Homenagem
Este quadro, da autoria de Francisco Duarte Azevedo, apresentado aqui em estreia absoluta, intitula-se The Day After the Auto-da-Fé, uma homenagem do pintor aos mortos do massacre de Lisboa, de Abril de 1506. Com uma beleza de calma aparente e toda uma carga de violência subentendida, o quadro pode também ler-se como uma metáfora à vida daqueles que tiveram de viver sob um terror constante.
Obrigados a converter-se ao catolicismo sob pena de morte e sem outra opção possível, os judeus portugueses continuaram a ser judeus, não só no segredo das suas casas, mas também aos olhos dos vizinhos cristãos-velhos que, com intolerância, nunca lhes haveriam de fazer esquecer a sua diferença. Com o correr dos séculos, as tradições judaicas familiares de muitos diluíram-se nas poeiras da história. Outros preservaram esboços de liturgias ancestrais sem se aperceberem dos significados. Outros ainda, numa tradição oral passada de pais para filhos, de avós para netos, cinco séculos depois, sabem que são judeus — um facto teimoso que continua a deitar por terra as teorias daqueles que acreditavam que o judaísmo tinha sido expulso de Portugal. A estes, convencionou-se chamar-lhes marranos — uma palavra que para uns é insulto, mas para outros motivo de intenso orgulho.
Zog Maran (Diz-me Marrano)
(uma canção para a Páscoa Judaica)Diz-me Marrano, meu irmão,
onde pões a mesa para o Seder?
— Numa caverna escura e funda,
a minha Páscoa irei fazer.Diz-me Marrano, onde vais
buscar os brancos matzos?
— Na caverna, com a ajuda de Deus,
a minha mulher os lá amassa.Diz-me Marrano, como consegues
encontrar uma Hagadá?
Na caverna, entre as fendas,
há muito que escondi os livros lá.Diz-me Marrano, como te
defenderás quando te ouvirem cantar?
— Se me vierem prender, com uma
canção nos lábios irei morrer.Avrom Reisen
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