Judeus restauram sinagogas em Damasco enquanto a Síria procura melhorar a sua imagem
Por
Massoud A. Derhally
Albert Cameo, líder do que resta da comunidade
judaica na Síria, diz que está tentando cumprir a obrigação da sua herança
religiosa. Aos 70 anos de idade ele está organizando a restauração de uma
sinagoga chamada de Al-Raqi que foi construída durante o Império Otomano há
cerca de 400 anos no antigo bairro judaico de Damasco, capital da Síria. O
projeto que começou em dezembro será concluído este mês como parte de um plano
para a restauração de 10 sinagogas com o apoio do presidente sírio, Bashar
al-Assad, e o financiamento de judeus sírios.
"Assad considera a reconstrução da Damasco judaica
como um modo de preservar a laicidade da Síria" afirmou Josh Landis, diretor do
Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Oklahoma. "Este é um
esforço por parte do regime para mostrar a sua seriedade e um ramo de oliveira
para a comunidade judaica nos Estados Unidos, que tem procurado cortejar".
Embora a Síria ainda esteja oficialmente em guerra
com Israel, o país está tentando mostrar-se como um estado mais tolerante para
ajudar a melhorar a sua imagem internacional. Cerca de 200 judeus na Síria estão
procurando espelhar as ações de seus correligionários no Líbano, onde os
trabalhos de restauração da Sinagoga Maghen Abraham em Beirute tiveram início em
julho de 2009.
As negociações de paz indiretas entre a Síria e
Israel e mediadas pela Turquia, foram interrompidas em dezembro de 2008 quando
Israel começou sua ofensiva militar na Faixa de Gaza que tinha o propósito de
impedir militantes islâmicos de dispararem milhares de foguetes contra o sul de
Israel. A rodada anterior tinha parado em 2000 quando os dois países não
chegaram a um acordo sobre o retorno das Colinas de Golam, que Israel ocupou na
Guerra dos Seis Dias em 1967.
Comunidade Síria nos EUA
A maior comunidade sírio-judaica, estimada em
75.000 pessoas, está centrada no Brooklyn em Nova York e em Nova Jersey. A
emigração remonta à Revolução dos Jovens Turcos em 1908 "quando os judeus temiam
que os seus filhos fossem convocados para o exército turco otomano" conforme
comenta Sara Reguer, autora do "Os Judeus do Oriente Médio e Norte da África nos
Tempos Modernos".
Joey Allaham de 35 anos, um judeu sírio que vive
em Nova York, ainda considera a Síria como a sua terra natal. Em dezembro ele
ajudou a marcar uma reunião entre Assad e Malcolm Hoenlein que é o
vice-presidente executivo da Conference of Presidents of Major American Jewish
Organizations (Conferência de Presidentes das Principais Organizações Judaicas
Americanas), uma organização que agrupa diversos grupos judaicos para a promoção
de laços entre a Síria e a comunidade judaica americana.
Durante a visita Allaham e Hoenlein visitaram a
sinagoga Franji em frente ao Hotel Talisman em Bab Touma, na parte antiga da
capital síria. A sinagoga, também conhecida como Ilfrange, recebeu este nome por
causa dos judeus que vieram da Espanha e foi construída há 400 anos. "O
presidente Assad teve a gentileza de nos apoiar" Allaham contou em uma
entrevista. "Nós vamos providenciar os fundos necessários".
Os judeus sírios formam uma comunidade que remonta
ao Império Romano, com 30.000 pessoas em 1947 e eram árabes com origem local ou
sefaraditas que fugiram para a Síria depois da expulsão Cox judeus da Espanha em
1492, e que residiam nas cidades de Aleppo, Damasco e Qamishli, mas cujo número
diminuiu por causa da emigração para os EUA, Europa Ocidental e América do Sul
no início de 1900.
A "grande saída" dos judeus sírios ocorreu logo
após a criação do Estado de Israel em 1948, quando ocorreram distúrbios em Alepo
na Síria, que como conseqüência trouxe a proibição dos judeus deixarem o país,
porque estavam indo para Israel.
A diminuição da população
Os judeus restantes foram autorizados a deixarem a
Síria em 1990 quando as relações com os EUA descongelaram e Washington procurou
o apoio do país para expulsar o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein do
Kuwait, relatou Landis. "Atualmente os judeus sírios vivem em Israel, na
Turquia, Europa Ocidental e nos Estados Unidos, mas sentem uma afinidade
positiva em relação a sua pátria" afirmou por email Tom Dine, que já ocupou a
direção do American Israel Public Affairs Committee. "A reconciliação já deveria
ter acontecido".
Ao contrário dos seus três irmãos que vivem no
México, Cameo diz que não tem desejo de deixar a Síria. "Moralmente eu não posso
sair do meu país e nem os seus locais de culto religioso" disse Cameo da sua
casa em Damasco. "Tenho o dever de preservar o nosso patrimônio".
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