ELIYAHU HA NAVI
Elias, o Profeta, 1927, Fritz Kredel (Haggadah Offenbach)
Este artigo, que é apenas um
pequeno apontamento sobre Elias, abre com uma ilustração que representa Elias,
o Profeta (Eliyahu ha Navi) na sua qualidade de mediador de paz. Refere-se à
passagem de Malaquias 3: 23-24 – “Eis que vos
mandarei o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Eterno. E ele
fará volver o coração dos pais (para o Eterno) através dos filhos, e o coração
dos filhos (para o Eterno) através dos pais, para que Eu não venha a desferir
sobre esta terra uma destruição completa.”
O
profeta Elias anuncia a chegada do Messias, Haggadah
de Veneza, 1609
O nome Eliyahu é composto pela palavra אלי (Eli, “meu D’us”), sendo as restantes letras יהו, o nome de D’us. No texto sagrado Elias é apresentado como um “Homem de
D’us”, recipiente de uma graça divina e dotado de poderes sobrenaturais, que realiza
milagres em várias ocasiões; alguns em lugares públicos, outros em ambientes
privados. Acima de tudo, Elias é um paradigma do mais puro zelo pela fé judaica.
Elias ocupa igualmente um lugar importante no Cristianismo e no
Islamismo.
Elijah meeting
Ahab and Jezebel in Naboth’s vineyard, 1876, Sir Francis Bernard Diksee
Elias, o Tesbita, de acordo com o “Livro
dos Reis” (Sefer Melachim – I Reis e
II Reis), foi um profeta da Terra de Israel (estava esta dividida em dois
reinos – o do norte – o reino de Israel, e o do sul – o Reino de Judá), que
viveu no século IX a. e. c., no reinado de Acab e da sua esposa fenícia, a rainha
Jezabel. Jezabel, determinada em erradicar o culto ao Senhor e em fazer da
adoração ao deus Baal a religião nacional de Israel, teve influência em Acab
que, evidenciando fraqueza de carácter, mergulhou o seu reino numa crise
espiritual profunda. Foi neste contexto que Elias e o seu discípulo Eliseu,
defenderam ousadamente a fé no D’us único.
Elias, convicto de que nenhum deus pagão
era superior ao D’us de Israel e dispondo apenas da oração e da fé em D’us como
armas para enfrentar o rei Acab e os 450 profetas de Baal, lutou corajosamente
para que os israelitas reconhecessem a sua apostasia e assim fossem
reconduzidos à fidelidade ao D’us de Israel. Já no Monte Carmelo podemos ouvir
o profeta:
«E
Elias dirigiu-se a todo o povo e disse: «Até quando ficareis saltitando entre
dois pensamentos? Se o Eterno é D’us, segui-O! Mas se é Baal, segui-o! – e o
povo não lhe respondeu nada. Então Elias disse ao povo: «Cá estou eu sozinho
como profeta do Eterno frente aos 450 profetas de Baal.»
I
Reis 18: 21-22
Elias e os profetas de Baal, 1545, Lucas Cranach, o Jovem
Numa atmosfera de grande
densidade dramática, Elias dirige uma prece a D’us, dizendo: «Ó Eterno, D’us de Abraão, de Isaac e de
Israel! Hoje será reconhecido que Tu és D’us e que eu sou Teu servo e que fiz
todas estas coisas conforme a Tua palavra. Responde-me, ó Eterno, responde-me,
para que este povo reconheça que só Tu, ó Eterno, és D’us, e assim Tu farás
voltar o seu coração desgovernado.»
I
Reis 18: 36-37
É precisamente este, o texto de uma das Árias mais famosas da Oratória
“Elijah, Op.70”, de Félix Mendelssohn, que o compositor alemão escreveu para o
Festival de Birmingham, Inglaterra, em 1846. Propomos a sua audição, na voz do
barítono Dietrich Fischer-Dieskau, no papel de Elias.
No.14: Aria (bass) ELIJAH: Lord God of
Abraham, Isaac and Israel, this day let it be known that Thou art God and I am
Thy servant. Lord God of Abraham, oh show to all this people that I have done
these things according to Thy word, oh hear me, Lord, and answer me. Lord God
of Abraham, Isaac and Israel, oh hear me and answer me, and show this people
that Thou art Lord God and let their hearts again be turned.
O episódio do Monte Carmelo
termina com o reconhecimento público do nome de D’us e a matança de todos os
sacerdotes de Baal, o que motiva a sanha vingativa de Jezabel. Elias é forçado
a fugir para o reino de Judá, para salvar a sua vida. Mas após ter caminhado um
dia no deserto, sem comida, nem bebida, cansado e fraco, senta-se à sombra de
uma árvore e, desmoralizado, pede a morte. É então visitado por um anjo, que o
conforta e lhe sacia a sede e a fome.
