A mensagem que nos acompanha o ano inteiro
Já passamos pelo Sêder e Chol Hamoed, "Dias Intermediários", e pelos dois
últimos dias da comemoração de Pêssach, a festa de nossa liberdade, e fim: só
ano que vem (que seja em Jerusalém, se D’us quiser!). O Sêder, no qual nos
reunimos com nossa família e narramos a história do Êxodo: a escravidão dos
israelitas no Egito e finalmente sua libertação é o ponto central desta festa
única celebrada pela maioria dos judeus em todas as épocas. É um ritual que
jamais perdeu seu poder de capturar a imaginação. Não se trata de um mero relato
que acompanhamos na Hagadá, sobre os eventos e milagres ocorridos no Êxodo de
nossa história, há muito tempo e num lugar distante.
Trazemos a história à nossa
mesa e contamos e explicamos a nossos filhos, em todas as gerações, colocando
ingredientes simbólicos repletos de conteúdo e significado em nossa keará.
"Ma nishtana..", "porque esta noite é diferente de todas as outras noites",
trazem lembranças de nossa infância quando podemos visualizar na memória nossos
pais ou avós sentados com toda a família ao redor da mesa do Sêder de
Pêssach.
Mas o Sêder é apenas o início. Provamos as ervas amargas da escravidão.
Bebemos quatro copos do vinho da liberdade. É como se estivéssemos ali. Em lugar
algum isso é mais dramaticamente focalizado do que nas palavras de abertura do
serviço. "Este é o pão da aflição que nossos ancestrais comeram na terra do
Egito." A esta altura, o passado e o presente se juntam num desafio às
categorias normais do tempo. O serviço do Sêder não é só recordação, mas
principalmente renovação.
Os judeus têm uma história mais longa e mais notável que a maioria. Foram os
primeiros a encontrar D’us na história e a verem no fluxo do tempo não a mera
sequência de eventos, mas uma narrativa coerente. Uma fé baseada em fatos
históricos. Nenhum povo jamais insistiu mais firmemente que os judeus de que a
história tem um propósito e a humanidade um destino. A palavra história em
hebraico foi adaptada, era inexistente, pois para o judaísmo história é memória.
A história é aquilo que aconteceu com outra pessoa. A memória é aquilo que
aconteceu para mim. A memória é a história interiorizada, o passado transformado
em presente por aqueles que o revivem. Através da identificação pessoal com os
momentos importantes do passado, eles se tornam parte daquilo que nos faz ser
exatamente quem somos. Tornamo-nos personagens de uma história contínua que
começou antes de nascermos e continuará depois de termos deixado de ser. Nesse
sentido, Pêssach é a festa na qual a história se torna memória.
O resultado é que a história do Êxodo continuou, no decorrer de sucessivas
gerações, a incentivar as pessoas na luta pela liberdade. A outorga da Torá, a
chegada a Terra Prometida, o levante do Gueto de Varsóvia, o florescimento de
Israel como povo e nação, nossa luta contra a assimilação através do
fortalecimento de nossos valores são marcas vivas, passadas e atuais, de nossa
liberdade, do direito de não esquecer e revitalizar a memória, manter a chama
sempre acesa.
Se devemos prezar a liberdade e guardá-la, devemos lembrar à nova geração
esta alternativa: o pão da aflição foi conseguido à base de luta e sofrimento:
não com vingança ou ódio, mas simplesmente para saber o que é suficientemente
importante para exigir constante vigilância.
Quem tem fome que venha! Junte-se a nós. Seja humilde como a matsá, mas
importe-se: seja suficientemente ambicioso para refrescar sua memória. Busque na
comunidade aulas de Torá, fale com seu rabino, reuna-se com grupos jovens
judaicos e traga mais um amigo, estude em escolas judaicas ou coloque seu filho
em uma. Esta é a lição de Pêssach após Pêssach: a memória é o nosso melhor
guardião da liberdade.
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