do nome do pintor(a)
O Báal Shem Tov foi um estudante de Cabalá de Rabi Yitschac
Luria, o Arizal. Muito daquilo que foi ensinado pelo Báal Shem Tov pode ser
rastreado até as idéias do Arizal, especialmente como apresentadas no clássico
Shnê Luchot Habrit.
Os líderes do hassidismo não se preocupavam apenas com o
nível espiritual de seu povo. Juntamente com sua grande influência no campo
espiritual, dedicavam sua atenção para as condições gerais da comunidade
judaica, sendo motivados pelo seu ilimitado amor ao próximo que é uma das molas
mestras do sistema. Assim, o trabalho do Báal Shem Tov tinha um propósito
duplo: melhorar as condições materiais do povo assim como seu padrão
espiritual.
Sidur do Baal Shem Tov
Muitas pessoas afluíram a Mezibush e tornaram-se ardentes
seguidores de Báal Shem Tov; milhares de discípulos entre eruditos rabinos e
doutores talmúdicos. Um dos maiores, Rabi Dov Ber de Mezritsh, tornou-se o seu
sucessor e foi mestre do célebre Rabi Shneor Zalman de Liadi, primeiro Rebe de
Chabad. Estes eminentes eruditos e rabinos ajudaram a disseminar os
ensinamentos do Báal Shem Tov em suas comunidades, e em pouco tempo o novo
movimento chassídico espalhou-se pela Polônia e províncias vizinhas.
A primeira oposição aberta ao Báal Shem Tov e à Chassidut
surgiu em 5515 (1755), cerca de vinte anos depois que ele começara seu trabalho
público. Mas essa objeção não conseguiu impedir o ímpeto do movimento
chassídico, que adquiria cada vez mais adeptos, tanto em meio às massas, como
entre os estudiosos.
Desenho de Hyman Bloom
Nos anos finais de sua vida, Báal Shem Tov testemunhou a
luta que depois, por algum tempo, dividiu o povo judeu em duas áreas, os
Chassidim e os Mitnagdim. Mas ele podia também visualizar a eventual vitória de
seus ensinamentos e a sua aceitação final por todo o povo judeu, em qualquer
lugar. Quando isto vier a acontecer, ensinou o Báal Shem Tov, o terreno estará
totalmente preparado para a vinda de Mashiach.
Rabi Yisrael Báal Shem Tov faleceu no primeiro dia de
Shavuot (6 de Sivan) de 5520 (1760) aos sessenta e dois anos. Não legou
trabalhos escritos, mas seus ensinamentos e doutrinas foram registrados por
seus discípulos e publicados em trabalhos e coletâneas especiais, contidos na
extensa literatura Chabad, em particular nos escritos de Rabi Shneor Zalman,
fundador do movimento Chabad-Lubavitch.
Eis aqui uma história que
passou de tsadic (justo) para tsadic até nos ser contada por Rabi Yossef Yitschac
de Lubavitch, o Sexto Rebe. Ele a contou nas palavras do Báal Shem Tov:
"Em meu décimo-sexto
aniversário, 18 de Elul de 5474, estava numa pequena aldeia. O estalajadeiro
era um judeu de total simplicidade. Ele conhecia as preces com dificuldade, e
não sabia o significado das palavras. Porém sentia grande reverência pelo
Divino e para tudo que lhe acontecesse, tendo o costume de dizer: 'Bendito seja
Ele, e que Ele seja louvado para todo o sempre.' A esposa e sócia do
estalajadeiro usava uma frase diferente: 'Bendito seja Seu Santo Nome.'
"Naquele dia, saí para
meditar no isolamento dos campos, como me havia sido ensinado pelos sábios
antes de nós, que no seu dia de aniversário deve-se meditar sozinho por um
certo tempo. Em minhas meditações, recitei os Salmos e concentrei-me no
yichudim dos nomes Divinos (Yichudim são uma forma de meditação cabalística
baseados em permutas e combinações dos nomes Divinos e atributos de D'us).
"Concentrado nisso, perdi
a consciência do que me rodeava. Subitamente, contemplei o Profeta Eliyáhu - e
um sorriso pairava em seus lábios. Fiquei muito surpreso por merecer uma
revelação do Profeta Eliyáhu enquanto estava sozinho. Quando estive com o
tsadic Rabi Meir, e também com outros tsadikim ocultos, tive a felicidade de
ver o Profeta Eliyáhu. Mas merecer este privilégio enquanto sozinho - esta era
a primeira vez e fiquei muito impressionado.
"Compreensivelmente, fui
incapaz de interpretar o sorriso na face de Eliyáhu.
"Eis o que ele me disse:
"Veja, você está fazendo um grande esforço para concentrar sua mente nos nomes
Divinos, que vão desde os versículos dos Salmos que David, Rei de Israel,
compôs. Mas Aaron Shlomo, o estalajadeiro, e Zlota, a esposa, são ignorantes
dos yichudim dos nomes Divinos desde 'Bendito seja Ele, e Bendito seja Ele para
todo o sempre' que o estalajadeiro recita, e 'Bendito seja Seu Santo Nome' que
ela recita - mesmo assim esses yichudim provocam mais tempestade em todos estes
mundos do que os yichudim dos Nomes Divinos que os grandes tsadikim possam
criar."
"Então, o Profeta Eliyáhu
contou-me sobre o prazer que D'us sente, por assim dizer, com o louvor e o
agradecimento dos homens, mulheres e crianças que O louvam - principalmente
quando a prece e o agradecimento vêm de pessoas simples, e ainda mais quando
são contínuos - pois então eles ficam perpetuamente ligados a D'us com fé pura
e sinceridade.
Pintura de Shoshannah Brombacher
The prophet
"Desde aquele tempo tomei
um caminho no serviço de D'us a fim de trazer homens, mulheres e crianças para
que dissessem palavras de louvor ao Criador. Eu costumava perguntar-lhes pela
sua saúde, pela dos filhos, pelo seu bem-estar material - e eles me respondiam
com palavras diferentes de louvor pelo Altíssimo, cada um à sua própria
maneira.
"Por muitos anos fiz isso
por mim mesmo, e em uma das reuniões dos tsadikim ocultos todos eles aceitaram
este caminho..."
Aquilo que Einstein foi para a
Física e Beethoven para a música, muito mais foi o Báal Shem Tov para a alma
humana.
Após achar o caminho místico
nas mais simples das pessoas, o Báal Shem Tov prosseguiu para encontrar as mais
divinas centelhas no mundo, a essência do D'us Único em todo o lugar e em cada
acontecimento.
Exterior da sinagoga do Baal
Shem Tov em Medzhybizh, por volta de 1915.
Esta sinagoga já não existe. No
entanto, uma similar foi recentemente reconstruída no seu local original como
um museu.
Ohel Baal Shem Tov
“Que possamos merecer o tempo quando a verdade de seus
mananciais brotar, sem distorções.”
Assinatura do Báal Shem Tov
Fonte: