Moisés Mendelssohn foi um filósofo e poeta,
judeu alemão. Considerado o precursor da Haskalah,
a Renascença Judaica associada ao Iluminismo, era conhecido pelos seus
contemporâneos como “o Platão Germânico”. Embora fosse um judeu ortodoxo, é
apontado como o pai do Judaísmo Reformista.
Mendelssohn era corcunda e gago. No
entanto encarava as suas deficiências com humor, conforme podemos observar no
poema abaixo:
Chamais
grande a Demóstenes, /Orador gago da Grécia;
E
o corcunda Esopo dizeis sábio; / No vosso círculo, suponho,
Eu
serei duplamente sábio e grande. /Pois o que neles separado havia
Em
mim encontrais unido, /Língua pesada e marreca combinadas.
Nascido numa família pobre, estava
destinado à carreira rabínica; estudou por si a cultura alemã e foi através das
suas reflexões sobre filosofia e religião que se tornou uma figura respeitada e
uma referência de liderança cultural, tanto do lado judaico como do alemão.
Foi igualmente um industrial de
sucesso, no setor têxtil, em Berlim, que deu origem à riqueza da família.
Mendelssohn foi pai de seis filhos, mas só
dois – Recha e Joseph - permaneceram na fé judaica. Joseph viria a fundar em
1795 o Banco Mendelssohn, na cidade de Berlim, que se manteve na família até
1938, ano
em que os nazis obrigaram a que
todos os bens da instituição fossem vendidos ao Deutsche Bank. O filho Abraham,
casado com Leah Solomon, foi pai dos compositores Fanny e Félix Mendelssohn.
Em 1763, Johann Kaspar Lavater, então um jovem estudante de
Teologia, viajou de Zurique a Berlim, onde visitou o já famoso filósofo Moisés
Mendelssohn. Seis anos mais tarde, em Outubro de 1769, Lavater envia a
Mendelssohn uma tradução sua em língua alemã da obra de Charles Bonnet
“Evidências Cristãs”. No prefácio do livro desafia Mendelssohn a refutar as
ditas “evidências”, argumentando que se o filósofo grego Sócrates tivesse lido
a obra, certamente as reconheceria como irrefutáveis; em Dezembro do mesmo ano,
Mendelssohn responde-lhe em carta aberta, dizendo o seguinte: «Suponha que
viviam entre os meus contemporâneos um Confúcio ou um Sólon. Eu podia, de
acordo com os meus princípios e a minha religião, admirar esses grandes homens, sem
cair no ridículo de os querer converter à minha fé».
O
encontro de Lavater, Lessing e Mendelssohn visto por Oppenheim
Moritz Daniel Oppenheim, Lavater e Lessing visitam Moisés Mendelssohn,
1856
Mendelssohn, com um casaco vermelho,
conversa com Lavater, que lhe mostra um livro onde aparece o nome Bonnet (o
autor de “Evidências Cristãs”, que Lavater traduziu, e com o qual pretende
convencer Mendelssohn a abandonar a fé judaica a favor da cristã). Lessing está
de pé, atrás da mesa. Ao centro da mesa encontra-se um tabuleiro de xadrez,
posicionado entre as três personagens, no que é uma alusão à peça de Lessing
“Nathan, o Sábio”, cuja ação se passa durante a III Cruzada, em Jerusalém. A
peça exalta as virtudes da partilha intelectual e da tolerância religiosa,
durante uma partida de xadrez entre o Judeu Nathan e o sultão Saladino. No
quadro o tabuleiro de xadrez representa um “trocadilho visual”: as peças de
xadrez vermelhas, do lado de Lavater, foram colocadas
em checkmate pelas brancas, numa referência à superioridade intelectual
atribuída à associação entre Mendelssohn e Lessing.
Pendurada no teto, por cima dos três
homens, está uma lâmpada de Shabat,
usada não só para alumiar, como também com fins rituais; à direita uma criada
entra na sala, segurando um tabuleiro. Por cima dela, na ombreira da porta, há
uma inscrição de uma bênção hebraica – Bendito
serás ao entrares e bendito serás ao saíres (Deuterónimo 28:6); atrás, na
parede do lado esquerdo, aparece uma mizrach
(oriente) emoldurada, que é uma placa indicando a direção em que se deve rezar.
Com estes pormenores, Oppenheim quis demonstrar o caráter piedoso do judeu
Moisés Mendelssohn, bem como enaltecer a observância judaica de meados do
século XIX, quando o quadro foi pintado.
A elaboração deste trabalho foi da minha querida amiga Sónia Craveiro.
Obrigada Sónia pelo seu carinho.
No link abaixo, de onde foi
retirada a informação desta pintura de Oppenheim, pode ver-se o quadro em
detalhe:
Outras fontes:
Informações muito importantes, Shalom!
ResponderEliminarShalom Rose Di. Toda Rabá. :)
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