As histórias confundem-se
Márcio Souza,
escritor
A formação do Brasil se confunde com a própria história
da diáspora dos judeus sefardim, como são conhecidos aqueles que viviam na
Espanha e Portugal, até serem expulsos em 1492. Desde o primeiro momento a
presença de gente de nação de cristãos novos é uma constante. Após 1530, quando
efetivamente começa o processo colonial foram os judeus os primeiros técnicos
na fabricação do açúcar e mais tarde, a partir do século XVII, os responsáveis
pela integração inter-regional através de seus comerciantes que perambulavam
pelos sertões. Mas até aportarem em Pindorama, os judeus sefardins percorreram
inúmeros caminhos e viveram grandes aventuras. Segundo a tradição, os sefardins
seriam os descendentes diretos dos membros das tribos de Judá e Benjamim, que
escaparam de Israel durante a invasão babilônica comandada por Nabucodonosor,
responsável pela destruição e incêndio do primeiro Templo. Estes homens e
mulheres atravessaram o mar e seguiram para o ocidente onde até então nenhum
judeu antes estivera, estabelecendo, suas comunidades nas terras de Espanha e
Portugal. Por isso, não foi apenas com surpresa que os judeus espanhóis
receberam o édito dos reis cristãos que a partir do século XIII passaram a
cobrar um imposto de trinta dinheiros sobre as comunidades israelitas, sob o
pretexto de que estes haviam vendido Jesus Cristo por esta quantia.
Em Toledo, um rabino afirmou que sua família já se encontrava ali,
quando o rei Salomão mandou emissários à Espanha para coletar ouro, joias e
produtos preciosos para ajudar na reconstrução do templo. O rabino lembrava que
este fato ocorreu mil anos antes do nascimento de Jesus Cristo. A partir de
1810 centenas de famílias deixariam Marrocos e embarcariam para Belém e Manaus.
A primeira “kehilá” da Amazônia, de rito sefardim, era composta por gente
oriunda do norte da África, especialmente das cidades marroquinas de Tanger e
Tetuan. Entre 1880 e 1890, centenas de famílias desembarcaram em Belém, e sem
maiores problemas que os da adaptação em uma nova terra, estabeleceram uma
coletividade florescente.
Há nos arquivos do Pará uma excelente documentação, de onde se pode levantar
sobrenome que se tornaram influentes na sociedade regional, como os Abecassis,
Azulay, Assayague, Benchimol, Athias, Benoliel, Bentes, Cohen, Israel, Levy,
Pazuelo, Sefarty e Serruya. Depois de Belém as famílias sefardins foram se
estabelecendo em outras cidades, começando pelo Baixo Amazonas, até atingir
Iquitos, no Peru. Ainda hoje os nomes sefardins estão presentes em Cametá,
Óbidos, Oriximiná, Alenquer, Santarém e Itaituba, no Pará, ou em Itacoatiara,
Tefé e Manaus, no Amazonas. Era uma imigração espontânea, pois as famílias não
se abalavam pelos sertões em função de uma promessa ou incentivo oficial como
ocorreu com outros imigrantes europeus. Da mesma forma que os sírios e
libaneses, os judeus não chegaram na Amazônia como colonos. Os motivos que os
conduziram para a região, abandonando suas terras, são as de sempre
dificuldades econômicas, falta de trabalho, perseguição religiosa, conflitos
políticos e violência contra as comunidades judaicas. A comunidade de Manaus é
de criação mais recente e hoje conta com cerca de 200 famílias, com
aproximadamente 800 adeptos, que pertencem à congregação de Esnoga
Beth-Yaacov/Rabi Meyr e ao Clube A Hebraica, onde é mantida ao lado das
atividades sociais uma escolinha para o ensino do hebraico.
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