Até ao início das Grandes Navegações, no fim do século XV, o Canadá era habitado apenas por povos nativos, índios de diversas nações. Por um breve momento, por volta do ano 1000 E.C, Vikings vindos da Gronelândia instalaram-se na costa leste do Canadá, mas isto durou apenas alguns anos.O Canadá permaneceu sob controle dos índios até a chegada dos colonizadores europeus. No início do século XVII, colonos franceses se estabeleceram na área onde hoje fica Quebec. Devido a um decreto do Cardeal Richelieu, de 1627, somente Católicos Romanos poderiam assentar-se na área.
Portanto, os judeus só chegaram após o
fim da Guerra Francesa e Índia (assim chamada por causa da participação dos
índios norte-americanos na guerra), que terminou em 1760, com vitória da
Grã-Bretanha sobre a França. A potência vitoriosa acabou conquistando todo o
Canadá, com excepção das pequenas ilhas de Saint Pierre e Miquelon, que ainda
pertencem à França, entre outras mudanças geopolíticas.
Com o
exército inglês, chegaram alguns oficiais e soldados judeus, além de mercadores
e comerciantes de peles, que se estabeleceram na área conquistada já em 1760. Em
1763, a Guerra dos Sete Anos, considerada por Winston Churchill a primeira
Guerra Mundial, da qual a guerra anteriormente citada fazia parte, terminou. Com
o término dos confrontos, pequenas levas de judeus começaram a chegar ao Canadá,
vindas das Treze Colónias (colónia britânica que viria a formar os EUA),
Inglaterra, Holanda e Alemanha.
Em Montreal, uma comunidade pequena,
que tinha em torno de 200 membros construiu a primeira sinagoga do Canadá,
Shearith Israel, em 1768. A comunidade judaica não mudou muito durante bastante
tempo. Em 1832, foi aprovada uma lei que garantia aos judeus os mesmos direitos
que os cristãos.
Um dos poucos eventos dignos de nota se deu quando
um judeu chamado Ezekiel Hart foi eleito para uma legislatura no Canadá. Ele
prestou seu juramento sobre o Tanach, ao invés da Bíblia Cristã, o que enfureceu
os protestantes que habitavam o local. O Governador-Geral o expulsou do cargo.
No entanto, muitos franceses canadenses tinham votado em Ezekiel. Eles viram
isto como uma tentativa dos britânicos de diminuir sua participação no Canadá e
protestaram veementemente. No fim, Ezekiel acabou reempossado e a lei que exigia
um juramento sobre a Bíblia foi emendada para que os judeus não precisassem
fazê-lo.
A partir de 1880, começaram a chegar judeus da Europa
Oriental, fugindo dos pogroms e da miséria. Apesar de a maioria destes
emigrantes terem ido para os EUA, o Canadá fez um esforço consciente para
atraí-los. O governo do país e a Canadian Pacific Railway desejavam desenvolver
o país, com a ajuda dos imigrantes. No momento da eclosão da Primeira Guerra
Mundial, havia em torno de 100.000 judeus no país. Montreal era a cidade que
concentrava a maioria
destes. Em sua maioria, trabalhavam como comerciantes. Alguns ainda eram
mercadores de peles. Os judeus tiveram um papel destacado na indústria pesqueira
e na construção das linhas de telégrafo.
Neste mesmo período, houve
tentativas de estabelecer colónias agrícolas judaicas na região das pradarias. A
maioria não prosperou, em parte porque os judeus que delas participaram não
tinham experiência nesta ocupação, pois na Europa Oriental eram proibidos de
possuir terras. No entanto, uma colónia de judeus sul-africanos que haviam sido
fazendeiros em sua terra natal deu certo. Chamava-se Yid’n Bridge e aumentou de
tamanho à medida que os judeus sul-africanos convidavam os europeus a
juntarem-se a eles. Com o tempo, o assentamento cresceu e tornou-se uma cidade,
cujo nome foi anglicizado para Edenbridge.
