segunda-feira, 12 de março de 2012

Os judeus da Amazónia




As histórias  confundem-se

Márcio Souza, escritor



A formação do Brasil se confunde com a própria história da diáspora dos judeus sefardim, como são conhecidos aqueles que viviam na Espanha e Portugal, até serem expulsos em 1492. Desde o primeiro momento a presença de gente de nação de cristãos novos é uma constante. Após 1530, quando efetivamente começa o processo colonial foram os judeus os primeiros técnicos na fabricação do açúcar e mais tarde, a partir do século XVII, os responsáveis pela integração inter-regional através de seus comerciantes que perambulavam pelos sertões. Mas até aportarem em Pindorama, os judeus sefardins percorreram inúmeros caminhos e viveram grandes aventuras. Segundo a tradição, os sefardins seriam os descendentes diretos dos membros das tribos de Judá e Benjamim, que escaparam de Israel durante a invasão babilônica comandada por Nabucodonosor, responsável pela destruição e incêndio do primeiro Templo. Estes homens e mulheres atravessaram o mar e seguiram para o ocidente onde até então nenhum judeu antes estivera, estabelecendo, suas comunidades nas terras de Espanha e Portugal. Por isso, não foi apenas com surpresa que os judeus espanhóis receberam o édito dos reis cristãos que a partir do século XIII passaram a cobrar um imposto de trinta dinheiros sobre as comunidades israelitas, sob o pretexto de que estes haviam vendido Jesus Cristo por esta quantia.
Em Toledo, um rabino afirmou que sua família já se encontrava ali, quando o rei Salomão mandou emissários à Espanha para coletar ouro, joias e produtos preciosos para ajudar na reconstrução do templo. O rabino lembrava que este fato ocorreu mil anos antes do nascimento de Jesus Cristo. A partir de 1810 centenas de famílias deixariam Marrocos e embarcariam para Belém e Manaus. A primeira “kehilá” da Amazônia, de rito sefardim, era composta por gente oriunda do norte da África, especialmente das cidades marroquinas de Tanger e Tetuan. Entre 1880 e 1890, centenas de famílias desembarcaram em Belém, e sem maiores problemas que os da adaptação em uma nova terra, estabeleceram uma coletividade florescente.
Há nos arquivos do Pará uma excelente documentação, de onde se pode levantar sobrenome que se tornaram influentes na sociedade regional, como os Abecassis, Azulay, Assayague, Benchimol, Athias, Benoliel, Bentes, Cohen, Israel, Levy, Pazuelo, Sefarty e Serruya. Depois de Belém as famílias sefardins foram se estabelecendo em outras cidades, começando pelo Baixo Amazonas, até atingir Iquitos, no Peru. Ainda hoje os nomes sefardins estão presentes em Cametá, Óbidos, Oriximiná, Alenquer, Santarém e Itaituba, no Pará, ou em Itacoatiara, Tefé e Manaus, no Amazonas. Era uma imigração espontânea, pois as famílias não se abalavam pelos sertões em função de uma promessa ou incentivo oficial como ocorreu com outros imigrantes europeus. Da mesma forma que os sírios e libaneses, os judeus não chegaram na Amazônia como colonos. Os motivos que os conduziram para a região, abandonando suas terras, são as de sempre dificuldades econômicas, falta de trabalho, perseguição religiosa, conflitos políticos e violência contra as comunidades judaicas. A comunidade de Manaus é de criação mais recente e hoje conta com cerca de 200 famílias, com aproximadamente 800 adeptos, que pertencem à congregação de Esnoga Beth-Yaacov/Rabi Meyr e ao Clube A Hebraica, onde é mantida ao lado das atividades sociais uma escolinha para o ensino do hebraico.

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