Mendelssohn utiliza neste episódio os três
primeiros versículos do Salmo 121, produzindo um coral memorável (a cappella), que ficará conhecido por
“Coro dos Anjos”. Vamos ouvi-lo, numa interpretação do coro de rapazes do
King’s College de Cambridge.
Salmo
121: 1-3 - Um Cântico de Ascensão. Ergo
meus olhos para o alto de onde virá meu auxílio. Meu socorro vem do Eterno, o
Criador dos céus e da terra. Ele não permitirá que resvale teu pé, pois jamais
se omite Aquele que te guarda.
No.28: Chorus ANGELS: Lift thine eyes to the mountains, whence cometh
help. Thy help cometh from the Lord, the Maker of heaven and esth. He hath said
thy foot shall not be moved; thy Keeper will never slumber.
O arrebatamento de Elias, Guiseppe Angeli (1712-1798)
“E
sucedeu que indo eles andando e falando, um carro de fogo, com cavalos de fogo,
os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. E Eliseu viu e
exclamou: «Meu pai, meu pai! Ó carros de Israel e seus cavaleiros!» - e não o
viu mais.”
II
Reis 2:11-12
Conforme se pode ler no texto bíblico,
Eliyahu ha Navi ao deixar o mundo dos vivos, não desaparece como um comum
mortal, mas sobe aos Céus numa carruagem de fogo.
Na piedade judaica, o profeta arrebatado
ao Céu vive no Paraíso, com os anjos, onde lhe é atribuída a responsabilidade
de escrivão celestial, escrevendo os nomes dos justos e as suas boas acções no simbólico
“Livro da Vida” (Sefer ha Chaim).
Eliyahu não é uma personagem do passado: está vivo e acompanha o longo
peregrinar de Israel, protegendo os judeus em cada geração; desce à terra em
socorro dos necessitados, para nos lembrar que temos direito à esperança na
justiça.
Sobre Vitebsk, 1913-1914, Marc Chaggal
Na pintura de Chaggal – Sobre Vitebsk (a cidade natal do pintor)
-, a imagem de Eliyahu emerge na figura do Judeu Errante, passando por uma majestosa
igreja russa e por um edifício vedado e encerrado (aparentemente uma sinagoga).
O artista expressa desta maneira a vulnerabilidade da condição dos judeus ao
tempo da sua infância, que como ele estavam na iminência de se tornarem
refugiados.
Fol.118v, Circuncisão
(detalhe), Miscelânea Rothschild, Itália, c.1450-1480
Mas Eliyahu não nos visita apenas em
tempos conturbados; está igualmente presente nas celebrações, observando de
perto as relações dos filhos de Israel com D’us. De acordo com a tradição
judaica, Eliyahu é o guardião de todas as crianças judias e acredita-se que
está presente em cada ritual de circuncisão – Brit Milah -, testemunhando a entrada de uma nova alma na Aliança
entre D’us e o povo de Israel.
A taça de Elias, 1935, Arthur Szyk
No Seder de Pessach, é
tradição reservar uma taça de vinho para Elias, a Kós Eliyahu, e deixar a porta aberta, para que o espírito do
profeta possa entrar. De acordo com a lenda, Eliyahu retira uma gota de vinho
de cada Seder no mundo,
engarrafando-o de seguida, para depois o distribuir aos judeus pobres que não podem
comprá-lo para os seus próprios Sidarim.
Havdalah (detalhe), Haggadah Kaufamn, Catalunha, séc. XIV
“Eliyahu ha Navi” é o título de
um hino que se canta nas cerimónias de Brit
Milah, do Seder de Pessach, mas também em Havdalah (separação), a cerimónia que é
celebrada após o Shabat, para dar
início à nova semana.
Eliyahu ha Navi simboliza um traço de
união entre gerações de judeus, através dos tempos.
Eliyahu ha Navi, Eliyahu
haTishbi/Eliyahu, Eliyahu, Eliyahu haGiladi/Bim-hera v’yameinu/Yavo eleinu/im
Mashiach ben David, im Mashiach ben David.
Elias,
o Profeta, Elias, o Tesbita, Elias, Elias, Elias, O Guiladita/Virá e
anunciará, virá e nos trará/O Messias, filho de David, o Messias, filho de
David.
Este magnífico artigo foi-nos oferecido pela nossa amiga
Sónia Craveiro,
Muito obrigada querida amiga
Beijinhos
Fontes:
Bíblia Hebraica, Editora & Livraria Sêfer Lda, São Paulo, Brasil
Belo artigo, e bela tradição de Elias no judaísmo.
ResponderEliminarMuito obrigada! :)
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