Rapa – Tira – Deixa – Põe
…”Como já em anteriores
posts salientei, Trás-os-Montes tem até hoje um inúmero registo de
tradições que ficaram da herança judaica, o jogo do Rapa parece ser um desses
exemplos.” - Carlos
Baptista
Fernando Ribeiro no seu blogue dedicado à cidade de Chaves,
relata-nos sobre este mesmo jogo, praticado até hoje em algumas zonas
transmontanas, mas pelo que eu sei, este costume foi também utilizado pelas crianças
da Beira-Alta, que em tempos mais difíceis, era acompanhado com pinhões,
castanhas e outros frutos secos.
(Ontem perguntei ao meu pai se conhecia o jogo, visto ser
de Trás-os-Montes e ele respondeu-me que sim e contou-me que eles próprios faziam os
piões à mão e brincavam pela altura do Natal a amêndoas e outros frutos secos,
há imagem do relato acima descrito) – Ziva David
(…) O Natal de muitos dos nossos pais e avós foi marcado
por um jogo que está bem presente nas suas memórias de infância. O Rapa, tira,
deixa e põe...
O jogo do rapa. Deixem, agora, que mude o nome a este
brinquedo e lhe chame Dreidel, em
yiddish, e passe a ler as quatro letras em hebraico - נ (Nun), ג (Gimel), ה (Hei), ש (Shin), que juntas foram o acrónimo
para (Nes Gadol Haya
Sham – “um grande milagre aconteceu lá” – em Israel).
O rapa. Um brinquedo e um jogo que a diáspora judaica
manteve durante as festividades do Hanukkah, para consagrar e honrar a memória
da Terra Santa. Um jogo que nós adaptámos e baptizámos com a devida vénia à
tradição anti-judaica: rapa, tira...
Vem-me ainda à memória a curiosa tradição de Páscoa que, na
minha adolescência, vim encontrar em Chaves. Em vésperas da Semana Santa
juntava-se dinheiro para comprar peças de barro no antigo mercado da Rua do
Olival. No domingo de Páscoa, na Rua de Santa Maria, as crianças jogavam aos
púcaros e caçoilos, atirando-os de mão em mão até se partirem... Mais tarde,
Amílcar Paulo [n. 1929], ensinou-me que a tradição sefardita cripto-judaica
mantinha o hábito de quebrar loiça doméstica, durante a Páscoa, como símbolo de
renascimento e renovação...
Recordo, para concluir, as reticências que algumas pessoas
tiveram perante o nome escolhido para a minha filha. Embora não aceitando as
objecções, compreendi-as. Há uma quadra popular que evidência ainda o
preconceito dos católicos para com este e outros nomes:
Ana, Magana,
Rebeca, Susana,
Pariste um gato
Debaixo da cama...
Surge como
inevitável a associação das expressões aqui há gato e sabe a rabo-de-gato com
esta quadra, mesmo que as suas origens possam ser outras... Se, entretanto,
considerarmos que a antiga judiaria de Chaves ainda não foi definitivamente
localizada e à tradição oral acrescentarmos um pouco de imaginação, veja-se
onde a Rua dos Gatos nos pode levar..."
Rua dos Gatos - Chaves
Fontes:
Texto Retirado na integra do
Blog “Por Terras de Sefarad”
chaves.blogs.sapo.pt
Imagens:
http://www.almanostra.com/shop/pt/brinquedos-tradicionais/256-rapa-.html
http://oychicago.com/blog.aspx?id=22084&blogid=142
Ler mais sobre a possível localização
da Judiaria de Chaves:
http://zivabdavid.blogspot.pt/2014/09/curiosidades-judaicas-chaves.html
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