Antes do início da
Guerra, muitos judeus passaram a trabalhar na indústria têxtil, como operários
nas insalubres fábricas da época.
Após o fim da Guerra foi criado o
Congresso Judaico Canadense, para prover ajuda aos refugiados da Europa
Oriental. No início o CJC conseguiu unificar as organizações judaicas
preexistentes, como a B’nai Brith, o Círculo dos Operários (organização
fraternal inspirada no Bund), a Sociedade Sionista de Quebec, etc. No entanto,
Congresso Judaico Canadense esteve inactivo entre o meio dos anos 20 e a subida
de Hitler ao poder. Após este evento, a instituição passou a lutar contra a
propaganda nazista, a angariar fundos para ajudar os necessitados e a trabalhar
para tirar judeus da Europa. Seus esforços antes e durante a guerra, fizeram com
que o CJC fosse reconhecido como a voz da comunidade judaica.
Outra
consequência do fim da Primeira Guerra Mundial foi o retorno do fluxo migratório
em direcção ao Canadá, aumentado ainda mais devido aos EUA terem estabelecido um
sistema de quotas de imigração. Essa política, no entanto, não durou muito.
Depois de um curto período liberal, a política de imigração endureceu e as
pessoas vindas de nações “não-preferidas” tinham sua entrada restrita. Era muito
difícil a chegada de um imigrante que não viesse de algum país Branco,
Anglo-Saxão e Protestante (WASP), como os EUA e o Reino Unido. Por isso, a
maioria dos judeus que chegou, no período, vinha destes dois países. As leis
endureceram ainda mais, no período da Grande Depressão, por medo de que os
imigrantes tomassem os empregos dos canadenses desempregados, o que também tinha
relação com a xenofobia e o anti-semitismo da época.
Mesmo assim,
vieram quase 16.000 judeus entre 1921 e 1931 para o país. Durante a Segunda
Guerra Mundial, o país acolheu 8.000, quase 1% dos judeus admitidos no mundo
inteiro. Durante esta guerra, aproximadamente 17.000 judeus serviram no exército
do Canadá.
Depois da Segunda Guerra Mundial, as políticas de
imigração afrouxaram novamente, o que permitiu que, entre 1946 e 1960, 46.000
judeus entrassem no país. Além dos sobreviventes do Holocausto, vieram muitos
judeus das colónias francesas na África, à medida que estes países ganhavam
independência. Devido à sua língua, tiveram fácil adaptação em Quebec e
Montreal. Uma leva importante de judeus veio após uma revolta húngara contra a
dominação russa, em 1956.
Nos anos 70, o fortalecimento do movimento
separatista de Quebec (área de predominância francesa) e a aprovação de uma lei
que tornava o francês a única língua oficial da província fizeram com que muitos
judeus, temerosos de que a província pudesse deixar a Confederação e que
,predominantemente, falavam inglês, saíssem de Montreal e fossem para Toronto.
Após a vitória do Parti Quebecois, partido nacionalista, em torno de vinte a
trinta mil judeus, especialmente adultos jovens, saíssem de Quebec. Com isso,
Toronto se tornou o centro da vida judaica Canadense. Após o Partido Liberal
recuperar o governo de Quebec, em 1985, e uma recessão em todo o país diminuir o
apelo económico das outras regiões, a população judaica desta província
estabilizou.
Hoje em dia, entre 340 e 380 mil judeus vivem no
Canadá, cuja população total é de 31,3 milhões de habitantes. Aproximadamente
179.000 judeus vivem em Toronto, 93.000 em Montreal, 22.600 em Vancouver, 14.800
em Winnipeg, 13.500 em Ottawa, 8.000 em Calgary e 5.000 em Hamilton e Edmontom.
O Canadá abriga a quarta maior população judaica do mundo.
Hoje em
dia, a liderança do o Congresso Judaico Canadense é contestada pela B’nai Brith
(mais conservadora que ele), ao mesmo tempo em que a Aliança dos Judeus
Canadenses Preocupados (à esquerda de ambos) argumenta que o CJC não fala pela
maioria dos judeus.
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